MANAUS – Após a divisão da base governista, o vereador da CMM (Câmara Municipal de Manaus), Marcel Alexandre (Avante), subiu à tribuna da Casa Legislativa na sessão plenária de segunda-feira, 13, carregando uma bandeira branca em pedido de “paz”.
“Essa Casa é a caixa de ressonância de nossa sociedade, e eles esperam que tenhamos equilíbrio e espírito de justiça, sobretudo, neste tempo de crise da seca que estamos enfrentando. Paz neste plenário, paz nos argumentos, paz palavra e naquilo que invade o nosso lar. Paz para Manaus, Paz para o Amazonas, Paz nos gabinetes. Nós precisamos de paz e podemos governar com paz”, disse Marcel.
O pedido de Marcel, que é aliado do prefeito David Almeida, ocorre após a Casa Legislativa ter rejeitado um pedido de empréstimo de R$ 600 milhões feito pelo chefe do Executivo Municipal. A votação, realizada na sessão do dia 8, chegou a ficar empatada em 19 a 19, e o presidente da CMM, Caio André (Podemos), desempatou, com um voto contrário à autorização para o empréstimo, fechando o placar em 20 a 19.
O desfecho da votação apontou para um enfraquecimento da base do prefeito no Legislativo a menos de um ano das eleições de 2024, quando David tentará a reeleição. Apenas dois vereadores faltaram a votação. Marcel foi um deles. O outro foi João Carlos.
“Eu peço da parte do prefeito (David Almeida) e dos secretários, paz para todos, ainda que tenhamos de enfrentar temas difíceis com opiniões diferentes. Todos vieram aqui e pautaram seus posicionamentos na questão do empréstimo, mas isso não pode roubar nossa paz. (…) somos mensageiros da paz; somos cristãos e aqui ninguém nega a sua essência cristão, e quem não é ou assume, respeita profundamente. E não podemos destoar no exercício de nosso mandato o espírito da paz e da harmonia”, finalizou Marcel.
Bloqueio de conta
No mesmo dia em que o pedido de empréstimo foi derrubado, a Prefeitura de Manaus bloqueou o sistema financeiro da Casa Legislativa. Segundo Caio André, o Executivo Municipal, por meio da Semef, bloqueou R$ 4,2 milhões da Casa Legislativa por meio do AFIM (Sistema de Administração Financeira Integrada Municipal).
Também na sessão desta segunda, Caio André disse que não quer crer que o bloqueio financeiro de 23h feito pela Prefeitura de Manaus nas finanças da CMM, tenha sido uma rataliação à recusa de 20 vereadores em aprovar o empréstimo para David.
No contexto desta suspeita, Caio anunciou que apresentará um requerimento para que o secretário de Finanças, Clécio Freire, vá à CMM explicar os motivos do bloqueio, que ele considerou ilegal, por atentar contra a automia do Poder Legislativo.
Para Caio André, se a medida foi uma retaliação, “está claramente declarada guerra à democracia”.
Exposição em outdoor
O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), prometeu exposição em outdoor e promover acampamentos populares aos arredores da Câmara Municipal de Manaus (CMM) se os vereadores não aprovarem o empréstimo de R$ 600 milhões que a prefeitura tenta viabilizar junto ao Banco do Brasil.
Na quinta-feira (9), David comentou o assunto, dizendo que a decisão dos vereadores prejudica a população, à medida que inviabiliza a execução de importantes obras e serviços na cidade, como recapeamento de 2 mil ruas e desassoreamento de 12 igarapés.
Com um discurso um tom acima, na sexta-feira (10), o prefeito afirmou que vai trabalhar para expor negativamente a imagem dos vereadores que estão fazendo oposição ao empréstimo.
Em um discurso de 10 minutos, em um evento na zona Centro-Sul da cidade, David disse que uma das maneiras de pressionar os vereadores pela aprovação do empréstimo vai ser promover acampamentos de populares na CMM. O prefeito afirmou que reenviará a matéria para o parlamento na próxima semana.
“Os caras [vereadores] estão na rede social todo dia: ‘manda ajeitar essa rua’. Aí eu vou lá e digo: vamos fazer o seguinte, preciso de dinheiro. Aí eles dizem: ‘não, você não vai colocar o asfalto’. Aí fica falando da rua que está com buraco. Quatro UBS porte 4. Eles disseram: ‘não, não vamos construir’. Quatro creches [deixarão de ser construídas sem o empréstimo]. Eu vou mandar as mães de 1,2 mil crianças que iam para essas creches acampar lá na frente da Câmara Municipal, para eles aprovarem a creche”, afirmou.
“Se no diálogo não funcionar – eu vou buscar o diálogo. Nós vamos fazer pressão. Nós vamos fazer acampamento. Porque com o povo ninguém brinca. Ninguém vai maltratar o povo da cidade de Manaus”, completou.
Em caso de uma nova negativa da CMM, o prefeito afirmou que irá para a rua todo dia dizer para a população que os serviços não chegam à ela por culpa dos vereadores.
“Se não aprovaram o empréstimo, eu vou estar na rua todo dia. Agora não vai ser eles. ‘Olha, queria asfaltar sua rua. Mas o vereador tal, a vereadora tal, disseram que você precisa ficar no barro e na lama’. É isso que eu vou fazer. Eu já tentei o diálogo. Vocês sabem o que eu tenho passado. Calado. Acabou. O tempo de ficar calado passou”, declarou.
O prefeito classificou sua reação como uma forma de “conscientizar o povo” sobre os “maus políticos”.
“E eu vou trabalhar justamente para consciencializar o povo e afastar os maus políticos da vida pública da cidade de Manaus”, disse.
Eleições 2024
O pano de fundo da negativa dos vereadores ao empréstimo é a eleição de 2024, com os grupos políticos reacomodando-se, inclusive para disputar a cadeira de David.
A oposição de 20 dos 41 vereadores ao empréstimo de R$ 600 milhões revelou o tamanho do movimento dos grupos de oposição a David dentro da CMM a um ano das eleições.
David disse nesta sexta-feira que os vereadores que votaram contra o empréstimo já não estavam com ele. “Não estavam comigo, não estão e não estarão. E eu não quero nenhum deles perto de mim, porque quem trata mal o povo, não merece a consideração do povo”, declarou.