MANAUS – O presidente municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) em Manaus, Valdemir Santana, criticou a decisão do Diretório Nacional da sigla pela candidatura do deputado federal José Ricardo para a prefeitura da capital à revelia da decisão do Diretório Municipal, que, num processo conturbado, havia escolhido o deputado estadual Sinésio Campos para o posto.
Ao ESTADO POLÍTICO, o dirigente declarou na noite desta segunda-feira (15) que as prévias que elegeram Sinésio como o representante do partido na candidatura majoritária do pleito municipal ocorreram dentro da legalidade e do processo democrático.
Valdemir ressaltou que não foi constatada irregularidade na disputa interna em Manaus e que a decisão pela candidatura de José Ricardo foi uma imposição vinda de cima. Ele disse não sabe ao certo o que representa a decisão do Diretório Nacional, se há ou não uma intervenção no Diretório Municipal.
O petista também criticou a postura de José Ricardo, por não ter aceitado a derrota na disputa com Sinésio.
“O recurso do pessoal do Zé não foi acatado (na reunião virtual desta segunda-feira). Não foi deferido. Então, o que a direção municipal fez está dentro do estatuto do partido, foi legal. Se a gente tivesse feito alguma coisa errada, eles teriam deferido a favor do companheiro Zé Ricardo. Então, eles estão errados no recurso deles, nós não”, disse.
Valdemir disse que a direção local estava ciente de que foi decidido nacionalmente que nas cidades com mais de 100 mil eleitores a escolha da candidatura seria feita pela direção nacional, mas que, apesar disso, foi autorizada a realização das prévias.
“E o Sinésio ganhou. Não satisfeito, ele (José Ricardo) entrou com recurso, só que o recurso não foi acatado”, declarou. “Então, a direção municipal e estadual estão corretas. O que o PT resolveu lá (na reunião do Diretório Nacional) foi uma questão política”, acrescentou.
Valdemir sugere que, em Brasília, José Ricardo ampliou sua capacidade de articulação e arregimentou os votos que precisava para conquistar, via direção nacional, o posto de candidato a prefeito, mesmo com a decisão local pela candidatura de Sinésio.
“Ele é mais conhecido que o Sinésio, então o pessoal optou pelo Zé Ricardo”, disse. “Ele fez lobby para ser candidato”, completou.
“A pergunta que eu fiz no encontro foi se tinha sido feito intervenção em Manaus. Se tem intervenção em Manaus, eu não sei. Até agora eu não vi os documentos”, afirmou o presidente municipal do PT. Segundo ele, se a escolha por José Ricardo indicar também uma intervenção no Diretório Municipal o partido deve enviar cinco interventores nos próximos dias.
“Se não é intervenção, vamos ver como nós vamos fazer a companha. Porque não são os companheiros do Zé Ricardo lá em Brasília que vão votar nele não. Eles votam na cidade deles. Eu sou contra a intervenção. Eu discordo nesse processo todo. Se houve intervenção na direção municipal, eu não sou mais o presidente”, disse.
Valdemir disse que é contra a recorrente ingerência das instâncias máximas do partido nas questões locais. “Se eu tiver amizades no Diretório Nacional, eu vou ganhar sempre. Então, para que fazer reunião local? Reunir dois dias para quê? Para quê fazer a gente de bobo? Ninguém aqui é criança”, disparou.
“Eu sou contra intervenção, autoritarismo, por isso que eu sou contra Bolsonaro, por isso que eu sou contra a ditadura. Eu não aceito que nenhum candidato seja interventor aqui, nem Zé Ricardo nem ninguém”, falou, em tom mais incisivo.
“Essa história eu conheço há 20 anos, de nós aprovarmos as coisas aqui em Manaus e a direção do PT nacional desfazer o que tinha sido aprovado e deu no que deu. Eu sou contra intervenção”, disse.
Valdemir sugeriu que, se tivesse discutido internamente, José Ricardo poderia ter convencido Sinésio de abrir mão da candidatura em prol dele.
“O seu Zé Ricardo tem que ter a humildade de saber perder. Ele poderia muito bem ter ido lá na direção municipal dizer para o Sinésio que hoje ele é melhor que o Sinésio popularmente, conversar e não fazer intervenção em Manaus. Eu não aceito intervenção”, declarou.
O dirigente municipal disse que José Ricardo tem que “respeitar a história do partido”.
Valdemir declarou que “ainda vai cair muita água, como cai aqui no nosso Estado”. “Um pingo de água não enche um copo”, disse, sugerindo novos embates.
Enquanto isso, ele disse que aguarda a notificação oficial do partido sobre a decisão desta segunda-feira.
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