Da Redação |
A cada 10 pessoas atendidas em hospitais e pronto-socorros da rede estadual na capital, 4 poderiam ser tratadas em unidades básicas de saúde (UBS) da Prefeitura de Manaus.
O número foi divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) na quinta-feira (15). Não é a primeira vez que a secretaria divulga a informação, e o assunto virou um dos temas discutidos na campanha eleitoral deste ano.
Isso porque Prefeitura de Manaus e Governo do Amazonas estão em palanques diferentes. O atual prefeito, David Almeida (Avante), que concorre à reeleição, tem entre os adversários o deputado estadual Roberto Cidade (União Brasil), que tem o apoio do governador Wilson Lima (União Brasil).
Para o Governo do Amazonas, o atendimento de pacientes com doenças de baixa complexidade, que deveriam ser atendidos pelos serviços do município, sobrecarrega as unidades de urgência e emergência.
Segundo a SES-AM, de janeiro a julho deste ano, os seis hospitais e pronto-socorros infantis e adultos da rede estadual de saúde realizaram 308.316 atendimentos.
Os casos classificados como de baixa complexidade chegaram a 126.876, ou seja, 41,15%. Desse total, foram 172.057 nas unidades de emergência para adultos (28 de Agosto, Dr. João Lúcio Pereira Machado e Dr Aristóteles Platão Bezerra de Araújo) e 136.059 nos hospitais infantis (HPSC Zona Leste, Zona Sul e Zona Oeste).
Do total de atendimentos nos HPSs para adultos, 40.826 (23,72%) foram classificados com as cores azul e verde, que, conforme o Protocolo de Manchester, método adotado pelo Ministério da Saúde, indicam baixa complexidade. Nas unidades infantis foram 86.050 (52,77%) com esse perfil, mais da metade dos pacientes recebidos.
Somente em julho, foram 51.390 atendimentos nos HPSs infantis e adultos, na capital. Os casos de baixa complexidade chegaram a 23.040, ou seja, 44,83% dos pacientes recebidos, uma média de 768 pessoas por dia nessa condição.
A secretária de Estado de Saúde Nayara Maksoud observa que, por serem unidades de portas abertas, os prontos-socorros não deixam de atender nenhum paciente que procura a rede.
Porém, diz Nayara, é preciso que os dados sejam analisados em conjunto com o município, para que o sistema de urgência e emergência possa, de fato, concentrar seus esforços – equipe médica, insumos e medicamentos – aos pacientes que precisam desse tipo de atendimento.
“Quando os hospitais passam a receber um grande volume de pessoas que poderiam ser atendidas nas UBSs, há um impacto no atendimento, com sobrecarga das equipes”, aponta a secretária.
Segundo Nayara Maksoud, entre os fatores que podem estar relacionados à procura dos pacientes pelos prontos-socorros, em situações que não são de emergência, está, muitas vezes, na agilidade do diagnóstico, com exames entregues com brevidade, sem que haja necessidade de nova consulta.
“Todo esse cenário reforça a necessidade de repensar a organização de equipamentos de saúde da rede de atenção primária, dispondo por exemplo, de exames laboratoriais e de imagem, sendo realizados e com resultados entregues com maior brevidade, além do funcionamento em horários alternativos de maior demanda nos HPS. São soluções que podem garantir o acesso da população ao sistema de saúde de maneira ágil e eficiente”, afirmou.
Histórico ruim
A baixa cobertura dos serviços de saúde do município é um problema histórico em Manaus.
Em dezembro de 2019, levantamento feito pelo ESTADO POLÍTICO mostrou que o então prefeito de Manaus, Arthur Neto, saía da prefeitura deixando o sistema de saúde pior do que recebeu de seu antecessor, Amazonino Mendes.
Na ocasião, dados do Ministério da Saúde mostravam que a cobertura de saúde oferecida à população de Manaus pela prefeitura caiu de 51,61%, em janeiro de 2013, para 44,83%, em setembro de 2019.
Isso significava dizer que dos 2,1 milhões de habitantes de Manaus, mais da metade, 1.183.704, não tinha acesso a serviços de atenção básica em saúde, como consultas de clínico geral, de pré-natal e ações de prevenção.
Em 2013, quando a cobertura na Atenção Básica na capital amazonense estava em 51,61%, a população de Manaus era de 1.861.838, segundo o IBGE.
Sete anos depois, no governo de Arthur, a população aumentou para 2,1 milhões e os serviços de saúde da prefeitura não acompanharam o crescimento populacional.
Ao assumir a prefeitura, o cenário ruim foi confirmado pelo atual prefeito David Almeida (Avante). E exposto nacionalmente durante a CPI da pandemia, com a divulgação de documentos do Ministério da Saúde produzidos pelo Governo Bolsonaro, em janeiro de 2021.
Quatro anos depois, a cobertura da atenção básica da capital do Amazonas aumentou e é um dos principais legados que o atual prefeito defende ao pedir voto para reeleição.