MANAUS – O ex-deputado federal Francisco Praciano, 68, afirma que nas eleições municipais deste ano vai voltar a subir na Kombi para fazer campanha em Manaus. Praciano diz que não será candidato e que não cederá aos apelos de membros do PT. Para ele, o candidato do partido deve ser o deputado-federal José Ricardo Wendling.
Do Ceará, onde nasceu e mora atualmente, ele concedeu uma breve entrevista por telefone ao ESTADO POLÍTICO nesta segunda-feira (9).
“Nunca me afastei de Manaus, nem da política. O que eu não quero mais é cargo público. Vou continuar atuando, sendo um militante das causas e dos candidatos. Acho que o José Ricardo deve ser o candidato, é o mais sensato a se fazer”, sugere ele aos partidos de esquerda, ao citar PCdoB, Psol, PDT e PSB, como as siglas que ele acredita que o PT tem condições de fazer uma coalização com boas chances de vencer a eleição.
Até agora, além de José Ricardo, outros dois petistas manifestam intenção de disputar as prévias para a prefeitura pela sigla: Sassá da Construção, que já sinalizou que deve retirar a candidatura para apoiar José Ricardo, e Sinésio Campos, que formaliza sua chapa nesta terça-feira (10).
Vereador por quatro mandatos e deputado federal mais votado em duas eleições, Praciano diz que, caso José Ricardo seja eleito, quer ajudar na construção do governo com ideias, mas sem um cargo na administração.
Ele confirma que há um movimento informal dentro do partido de “Volta, Praciano”. No entanto, afirma que não vai mais disputar mandatos eletivos.
“Tem gente que quer que eu seja vice, ou vereador para puxar votos, mas desde 2018 eu não quero mais (disputar eleições)”, afirma ele. Naquele ano, o veterano foi preterido da candidatura do grupo ao Senado para dar lugar a Vanessa Grazziotin (PCdoB), que acabou não sendo reeleita. “Se eu disser que minha decisão de não sair mais candidato não tem a ver com isso, vou estar mentindo. Tem a ver sim. Mas, agora já passou. Temos que olhar para o futuro, só não quero mais me candidatar”, afirma.
Morando na Praia da Baleia, em Itapipoca (CE), desde 2015, ele diz que se sente um “exilado”, mas que está feliz morando no Nordeste e que nunca cortou relações com Manaus.
“Fiquei um tempo muito doente, com uma pneumonia que quase me leva. Depois me recuperei e desde 2018 voltei a participar ativamente das questões de Manaus, da vida partidária também”.
Ele diz esperar ajudar neste ano na eleição de quadros qualificados para o Parlamento municipal, onde ele tem uma longa história. “Temos o João Pedro e tantos outros”, cita.
“Está faltando qualidade no nosso Parlamento”, atesta. “Eu fui vereador em outro tempo. Éramos 21 naquela época. Fui vereador ao lado de figuras como Jefferson Peres, Vanessa Grazziotin e outros, todos grandes parlamentares. Hoje o que se vê nas câmaras é muito triste. As pessoas não elegem aqueles que realmente defendem seus interesses”.
“Tivemos recentemente um caso emblemático, o do vereador Waldemir José, que lutava todo dia para combater os problemas da cidade, fazia fiscalização de madrugada nos ônibus e… quando foi na eleição de 2016 não foi reeleito ” .
“Esse caso lembra até meu primeiro mandato. Foi assim. Fui eleito em 91. Eu, gerente de uma multinacional do Distrito, fui para Câmara com esse olhar, de checar, fiscalizar os números, e lá desbaratamos um esquema de desvio de um milhão de dólares por mês que culminou na extinção do Tribunal de Contas do Município e na cassação do então presidente da Câmara. E aí, o que aconteceu? Não fui reeleito. Todo mundo ficou surpreso ‘pô, o cara que combatia a corrupção não se reelegeu’. E aí, acho que até numa autocrítica, nas eleições seguintes ganhei com boas votações e dei seguimento à luta pelo transporte, à contra a venda da Cosama. Depois fui eleito deputado federal mais votado da capital e depois do Amazonas”, recorda.
Sobre o principal problema de Manaus hoje, Praciano diz que falta “gestão inteligente”. “Não há transparência com os gastos públicos. É uma cidade sem planejamento, sem indicadores sociais. Tem um plano diretor, mas que está só no papel mesmo”.
“Outro problema que temos é que o nível de consciência do cidadão, do eleitor é baixíssimo. Manaus é uma cidade ecumênica, multicultural, com pessoas vindas de muitas partes, que acabam não se integrando de fato, se sentindo participantes do processo político, tomando aquilo para si”, analisa.
Questionado sobre a influência da polarização nacional no processo eleitoral municipal, ele propõe que os candidatos devem se voltar para as temáticas locais, mas sem deixar de olhar para 2022.
“O candidato tem que procurar resolver os problemas da cidade, mas pensar no futuro. Precisamos fazer uma grande coalizão contra esse fascismo que está se instalando”.
“O que estamos perdendo é a guerra da comunicação. Acho que esse é o momento do partido voltar à base, ir para a rua, ouvir o trabalhador, como foi na fundação lá em 1980”.
Por fim, Praciano diz que permanece no PT e faz considerações sobre a conjuntura brasileira atual.
“Não deixei e nem pretendo deixar o Partido dos Trabalhadores. O PT gosta de pobre, luta pelos menos favorecidos. Acho que o PT cabe em mim e estou bem nele. O que eu acho é que o partido precisa fazer uma crítica daquilo que não fez. O PT deu acesso a casa, energia e a comida aos trabalhadores, mas não promoveu a consciência ao povo, para ele compreender que aquilo é fruto de luta e políticas públicas. O PT promoveu conquistas que infelizmente estamos perdendo. Demos um passo e hoje, com o governo Bolsonaro, estamos recuando dois. Desde o Impeachment, perdemos o petróleo, a Embraer, Braskem. Quem está ganhando com tudo isso são os colonizadores. Estados Unidos e a Inglaterra, que fez o que fez com a África […] Eles estão lucrando”.
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