Da Redação |
O ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT), disse na última terça-feira (5) que a Venezuela tem poderio militar superior ao do Brasil, inclusive com mísseis que podem alcançar Manaus.
Em vídeo publicado em suas redes sociais, Ciro contextualizou os interesses envolvidos na decisão de Nicólas Maduro em transformar o território de Essequibo em um estado da Venezuela. A região pertence oficialmente à Guiana desde 1899, mas é reivindicada pela nação vizinha.
Segundo Ciro, a única forma da Venezuela ocupar Essequibo é passando por território brasileiro, no Amazonas.
Diante disso, Ciro disse que é preciso que o governo brasileiro deixe claro que não aceitaria essa ação. No entanto, completou ele, em um caso extremo, que acabe pelo enfrentamento das forças armadas dos dois países, o Brasil levaria a pior.
“Lamento muito dizer. Vivo falando sobre isso. Hoje a Venezuela está muito melhor apetrechada, muito melhor equipada, muito mais modernamente estruturada para um conflito bélico do que as forças armadas brasileiras na região [do Amazonas]. […] Porque a Venezuela, para superar o isolamento, esse antagonismo violento dos americanos, acertou-se com os chineses e com os russos. Estão lá dentro da Venezuela consultores, equipamentos sofisticados, inclusive, mísseis que podem alcançar Manaus”, declarou Ciro.
Consulta
No último domingo (3), os eleitores venezuelanos aprovaram, em referendo, a transformação do território de Essequibo em um estado da Venezuela.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, 10,5 milhões de eleitores participaram do referendo, dos quais 95,93% aceitaram incorporar oficialmente Essequibo ao mapa do país e conceder cidadania e documento de identidade aos mais de 120 mil guianenses que vivem no território. Apenas 4,07% discordaram da proposta.
Essa foi a última das cinco perguntas feitas pelo referendo nacional. Nenhuma delas, segundo o CNE, teve menos de 95% de aprovação, de acordo com o conselho.
A primeira pergunta, sobre rechaçar, por todos os meios legais, a atual fronteira entre os dois países, teve 97,83% de aprovação. A segunda, sobre reconhecer o Acordo de Genebra, de 1966, como único instrumento para resolver a controvérsia, recebeu apoio de 98,11%.
A terceira, sobre não reconhecer a jurisdição da Corte Internacional de Justiça, em Haia, como definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), para resolver a questão, foi a que teve menos aprovação: 95,4%.
Na quarta pergunta, sobre opor-se, por todos os meios legais, ao uso dos recursos do mar pela Guiana enquanto a questão da fronteira não for definitivamente resolvida, recebeu o “sim” de 95,94%.
“Foi uma grande jornada eleitoral histórica de consulta, que coroa uma vitória esplendorosa com cinco respostas contundentes do povo nobre que reafirma que a Guiana Essequiba é da Venezuela. Sim pela paz, sim pelo respeito à soberania, sim ao diálogo, sim à nossa luta histórica e sim à pátria independente”, escreveu o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em suas redes sociais.
A Guiana considera o referendo “provocativo, ilegal, inválido e sem efeito legal internacional” e afirma que não tem dúvidas sobre a validade do Laudo Arbitral de 1899, que estabeleceu a atual fronteira entre os dois países.
Posição do Brasil
Um dia após o referendo, a secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixadora Gisela Padovan, declarou que a questão é assunto interno da Venezuela.
A declaração foi dada após a abertura da Cúpula Social do Mercosul, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
“É um assunto interno da Venezuela, tanto que a própria Corte Internacional de Justiça [CIJ] não se pronunciou só sobre o plebiscito. Se pronunciou sobre qualquer medida que altere a atual situação”, disse Gisela Padovan, referindo-se a uma decisão da corte na última sexta-feira (1º), quando determinou que a Venezuela se abstivesse de qualquer ação com o intuito de anexar parte do território da Guiana.