MANAUS – Reportagem da Folha de S. Paulo publicada neste domingo (6) detalhou um esquema de pagamento de propinas envolvendo engenheiros florestais, empresários e servidores do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para facilitar ou agilizar a emissão de licenças ambientais e/ou afrouxar a fiscalização.
Conforme a matéria, feita com base nos autos da operação Arquimedes, 61 madeireiras estão envolvidas no esquema, sobretudo do Sul do Estado.
A reportagem mostra, com base nas interceptações telefônicas, que o suborno tinha pelo menos 20 apelidos, entre os quais “melancia”, “guaraná”, “calmante”, “baba”, “milho”, “molhar a planta”, “pontinha” e “cru cru cru”.
A operação Arquimedes teve duas fases deflagradas, em 2017 e 2019, pela Polícia Federal (PF) em parceria com o Ministério Público Federal (MPF). A ação apreendeu cerca de 400 contêineres com madeiras na deflagração da primeira fase. Ao todo, foram cumprido 23 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 109 buscas e apreensões. O MPF já apresentou 24 denúncias à Justiça e já houve condenação.
À Folha, o Ipaam afirmou que os servidores envolvidos foram afastados por decisão da própria Justiça e que apoia a abertura de processos de sindicância interna. “O Ipaam encaminhou informações à Secretaria de Administração do governo do Amazonas, para que, se assim entenderem, formalizem processos administrativos disciplinares”, informou em nota.
Segundo o Ipaam, as licenças foram suspensas e nenhum dos empreendimentos pode operar até a apuração dos fatos. O Ipaam disse ter mudado o fluxo dos processos. “Os processos de licenciamento estão sendo informatizados, o que irá trazer mais transparência”, acrescentou.
Diálogos interceptados
Numa conversa entre um empresário do ramo de madeira e um servidor do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), fica combinado o pagamento de propina, ou “guaraná”, segundo o MPF.
Empresário: Porra, tô doido pra te dar o dinheiro pra tu tomar cinco caixinhas e não te acho.
Servidor: Fale, meu filho!
E: Puta merda… que saudade! Tu tá aí pelo Ipaam?
S: Tô chegando daqui a meia hora.
[…]
E: Eu quero falar com eles. Eu vou lá… eu te encontro lá.
S: Tá beleza, tá beleza…
E: Tá. Tá joia.
S: Arruma guaraná.
E: Quando eu chegar lá, pois é, quando chegar lá, eu quero que tu vá lá na portaria pra ti… pra mim entrar contigo.
Dois servidores do Ipaam, suspeitos de liberação de carga irregular de madeira a favor de um madeireiro, conversam sobre “melancias”, vocábulo que é “mais um indício de recebimento de dinheiro ilícito”, conforme o MPF.
Servidor 1: É o seguinte, daqui a pouco tu passa aqui em casa…tá?
Servidor 2: Pra ver aquela situação lá?
1: Não, é o seguinte, eu trouxe melancia pra ti, aquela melancia lá, tá bom?
2: Pois é, tem que passar lá a melancia lá pro…
1: Pois é…chega aí, vem aqui, vem aqui.
2: Tá. Tô indo aí.