MANAUS – O ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou nesta quinta-feira (14) que o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) realize imediatamente eleições suplementares em Coari.
O magistrado atendeu a um pedido da coligação “Ficha Limpa por Coari”, de Robson Tiradentes (candidato do PSC que ficou em 2º lugar em 2020), que solicitava um pronunciamento da Corte a respeito da decisão que cassou o registro de candidatura do candidato vencedor, Adail Filho (PP).
Horbach determinou a realização imediata do pleito suplementar, “independentemente de publicação do acórdão, observado o calendário de realização de eleições suplementares disposto na Portaria nº 875, de 6 de dezembro de 2020, do TSE”.
As próximas datas disponíveis, conforme a portaria, são 7 de novembro e 5 de dezembro. No entanto, apenas a data de dezembro é compatível com o cumprimento dos prazos, assim sendo a campanha começaria já na próxima semana.
Devem disputar o pleito Keitton Pinheiro, primo de Adail Filho, e Robson Tiradentes.
A chapa de Adail Filho foi cassada em definitivo pela Justiça Eleitoral no último dia 7. O Judiciário, em suas três instâncias, considerou que o novo mandato seria o terceiro consecutivo dentro de um mesmo núcleo familiar (Adail pai foi eleito em 2012 – e cassado posteriormente, Adail Filho foi eleito em 2016 e reeleito em 2020), o que é proibido.
Numa possível manobra para tentar evitar a cassação, Adail Filho renunciou ao restante do primeiro mandato logo após as eleições de 2020 alegando necessidade de se tratar da Covid-19. No pleito ele recebeu 22.220 votos (59,45%) contra 8.871 votos (23,74%) de Robson Tirandentes.
Primo de Adailzinho, Keitton foi eleito vice em 2020. Como não é parente dos dois em primeiro grau, poderá concorrer mesmo sendo da família. Ele foi lançado pré-candidato por Adail Filho na semana passada.
A ação que resultou na cassação de Adail Filho foi movida pela coligação “Ficha Limpa por Coari”, Robson Tiradentes e Raione Cabral.
Desde o afastamento de Adail, a cidade vem sendo gerida interinamente pela presidente da Câmara de Vereadores, Dulce Menezes (MDB). Curiosamente, ela é tia de Adail Filho.
Histórico
Pai do prefeito reeleito em 2020 e cassado em 2021, Adail Pinheiro foi prefeito de Coari por dois mandatos consecutivos, entre 2001 e 2008. Sua passagem pelo município mais rico do interior do Amazonas (por conta dos royalties da exploração de gás em Urucu) foi turbulenta. Após investigações da Polícia Federal, no âmbito da operação Vorax, em 2006, ele foi denunciado e condenado por crimes de corrupção e também por exploração sexual de crianças e adolescentes.
Apesar disso, conseguiu um terceiro mandato em 2012. Mas foi cassado em 2014. Adail passou quase três anos preso em Manaus por causa de uma condenação ocorrida em 2014 na Justiça Estadual por crimes sexuais contra menores, e depois ganhou direito ao regime semiaberto. Em 2018, ele voltou a ser preso, em processo que tramita na Justiça Federal envolvendo corrupção, mas ganhou o direito de recorrer em liberdade.
Em fevereiro de 2020, Adail Pinheiro voltou a Coari, onde participou de uma série de inaugurações da prefeitura e fez um discurso celebrando o seu retorno.
Apesar do histórico controverso, o clã mantém alta popularidade no município. E consegue arregimentar apoio amplo de vários caciques políticos.
Adail Filho foi eleito pela primeira vez prefeito em 2016, tendo a irmã, Mayara Pinheiro (PP), como vice. Em 2018, Mayara se elegeu deputada estadual.
Em 2019, Adail Filho foi preso na operação Patrinus, do Gaeco/MP-AM (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público do Amazonas). Ele foi acusado de chefiar uma organização criminosa que teria desviado R$ 100 milhões em recursos públicos por meio de contratações fraudulentas.