GENEBRA (Reuters) – A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta sexta-feira que o Amazonas enfrenta uma situação da pandemia de Covid-19 em que todo o sistema sanitário começa a implodir, acarretando um “espiral negativo”, e que não é possível culpar somente uma nova variante do coronavírus pela crise.
O principal especialista em emergências da OMS, Mike Ryan, destacou em entrevista coletiva que, diante do avanço da doença, as próprias pessoas que lutam contra as consequências da crise no sistema de saúde começam a ser infectadas.
“Essa é uma situação em que todo o seu sistema começa a implodir. Porque seu sistema hospitalar, seu sistema de saúde pública, seu sistema de laboratórios —essas pessoas também fazem parte da comunidade. Elas começam a se infectar e você entra em um espiral negativo”, disse Ryan.
O Amazonas, que já sofria com a alta taxa de ocupação dos leitos hospitalares, também enfrenta desde a véspera um colapso no abastecimento local de oxigênio, com a demanda diária superando em quase 3 vezes a capacidade de produção da Manaus White Martins, empresa responsável pela oferta.
Segundo a OMS, se o cenário de rápido aumento nos índices de hospitalização persistir, claramente haverá uma onda ainda pior do que a “catastrófica” vista no Amazonas ainda no início da pandemia, entre abril e maio, o que foi descrito pelo especialista como uma “tragédia”.
Ryan afirmou que a organização possui uma equipe atuando em Manaus, onde a situação se deteriorou significativamente nas últimas duas semanas, mas alertou que também há problemas de capacidade de UTI em outros Estados brasileiros, como Rondônia e Amapá, e em outros países das Américas.
“Isso não é um problema apenas do Amazonas, não é um problema apenas de Manaus. Esse é um problema em muitas áreas do Brasil e em muitos países das Américas Central e do Sul”, disse o especialista, lembrando também da escassez de equipamentos médicos de proteção e das dificuldades logísticas para o transporte de oxigênio.
Além da crise hospitalar, foi descoberta no Amazonas uma nova variante do coronavírus que, segundo pesquisadores, pode estar contribuindo para uma explosão de casos no Estado.
Mike Ryan, no entanto, afirmou que embora uma nova variante possa ter um impacto neste momento, é excessivamente simplista culpar apenas sua disseminação pelo caos na saúde.
“No caso do Cone Sul, e Américas Central e do Sul, não são novas variantes acelerando a transmissão. Novas variantes podem ter um impacto no fim da linha, e até podem estar tendo um impacto agora, mas é fácil demais jogar a culpa apenas na variante e falar que foi o vírus que fez isso”, disse Ryan.
“Infelizmente, foi também o que nós não fizemos que causou isso”, completou o especialista.