MANAUS – O pesquisador Jesem Orellana informou à colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, na terça-feira, 29, que foi desautorizado pela Fiocruz a falar em nome da instituição em entrevistas sobre lockdown.
Abaixo, trecho da nota de Jesem à Folha:
“Saibam que a comunicação da FIOCRUZ-RJ (ligada diretamente à Presidência) me orientou a não me identificar como sendo da FIOCRUZ em entrevistas sobre Lockdown e, foi além, ao afirmar que “a FIOCRUZ não recomenda Lockdown”, o que antes de tudo é, no mínimo, desprovido de amparo científico e apenas reforça a narrativa do Presidente Bolsonaro (https:/ amazonasatual.com.br/presidenteclassificou-como-absurda-proposta-de-lockdown-feita-por-arthur/). Pedi provas documentais/científicas e essa pessoa recuou dizendo que, na verdade, dependia de “bom senso”. Essa pessoa ainda me chamou de “sem noção” por ter aventado a possibilidade de Lockdown em Manaus. Apenas reforço, que em todas as entrevistas disse que quando falhamos com medidas menos extremas, caso de Manaus, só resta o Lockdown.”
Com o aumento de casos de infecção pelo novo coronavírus aumentando em Manaus, Jesem tem ganhado espaço na imprensa local e nacional defendendo que a capital do Amazonas enfrenta uma segunda onda da pandemia de Covid-19.
Em algumas entrevistas, o pesquisador questiona a capacidade de vigilância em saúde de órgãos do governo estadual, insinuando até que o Estado esteja maquiando os dados sobre a doença.
Governo rebate informações
Em resposta, o Governo do Amazonas rebateu as acusações do pesquisador da Fiocruz, e defendeu que não há razão para lockdown, apesar de admitir o crescimento de casos.
Para o Governo do Amazonas, os casos têm aumentado por conta do relaxamento nas medidas de segurança por parte da sociedade. Para frear esse crescimento, o Estado decidiu na última semana fechar bares e restringir horário de funcionamento de restaurantes.
Fiocruz divulga nota
Também na terça-feira, a Fiocruz divulgou uma nota técnica, assinada por diferentes pesquisadores, onde também não defende o lockdow. Para a instituição, o que precisa ser feito no momento é o reforço das medidas de distanciamento social.
A nota da Fiocruz reforça a contribuição da instituição na produção de informações técnicas, embasadas por dados e evidências científicas, que possam auxiliar no enfrentamento e na resposta à pandemia.
Segundo dados nacionais da vigilância de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a partir da Semana 34 (16/8 a 22/8), os pesquisadores observaram um sinal de retomada de crescimento na tendência de longo prazo nos casos tanto no estado, como na capital, em Manaus. A nota técnica pontua um crescimento ainda lento de casos, porém persistente.
Além da taxa de incidência de SRAG no Amazonas, o documento traz análises sobre a evolução de casos confirmados e óbitos de Covid-19, e ocupação de leitos de UTI no estado.
Em razão dos dados levantados, a nota aponta a necessidade de reforço das medidas de proteção individual e coletiva, assim como o aumento na capacidade da testagem de casos suspeitos e contatos, e da vigilância epidemiológica local, com ampliação da captação de suspeitos por meio da demanda passiva e busca ativa de casos. Também indica necessidade de fortalecimento da rede no combate à Covid-19, dentro do caminho percorrido da atenção primaria à atenção terciária; e destaca a importância da realização de um estudo epidemiológico de campo na cidade de Manaus que possa auxiliar e orientar planejamento e monitoramento dessa epidemia.
Leia a íntegra da nota técnica da Fiocruz aqui.