MANAUS – A Prefeitura de Manaus vai comprar, sem licitação, R$ 360,4 mil em ivermectina e dexametasona para tratar a Covid-19. A autorização para a compra consta em portaria publicada pelo subsecretário municipal de Administração e Planejamento, Nagib Salem José Neto, no Diário Oficial do Município (DOM) desta quinta-feira (24).
Ao justificar a compra sem concorrência, Nagib diz considerar “a emergência para a aquisição de medicamentos, em caráter emergencial, destinados a atender Unidades de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde – SEMSA, em razão do combate ao COVID-19, esta que por si só justifica a contratação”. A empresa que fornecerá os medicamentos será a Decares Comércio LTDA.
Reprodução/adaptado do DOM
Integrante do controverso “kit covid”, a invermectina, a exemplo de outros medicamentos do kit, não possui eficácia comprovada para tratar ou prevenir a Covid-19. Já o corticoide dexametasona tem sido usado em casos de agravamento da doença – não sendo recomendado para casos leves e moderados.
A prefeitura é responsável pela atenção básica de Saúde, sendo portanto a porta de entrada do SUS. Casos graves são encaminhados a unidades da rede estadual ou da União – com exceção da época em que havia um hospital de campanha em parceria com a Samel, na gestão Arthur Neto.
Em janeiro deste ano, o prefeito David Almeida (Avante) chegou a anunciar que distribuiria o “kit covid” à população. Um assessor da Semsa revelou, inclusive, a intenção de distribuir o tal kit na Arena Amazônia ou no Sambódromo.
Em fevereiro, o prefeito, após ser questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), negou que a prefeitura pregasse o “tratamento precoce”.
Saiba mais
No dia 4 de janeiro, em Manaus, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, defendeu o uso da cloroquina (sem citar expressamente o nome do medicamento, que é outro integrante do “kit covid”) no tratamento precoce da Covid-19. Ela foi além e fez um apelo aos profissionais da medicina no Amazonas para que eles prescrevam o medicamento para paciente diagnosticados com o coronavírus.
Dias depois, também em Manaus, na véspera do colapso do oxigênio, o ministro Eduardo Pazuello falou sobre o assunto, de forma cifrada. Disse que a vacinação seria uma estratégia auxiliar de combate à doença, mas que a prioridade do governo federal era o “tratamento precoce”.
Durante a estadia de Pazuello da capital amazonense, o site UOL revelou que o MS estava pressionando profissionais da prefeitura da capital a prescreverem o “tratamento precoce”. O site divulgou um ofício encaminhado pelo MS à Semsa.
No documento, o ministério afirma ser “inadmissível” não usar as medicações e pedia autorização para que Eduardo Pazuello fizesse uma ronda nas UBS “para que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.