RIO DE JANEIRO (Reuters) – A transferência de pacientes de Covid-19 de Manaus para outros Estados brasileiros devido ao colapso do sistema de saúde da capital do Amazonas tem o risco de levar a nova variante amazônica do coronavírus para diferentes pontos do país, mas é a única saída diante do colapso no atendimento na cidade, afirmou nesta sexta-feira um pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Amazônia.
A rede de saúde de Manaus enfrenta uma escassez de oxigênio em razão da elevada demanda decorrente de uma severa segunda onda da Covid-19, e pacientes têm morrido sufocados dentro dos hospitais. Uma das causas da alta de casos na cidade é uma nova variante amazônica do coronavírus descoberta pela Fiocruz Amazônia este mês.
Aviões da Força Aérea Brasileira iniciaram na véspera a transferência de pacientes de Manaus para outros Estados com o objetivo de salvar vidas e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde amazonense. Nesta sexta-feira, o governo do Amazonas chegou a pedir aos demais Estados que recebessem 61 bebês recém-nascidos por causa do desabastecimento de oxigênio, mas o Ministério da Saúde informou posteriormente que conseguiu suprimento suficiente para ao menos mais 48 horas.
As transferências de pacientes podem acabar levando a nova variante amazônica, que provavelmente é mais transmissível do que outras, a se espalhar por demais pontos do país, disse o pesquisador da Fiocruz Amazônia José Cortés, alertando que os hospitais precisam estar preparados para evitar o contágio.
“Com certeza que pode haver um risco, como o risco de qualquer outra doença. Os hospitais receptores têm que garantir as condições de biossegurança não só para as pessoas que vão estar em contato direto, como também para as pessoas que serão transferidas”, disse ele à Reuters.
Apesar dos riscos, o pesquisador defendeu que os pacientes sejam transferidos diante da situação crítica no Amazonas, que, segundo autoridades estaduais, enfrenta seu pior momento desde o início da pandemia.
“Ou você deixa a pessoa morrer porque não tem oxigênio para administrar, ou você arranja segurança no ambiente para onde vai ser transportada para ser atendida. É difícil falar disso, mas estamos em um momento crítico, então o primordial é assegurar a vida dessas pessoas”, afirmou.
Segundo o pesquisador, “há uma possibilidade grande” de que nova variante amazônica do coronavírus seja mais transmissível, uma vez que carrega mutações genéticas que já foram identificadas nas variantes do Reino Unido e da África do Sul, que têm estudos que apontam sua maior transmissibilidade.
Cortés alertou que a situação em Manaus pode ficar ainda mais complicada nos próximos dias e semanas caso a nova variante tenha se espalhado para demais pontos do Amazonas, uma vez que só a capital possui leitos de terapia intensiva e pode receber um fluxo grande de pacientes do interior.
“Depois de um ano de promessas de leitos nos diferentes polos do Estado, ainda temos leitos só em Manaus. Toda essa carga de pessoas chega agora. O agravamento da situação provavelmente não vai ser pela população de Manaus, vai ser pela população do interior que vai começar a vir para cá”, disse.
“Já estamos vendo tendência de aumento de casos nas regionais de saúde que estão perto de Manaus. Possivelmente vai ser reduzido pelos decretos de redução de mobilidade, mas a gente não sabe até onde a variante chegou, se conseguiu se espalhar pelo Estado.”