MANAUS – Por portar cartazes e adesivos com críticas ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) e declaração de voto a Fernando Haddad (PT), um grupo de jovens foi levado para uma delegacia, na zona oeste de Manaus, no início da madrugada desta quinta-feira (25). Segundo a Polícia Civil (PC-AM), as cinco pessoas foram “qualificadas” e um Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado em seus nomes.
A versão da Polícia Militar (PM-AM), segundo nota da PC-AM, é que os jovens correram em direção a um carro ao avistarem a viatura policial. E ao realizarem a “abordagem de rotina”, os policiais encontraram no carro os cartazes, definidos pelos policiais como “material de propaganda”.
Após serem conduzidos ao 19º DIP para prestarem “esclarecimentos”, os jovens foram liberados, sem registro de tipificação de qualquer crime. Na nota, a PC-AM não indica que conduta criminosa foi identificada na ação dos jovens. A PM-AM não respondeu ao pedido de nota do site até a conclusão desta matéria.
A PC-AM informou ainda que a ocorrência foi encaminhada à Polícia Federal (PF) e também comunicada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM).
Leia abaixo a nota da PC-AM:
Em atenção à sua demanda, de acordo com Boletim de Ocorrência (BO), registrado no 19º Distrito Integrado de Polícia (DIP), na madrugada desta quinta-feira (25/10), por volta das 2h, Bruno Santos Onipotente, 26, Camila Barbosa Oliveira da Silva, 25, Luis Gustavo Garcez Costa, 25, Marcos Jeremias dos Santos Rodrigues, 34, e Raissa Maria Barbosa da Costa, 22; foram conduzidos ao 19º DIP, após abordagem de rotina de uma guarnição da polícia militar na avenida Padre Agostinho Caballero Martins, no bairro Compensa, zona oeste da cidade. Na ocasião, os jovens, após avistarem os policiais correram em direção de um veículo estacionado nas proximidades do local. Com eles, a guarnição encontrou cartazes e material de propaganda eleitoral e um balde contendo cola.
De acordo com o delegado titular do 19º DIP, Aldeney Goes, após a qualificação do grupo e formalização do BO, a ocorrência foi encaminhada à Polícia Federal (PF) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) será comunicado do fato.
Outro lado
Para uma das jovens envolvidas na ocorrência, Camila Oliveira, a polícia agiu errado ao impedir a livre manifestação do pensamento deles a respeito de um candidato que eles acreditam não ser o mais preparado para o cargo.
“O que tinha naqueles cartazes era apenas a livre manifestação do nosso pensamento. Não concordamos com as barbaridades que ele fala e defende publicamente. Onde tem crime nisso?”, indaga a estudante.
No final da tarde, os jovens divulgaram uma nota. Criticaram a conduta de um dos policiais envolvidos na ocorrência, e também o trabalho de parte da imprensa que, segundo eles, divulgou informações do fato equivocadas, sem ouvi-los, com base na versão policial e “em mensagem de Wathsapp”.
Leia a nota abaixo:
Viemos por meio desta nota, esclarecer as notícias falsas que estão sendo divulgadas em veículos de imprensa, páginas de Facebook e grupos de Whatsapp. Em primeiro lugar, não fomos detidos nem presos, apenas prestamos esclarecimentos sobre o teor de nossa ação em um departamento de polícia. Um boletim de ocorrência foi feito, mas nenhum crime penal foi cometido.
Na noite de ontem fomos às ruas em protesto com cartazes, a fim de nos manifestarmos contra a candidatura de Jair Bolsonaro, uma candidatura que não representa nossos anseios progressistas e que fere a nossa existência. É importante divulgar que NÃO COMETEMOS CRIME, produzimos cartazes em sua maioria com cartolina, divulgando as ações públicas do candidato que flertam com o fascismo e com o nazismo.
Fomos abordados por dois policiais, um deles agindo de forma truculenta, ameaçando inclusive nos jogar dentro do rio. Aqui questionamos a abordagem e a divulgação de fotos (feitas por um dos PMs), além da divulgação de nomes e outras informações pessoais sem a nossa autorização, como se fossemos criminosos. Na delegacia, o mesmo policial manteve sua conduta violenta, ao ser questionado sobre estar tirando fotos disfarçadamente. Isso sim é crime.
Também repudiamos esse tipo de jornalismo, que não apura, que não procura as fontes e que divulga informações baseadas no que recebem pelo Whatsapp.
Diante desse fato, questionamos: Que crime comete uma juventude que diante da real ameaça a sua existência, com a possível vitória de um candidato à Presidente da República que diz em alto e bom tom, que não gosta de negros, de índios, de lgbts, de pobres, de mulheres, de ativistas e que destila preconceitos dentre tantas outras declarações fascistas?
Estamos tomando as medidas jurídicas necessárias e também solicitaremos direito de resposta a cada Portal que veiculou nossa imagem e informações inverídicas sobre o fato.
Bruno Onipotente, Camila Oliveira, Marcos Rodrigues, Luís Gustavo e Raíssa Barbosa.