MANAUS – A Polícia Civil do Estado do Amazonas (PC-AM) concluiu o inquérito que investigava a morte do engenheiro Flávio Rodrigues, ocorrida no dia 29 de setembro. Cinco pessoas foram indiciadas pelos delegados responsáveis pela investigação. Entre eles estão dois enteados do prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), Alejandro Molina Valeiko e Paola Valeiko Molina. Os outros indiciados são Elizeu da Paz de Souza, Mayc Vinícius Teixeira Parede e Vitorio Del Gatto.
O relatório policial aponta Elizeu e Mayc como responsáveis direto pelo homicídio. Já Alejandro é responsabilizado pelo homicídio, mas por omissão. A polícia concluiu que ele tinha meios de impedir o crime, mas não o fez.
Nos autos, os três são indiciados por homicídio qualificado (de Flávio) e tentativa de homicídio (de Elielton Magno de Menezes Gomes Junior). Os três também foram indiciados pelo crime de ocultação de cadáver.
Elizeu, que era policial militar lotado na Casa Militar do Município de Manaus e atuava como segurança de Alejandro, foi indiciado também por fraude processual.
Paola, que assim como Alejandro é filha da primeira-dama Elisabeth Valeiko, foi indiciada por fraude processual. Enquanto Vitório, para a polícia, deve responder pelo crime de Omissão de Socorro.
Limpeza da casa
Paola é esposa do dono da casa onde Alejandro morava, no condomínio Passaredo, na zona Oeste de Manaus. Foi no local que Flávio foi visto com vida pela última vez. O corpo dele foi encontrado em um terreno, também na zona Oeste, na tarde do dia 30.
Segundo a polícia, Paola realizou uma limpeza na casa. Para os investigadores, a residência foi a cena do crime, e a ação da filha da primeira-dama teria dificultado a investigação.
Em depoimento, segundo o relatório, Paola admite ter limpado algumas manchas de sangue. Ela teria dito que não tinha consciência de que a ação prejudicaria o trabalho da polícia.
Na perícia realizada na casa com o uso de luminol (que torna possível identificar sangue mesmo em superfície limpa), a polícia informa ter encontrado material genético compatível a sangue. Mas não detalhe de quem seria.
Relatório enviado ao MP-AM
A investigação foi conduzida pelos delegados Paulo Roberto Sobral Martins (titular da especializada em Homicídios e Sequestros – DEHS) e Marília Campello Conceição, delegada adjunta da DEHS.
O relatório final do caso, com os indiciamentos e conclusões da polícia sobre o crime, foi concluído na última segunda feira, 25, e enviado ao Ministério Público Estadual (MP-AM) no dia 26.
Com base no que é informado no documento, cabe ao MP-AM apresentar ou não denúncia contra os investigados à Justiça. O órgão pode divergir ou não do entendimento dos delegados sobre a participação de cada um dos indiciados no crime.
O promotor responsável pelo caso é Igor Starling Peixoto. Ele é titular da 16ª Promotoria de Justiça da Capital. Em nota divulgada na noite de terça-feira (26), o MP-AM informou que o promotor recebeu o relatório da polícia naquela mesma data. Caso ele apresente denúncia e a Justiça aceite, os cinco passam da condição de indiciados para a de réus.
Além do indiciamento, os delegados pedem ao final do relatório a prisão preventiva de Elizeu, Mayc e Alejandro. Os três cumprem prisão temporária atualmente.
Os delegados também afirmam que a investigação não mostrou participação delituosa por parte de Elielton Magno de Menezes Gomes Junior e José Edvandro Martins de Souza Junior. Por essa razão, a polícia pediu a revogação da prisão temporária dos dois.
Outro lado
Ao ESTADO POLÍTICO, um dos advogados de Alejandro e Paola, Diego Gonçalves, criticou o trabalho da PC-AM e classificou os indiciamentos de absurdos.
Para Diego, a polícia mudou a linha de investigação e, mesmo assim, lendo o relatório final, a única conclusão que se pode chegar é a de inocência de Alejandro, e não de indiciamento do seu cliente.
O advogado afirma também que a investigação foi politizada, e indica que Alejandro e Paola foram indiciados pela ligação com o prefeito de Manaus.
Abaixo, a íntegra a manifestação de Diego:
“A conclusão da investigação é claramente uma demonstração da inocência de Alejandro. Inicialmente, apesar de todos os elementos colhidos apontarem que Alejandro era absolutamente inocente, a primeira tese da investigação era a de que Alejandro teria desferido facadas em Flávio e que os dois investigados confessos teriam ido apenas retirar o corpo. Todas as provas colhidas apontavam o contrário, ou seja, que não houve absolutamente nenhuma participação de Alejandro, mesmo porque este não teria sequer motivo para querer agredir ou matar Flavio Rodrigues. Suscitou-se que ele teria, então, sido um mandante. Outra tese absurda, pois Alejandro sequer sabia que Elizeu da Paz iria até sua casa, visto que não o chamou e nem teria motivo para isto. Finalmente, agora que a perícia mostrou que o sangue na casa era de Alejandro e de Magno, ou seja, comprovando que nosso cliente fora vítima de um crime, os delegados resolveram o indiciar por “omissão”, reconhecendo, portanto, por um lado, que Alejandro não teve participação no homicídio, mas por outro, levantando a tese absurda de que ele não teria feito nada para impedir. A polícia deveria, por uma questão de justiça, reconhecer seu erro e deixar de indiciar o Alejandro. Esse indiciamento forçado, além de tecnicamente injustificável, é apenas para encobrir os erros que ocorreram na investigação. O pedido de prisão preventiva não tem o menor cabimento, visto que Alejandro colaborou de todas as formas possíveis, tendo, inclusive retornado de outro Estado quando soube de sua prisão temporária para se apresentar na justiça. Forneceu DNA, participou de tudo, enfim, não há razão para decretação de prisão preventiva de Alejandro. E o indiciamento de Paola é absurdo. Ou seja, é curioso notar que, apesar de todos estarem na casa e terem dito a verdade, somente foram indiciadas as pessoas que tem ligação com a família do prefeito Arthur, o que mostra a politização da investigação. Lamentável que uma tragédia como essa seja tratada desta forma. Vamos aguardar o posicionamento do Ministério Público e tomar as medidas cabíveis em seguida”.
A reportagem não conseguiu contado com os advogados dos demais indiciados.
ATUALIZAÇÃO: A matéria foi atualizada às 12h05. Ao contrário do que foi informado anteriormente, o relatório policial não indica que o material genético encontrado na casa era sangue de Flávio Rodrigues. O sangue da vítima foi localizado no carro utilizado por Elizeu e Mayc.
+Comentadas 1