Da Redação |
O Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM) determinou na quarta-feira, 29, a prisão de Luciane Barbosa Farias, conhecida como “dama do tráfico amazonense”, e de Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, líder da facção criminosa Comando Vermelho (CV).
A decisão judicial ordena que ambos cumpram imediatamente suas penas em regime fechado.
Luciane, que se reuniu com secretários e assessores do Ministério da Justiça (MJ) em 2023, foi condenada a 10 anos de prisão por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Já Clemilson, considerado o “criminoso número 1” na lista de procurados pela polícia do Amazonas, recebeu sentença de 31 anos e sete meses pelos mesmos crimes. Os dois são casados há 13 anos.
A decisão é da juíza de Direito Rosália Guimarães Sarmento. O processo já transitou em julgado, com condenação dos réus. Isto significa que não cabem mais recursos e a sentença condenatória é definitiva.
Visitas a autoridades federais
O caso ganhou destaque após uma série de reportagens do jornal Estadão revelar que Luciane esteve em Brasília pelo menos três vezes em 2023: em março, maio e novembro. Durante essas visitas, ela se encontrou com autoridades do Ministério da Justiça, incluindo o secretário de Assuntos Legislativos, Elias Vaz, e o titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), Rafael Velasco Brandani.
Luciane se apresentou como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), uma organização criada em 2022 que, segundo a Polícia Civil do Amazonas, atua em prol de detentos ligados ao Comando Vermelho e é financiada com recursos do tráfico de drogas. A ILA se autodenomina uma ONG dedicada à defesa dos direitos dos presos.
Em uma postagem no Instagram, Luciane afirmou ter levado a autoridades do Ministério da Justiça denúncias sobre “revistas vexatórias” no sistema prisional amazonense e apresentado um dossiê sobre supostas violações de direitos humanos cometidas por empresas que atuam nas prisões do estado.
O Ministério da Justiça, em nota enviada ao Estadão, afirmou que era “impossível” detectar previamente a presença de Luciane nos encontros. A defesa de Luciane, por sua vez, alega que ela está sendo “criminalizada” por ser casada com um presidiário.
Atuação criminosa
De acordo com as investigações, Luciane atuava como “braço financeiro” de Clemilson, lavando dinheiro obtido por meio do tráfico de drogas. O Ministério Público do Amazonas a caracterizou como “comparsa” de “Tio Patinhas”, destacando seu papel na aquisição de veículos de luxo, imóveis e na criação de “empresas laranjas” para ocultar valores ilícitos.
Em novembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou por unanimidade um recurso apresentado por Luciane e Clemilson, que alegavam erro no cálculo para recorrer da condenação em segunda instância pelo TJAM. A decisão do STF manteve as sentenças impostas ao casal.
O caso continua a gerar repercussão, especialmente pelas conexões de Luciane com autoridades federais e pela atuação da ILA, que, segundo investigações, serve como fachada para atividades criminosas. A polícia e o Ministério Público seguem monitorando as operações do Comando Vermelho no Amazonas, enquanto a sociedade aguarda novos desdobramentos.