MANAUS – O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC) afirmou nesta quinta-feira, 5, que a a operação de reintegração de posse na invasão Monte Horebe, iniciada na segunda-feira, 2, foi uma ação social e não uma ação policial.
“Estamos no Monte Horebe e lá nós fizemos uma ação social, não foi uma ação policial. O que nós fizemos ali foi um negócio inédito, porque não foi feito um disparo sequer, não houve necessidade de lançar granadas, alguém viu alguma foto de alguém ferido? Não teve ninguém ferido”, disse Wilson.
O discurso foi durante abertura do Muda Manaus no bairro Monte das Oliveiras.
Wilson definiu a operação como ‘um ato de coragem’ pois, segundo ele, o local era uma ocupação do tráfico de drogas.
“O que os traficantes fizeram: Eles lotearam os terrenos, e aí aquelas pessoas que precisaram, eles começaram a extorquir, cobravam energia elétrica, cobravam pedágio para quem entrava e para quem saia, deixando vítima cidadãos que precisam de um espaço para morar, de um teto para morar, traficantes aliados a um bando de oportunistas. Nós entramos e vamos continuar lá no Monte Horebe, fazendo um trabalho social, e aí um pequeno punhado ficava cruzando os dedos, ficava torcendo para que desse errado, para que tivesse bomba, para que tivesse confusão, para que tivesse tiro, para que tivesse gente ferida, e nada disso aconteceu”, disse o governador.
Em quatro dias de ação, segundo o estado, 1.916 famílias do Monte Horebe foram atendidas pela equipe social. Desse total, 1.799 famílias assinaram o termo de acordo e formalizaram os acordos que asseguram o pagamento do auxílio-aluguel de R$ 600 até a adoção definitiva da solução de moradia.
De segunda-feira até esta quinta-feira, 100% da área total foi atendida pela selagem, que é a identificação da residência, para que a família receba o atendimento social. Levantamento realizado pela equipe da força-tarefa do Estado apontou 2.339 imóveis que possuem famílias. Mais de 1.000 imóveis foram demolidos por não ter qualquer pessoa residindo e 102 famílias receberam apoio de transporte para a mudança.
Empresas de famílias de políticos reivindicam terras
Duas construtoras de propriedade de famílias de políticos de grande expressão na região Norte reivindicam a posse de terrenos que somam 107,4 hectares de extensão do Monte Horebe.
O direito delas sobre as áreas invadidas foi reconhecido pela Justiça estadual, em decisões distintas de 2016 e de 2019, que determinou a reintegração, ao acatar pedidos das empresas. O ESTADO POLÍTICO teve acesso à íntegra dos dois processos.
A Construtora Capital, cujo o sócio majoritário é Pauderley Avelino, irmão do ex-deputado federal Pauderney Avelino, é dona de um trecho de 16 hectares. Pauderney foi nomeado em outubro de 2019 como representante do Governo do Estado em São Paulo.
Já o terreno da Construtora Amazônidas, de Eládio Messias Cameli, pai do governador do Acre, Gladson Cameli, possui 91,4 hectares.
Desde segunda-feira (2), o Monte Horebe passa por um processo de reintegração requerido pelo Estado, dono da maior parte das terras invadidas, por meio da Superintendência Estadual de Habitação (Suhab), e mediado pela Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM).
Alegando falta de segurança, o governo impôs restrições à cobertura da imprensa. A reportagem da Folha de São Paulo conseguiu furar o bloqueio, e divulgou informações de que houve uso de gás de pimenta contra um grupo de moradores.