Da Redação |
A Polícia Federal (PF) aponta na investigação de uma chacina cometida por policiais militares do Amazonas a realização de uma operação de extermínio, com execuções, vítimas metralhadas, tortura de criança e adolescente e asfixiamento com sacos plásticos. As informações fora divulgadas pela Folha de São Paulo, que teve acesso a detalhes de um relatório produzido pela PF.
A chacina ocorreu em agosto de 2020, em comunidades ribeirinhas e indígenas na região do rio Abacaxis, entre os municípios de Nova Olinda do Norte e Borba.
De acordo com a Folha, a investigação listou oito homicídios, entre eles o de dois jovens indígenas mundurucus e um adolescente. Também foi registrado quatro casos de tortura que não resultaram em mortes; ocultação de corpo, e continuidade do desaparecimento de restos mortais; lesões corporais graves em três vítimas, duas delas crianças; e incêndio criminoso de três casas em uma aldeia, com destruição de documentos e bens.
O relatório da PF foi concluído em abril deste ano. Nelo foi indicado o indiciamento do coronel da PM Louismar Bonates, ex-secretário de Segurança Pública amazonense, e do ex-comandante-geral da PM do estado Ayrton Ferreira do Norte. O primeiro foi acusado de ordenar e viabilizar a operação. O segundo, de comandá-la. Os dois não estão mais no governo.
Leia a íntegra da matéria da Folha AQUI.
MPF pede para PF investigar operação da SSP-AM no rio Abacaxis (estadopolitico.com.br)
O caso
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a chacina ocorreu durante uma suposta operação policial.
Durante o primeiro dia da operação, realizada supostamente para coibir o tráfico de drogas na região, os agentes não se identificaram mesmo após horas de atuação e abordagem inicial por lideranças extrativistas. Nesta abordagem de monitoramento pelas lideranças ocorrida no dia 03 de agosto pela manhã, foi informado ao MPF que nenhum dos presentes usava farda ou uniforme policial. Os policiais faziam uso de embarcação particular, a mesma que motivou, nos dias 23 e 24 de julho, conflito grave com os comunitários, por conta do uso do rio Abacaxis para pesca esportiva sem licença ambiental, e culminou em suposto atentado contra um dos tripulantes, o secretário-executivo de Estado Saulo Resende. Tal uso aliado à não identificação inicial, causou pânico em todas as comunidades e aldeias pensando se tratar de ato privado de vingança.
Os agentes policiais, nas abordagens nos dias que se seguiram, chegaram a informar alguns moradores que estavam no local em busca do possível autor do disparo contra o secretário. Em contato telefônico, o secretário estadual de Segurança Pública assegurou ao MPF que a operação tinha sido motivada por denúncias de tráfico de drogas e confirmou o uso da embarcação particular nos trabalhos. Ao fim do dia 3, foi confirmada a morte de dois agentes e outros dois policiais feridos.
No dia seguinte, a SSP enviou efetivo de 50 policiais, incluindo o comandante da Polícia Militar no Amazonas, para reforçar a ação no local. A partir daí, o MPF passou a receber relatos de diversos atos de abuso e violação de direitos por parte da Polícia Militar contra moradores tradicionais do rio Abacaxis.
Entre os relatos estão a ocorrência de invasão das casas dos comunitários, sem qualquer autorização ou mandado judicial, apreensão de telefones celulares usados para registrar os abusos, uso desproporcional de armas de fogo para intimidar os moradores, inclusive idosos e crianças, e a restrição de circulação no rio Abacaxis, impossibilitando o envio de alimentos e mantimentos e o socorro aos feridos pelas ações da Polícia Militar.
Houve ainda o relato de condução ilegal e tortura contra liderança da Associação Nova Esperança do Rio Abacaxis, representativa dos ribeirinhos e assentados extrativistas do local.