MANAUS – Quatro dias antes da barbárie em presídios do Amazonas que resultou na morte de 55 presos, um relatório da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) apontava o risco de confronto entre facções.
O relatório foi exibido em reportagem da GloboNews nesta quarta-feira (29). De acordo com o documento exibido, já havia sido detectado pelo poder executivo um racha interno entre presos de uma mesma facção criminosa, onde 20 presos estavam marcados para morrer.
Em coletiva na quarta-feira, o secretário de Administração Penitenciária, Vinicius Almeida, disse que os dados do setor de inteligência ajudaram na ação do grupo de intervenção. Mas que não permitiam prever a hora exata em que os crimes ocorreriam.
“Por mais que você tenha dados de inteligência, (…) dados de inteligência não é bola de cristal, por favor, nós temos que ser realistas. Nós tínhamos e monitorávamos, tanto que o nosso grupo de intervenção prisional estava lá (Compaj) em três minutos e evitou um mal maior”, disse o secretário de Administração Penitenciária, Vinicius Almeida em coletiva à imprensa na quarta-feira.
Em nota, a Seap confirmou que já possuía informações do setor de inteligência do estado sobre um racha entre membros de uma mesma facção e ainda o risco de confronto no CDPM 1. E que em razão disso, montou um plano de contingência desde o dia 23 deste mês e ainda chegou a realizar a transferência de presos do CDPM 1 que eram alvos de ameaças para outras unidades.
Abaixo, confira a íntegra da nota da Seap:
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informa que já dispunha de informações do setor de inteligência do Estado, também apontadas no relatório do Depen, sobre um racha entre integrantes de um mesmo grupo criminoso e a iminência de confronto no CDPM 1. Por conta disso, a Seap montou um plano de contingência desde a última quinta-feira (23/05) e, se antecipando à informação de possível confronto, a Seap fez transferência de presos que seriam possíveis vítimas do CDPM 1 para outras unidades, e manteve de prontidão o Grupo de Intervenção Penitenciária (GIP) para qualquer outra alteração nas demais unidades do sistema.
No domingo (26/05), assim que identificada briga entre detentos em dois pavilhões do Compaj, o GIP foi imediatamente acionado e, em três minutos, começou a atuar na contenção dos confrontos, não tendo evitado mortes que ocorreram em celas, antes do acionamento do GIP, por asfixia, bem como a ação rápida de alguns detentos com estoques feitos com escovas de dentes.
Em paralelo, as forças de segurança iniciaram, de imediato, uma varredura nos demais presídios, a partir de informações da inteligência de que haveria retaliações às mortes do domingo. Desta forma, a Seap, o GIP e demais forças especializadas da Polícia Militar identificaram outras possíveis vítimas, transferindo de celas e pavilhões cerca de 200 presos ameaçados. Na segunda-feira, os detentos de todas as unidades prisionais estavam trancados nas celas e as visitas foram suspensas. As 40 mortes aconteceram dentro das celas, todas por asfixia, dificultando a atuação imediata do GIP.
O Governo do Amazonas ressalta, ainda, que a melhoria do controle do sistema prisional é o uma preocupação desde o início desta administração. Em cinco meses de 2019, o Governo agiu para melhorar o controle do sistema prisional ao criar o Grupo de Intervenção Penitenciária e o reforço nas revistas, o que foi um grande avanço, se comparado com o massacre de 2017, quando os presos tinham armas e celulares, as ocorrências neste ano não envolveram armas, o que comprova que as revistas e o controle estão sendo mais eficazes.
Além disso, o Estado implantou o sistema de Teleaudiências, evitando o transporte de presos para audiências fora dos presídios, reduzindo custo e aumentando a segurança, e construiu gaiolas de contenção e de travas automatizadas no Compaj, como medida de segurança e prevenção em motins.