Por Lúcio Pinheiro |
O secretário municipal de Segurança Pública da Prefeitura de Manaus, Sérgio Fontes, disse nesta quinta-feira (27) que o relatório que aponta uma relação entre o prefeito David Almeida (Avante) e membros de uma organização criminosa, nas eleições de 2020, foi produzido pela Secretaria de Inteligência do Estado do Amazonas (Seai) quando o órgão estava “tomado por uma organização criminosa”.
Em coletiva na sede da prefeitura, na manhã desta quinta, Fontes afirmou que o documento de 63 páginas é oficial, mas as informações que indicam relação entre David e seu vice Marcos Rotta (Progressistas) com membros do Comando Vermelho são falsas. O secretário e o procurador do município Ivson Coelho disseram que pediram informações ao Governo do Amazonas para identificar quem atuou na investigação que resultou na produção do relatório.
“Ele [documento] é formalmente verdadeiro, porque foi produzido na Seai, mas é só isso. Ele só é formalmente verdadeiro, ele é ilegítimo na sua essência, e é isso que a gente quer colocar”, afirmou o secretário municipal de Segurança. Ele informou que até hoje não se tem notícia de nenhuma investigação que se tenha resultado das informações contidas no relatório. “Veio do nada e foi pro nada”, completou Fontes.
“Infelizmente, a Seai, na época que o relatório foi elaborado, estava tomada por uma organização criminosa, que foi desbaratada pelo Ministério Púbico na operação ‘Garimpo Urbano’, o seu secretário executivo foi preso, e outros 5 policiais foram presos nessa mesma operação. A Seai, infelizmente, estava sendo utilizada como uma ferramenta para cometer crimes”, acrescentou o secretário municipal de Segurança.
Depois da operação, a gestão do governador Wilson Lima (UB) transferiu o aparelho de escuta telefônica usado pela polícia, que fica na Seai, para a Delegacia Geral. E demitiu Samir Freire, o secretário de inteligência preso no caso.
O caso
No dia 22 de outubro, o site Metrópoles publicou uma reportagem apontando uma suposta relação, nas Eleições de 2020, entre a campanha de David e Rotta e integrantes do Comando Vermelho.
A reportagem se baseia em um relatório produzido pela Seai, da Secretaria de Estado de Segurança do Amazonas (SSP-AM), obtido pelo site.
O objetivo da investigação era apurar a atuação de membros da facção criminosa na capital do Amazonas. No entanto, ao apreender o telefone de um dos investigados e acessar o conteúdo do aparelho, foi possível obter as informações relacionas às eleições. Isso é o que diz o relatório.
32 inconsistências
Na coletiva, Fontes afirmou também que sua equipe encontrou 32 inconsistências no documento, o que indica que a peça de investigação foi produzida apenas com o interesse de atingir politicamente o prefeito.
Segundo o secretário, que é delegado federal, o relatório, na verdade, é chamado por quem atua em investigação de RELINT (Relatório de Inteligência). No entanto, não sustentaria nenhuma veracidade dos fatos narrados e está repleto de falhas técnicas.
“Por enquanto temos, só, 32 inconsistências, que invalidam totalmente esse RELINT como documento legítimo”, afirmou Fontes.
Uma das inconsistências apontadas é a ausência de assinatura do autor do RELINT. Essa é uma informação que o secretário afirmou que foi pedida do Governo do Estado. O pedido foi encaminhado na quarta-feira (26). Desde que o assunto foi divulgado na imprensa, a Seai não se manifestou sobre o assunto.
Segundo Fontes, o relatório divulgado para a imprensa foi encaminhado também pela Seai ao Ministério Público do Estado (MP-AM). O secretário informou que também encaminhou um pedido ao MP-AM, na quarta-feira, requerendo informações que possam identificar quem atuou no caso dentro da Seai.
“Ontem mesmo nós pedimos o acesso tanto para a Seai quanto par ao Ministério Público, inclusive pedindo apuração de quem tem acesso a esse documento e quem possivelmente vazou para a imprensa”, disse o procurador do município.
Fontes ressaltou que o relatório foi encaminhado ao MP-AM uma semana antes da polícia prender o ex-secretário de Inteligência Samir Freire e outros policiais civis. Os funcionários públicos foram acusados na operação “Garimpo Urbano” de usar a estrutura da Seai para extorquir criminosos que atuavam na extração ilegal de ouro no Amazonas.
Apesar de não ter como provar ligação direta entre esses servidores e o relatório que cita David e Rotta, Fontes disse ser importante entender que o documento foi produzido nesse contexto – quanto delegado e policiais usavam o aparato do Estado, na Seai, “para extorquir pessoas”.
David e Rotta
O relatório vem acompanhado de um áudio onde, supostamente, há uma conversa entre David e um criminoso identificado como Alex. Nele, segundo a interpretação do documento da Seai, o prefeito, na época candidato, explica porque as obras de um poço, prometida por ele em troca de votos, ainda não teria iniciado.
O áudio foi tocado durante a coletiva. Fontes afirmou que está sendo realizada uma perícia para comprovar que não se trata de David.
A coletiva foi convocada pela prefeitura. David e Rotta fizeram um pronunciamento sobre o assunto, onde negaram as acusações. Os dois se retiraram do auditório da prefeitura sem responder perguntas da imprensa.
“É algo tão absurdo. O dossiê é tão autêntico como uma nota de 300 [reais]. E pessoas se utilizando disse para denegrir, difamar, para auferir dividendos políticos sobre algo que não tem consistência nenhuma”, disse o prefeito. David prometeu processar quem divulgou o documento.
“Queria primeiro pedir desculpa da cidade de Manaus por estarmos ocupando o precioso tempo, porque nós poderíamos estar nas ruas agora levando benfeitorias e melhorias para a cidade de Manaus, como temos feito todos os dias, para vir se defender de algo que não tem pé nem cabeça. De algo que é inconsistente, que não leva sequer assinatura. Porque o covarde que produziu isso, nem ele mesmo acreditou nesse monte de baboseiras que ele próprio redigiu, que não teve coragem sequer de assinar”, afirmou Rotta.