MANAUS – Uma série de reuniões realizadas em maio deste ano pelo vice-governador Carlos Almeida Filho em um escritório de advocacia com representantes do alto escalão do governo e políticos locais foi um dos motivos que levaram ele a ser investigado pela operação Sangria, cuja segunda fase foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8), com o cumprimento de mandados de busca e apreensão junto ao número dois do Governo do Amazonas, além da prisão de outros cinco investigados.
De acordo com PF, nos encontros ocorridos no escritório de advocacia do filho de um empresário com contratos milionários com o Estado, os participantes chegavam e saíam do local portando volumes, como bolsas e malas, enquanto a mídia informava que Carlos Almeida teria recebido dinheiro em espécie no local.
A operação investiga suposto superfaturamento na compra de respiradores no pico da pandemia em Manaus e sugere que o esquema seria maior, envolvendo outras aquisições na pandemia.
Segundo a Polícia Federal, o vice-governador tinha ciência da compra dos ventiladores mecânicos, ocorrida em abril. A informação foi dada pela PF à Justiça, por meio da representação apresentada pela subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo e acatada por Francisco Falcão, decisão a qual o ESTADO POLÍTICO teve acesso na íntegra.
O documento cita que, após divulgação na mídia local da informação de que Almeida teria recebido dinheiro em espécie em um edifício da capital, em 20 de maio, a PF realizou diligências, quando constatou que entre os dias 18 a 20, e 30 de maio o vice-governador esteve nas salas onde funcionam o escritório de advocacia de Rafael Moreira Furtado Queiroz. O advogado é filho de Júlio César de Queiroz, proprietário da empresa Queiroz Serviços e Gestão Ltda, que possuiu diversos contratos com o governo, muitos na área de saúde, que recebeu mais de R$ 27 milhões no período investigado.
As salas, segundo a PF, serviram de ponto de encontro e reuniões de Carlos Almeida com funcionários do alto escalão do governo e outras pessoas ligadas à política local, “sem razões aparentes e, no mínimo, suspeitas, na medida em que, a princípio, a o estabelecimento da Vice-governadoria fica na sede do Governo do Amazonas, situada em outro local”.
No dia 30 de maio, Almeida se reuniu no escritório com João Paulo Marques (preso na primeira fase da operação). Também compareceram à reunião o então coordenador da Unidade de Gestão Integrada da Casa Civil, Rodrigo Cavalcante dos Santos, e o titular da pasta à época, Lourenço dos Santos Pereira Braga.
No dia 20 de maio, o vice-governador esteve no local com a deputada Alessandra Campêlo (MDB). A PF lembra que, após essa reunião, ela foi escolhida presidente da Comissão Especial do Impeachment de Carlos Almeida e do governador Wilson Lima (PSC), cujas denúncias acabariam sendo arquivadas em agosto, com voto de Alessandra pelo arquivamento. O órgão lembra que, depois do encontro, um primo de Alessandra, Marcellus Campêlo, acabou sendo nomeado na Secretaria de Estado da Saúde (antiga Susam, hoje SES-AM). Marcellus foi interino e agora é titular da pasta.
A federal também registra que no mesmo dia do encontro com Alessandra, Carlos Almeida teve um encontro com um membro do conselho fiscal da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) no local.
Voltando dois dias no calendário, a PF relata um encontro de Carlos Almeida com a chefe do gabinete de Wilson Lima, Lúcia Carla Gama.
Na representação, a subprocuradora-geral Lindôria Araújo diz que “causa estranheza” o fato do vice-governador “não se valer dos edifícios oficiais para esses encontros”.
“Fato é que as apurações levadas a efeito pela Polícia Federal e que materializadas na informação n. 183/2020 lançam ainda mais dúvidas sobre os propósitos das reuniões realizadas por CARLOS ALMEIDA FILHO no escritório de advocacia em referência, ranto (SIC) pelas pessoas envolvidas quanto pelas circunstâncias em que os encontros ocorreram, especialmente pelo fato de sempre se ter registrado a presença de participantes bolsas, maletas ou mochilas, bem como lancheiras e vasilhames, algo deveras inusual”, escreveu Lindôra.