MANAUS — Reportagem publicada pelo jornal carioca O Globo mostra que investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre o comércio ilegal de madeira na Amazônia interceptaram pressão deputado federal Átila Lins (PP) para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reabrir serrarias fechadas.
Durante a operação Arquimedes, os investigadores encontraram trocas de mensagens entre o então superintendente do Ibama no Amazonas José Barroso Leland e Átila Lins. Na reprodução das conversas obtidas pela investigação, a qual O Globo teve acesso, o parlamentar pressiona Leland para reabrir serrarias localizadas no Estado que haviam sido fechadas por fiscais do Ibama semanas antes.
O diálogo
Conforme a publicação, na manhã do dia 20 de dezembro de 2018, Átila enviou um link de uma notícia publicada pela mídia local na qual ele afirma que 95% das serrarias do município de Manacapuru seriam reabertas naquele dia.
“Conforme combinamos, mandei divulgar assim”, escreveu Átila a Leland.
“Estou trabalhando para isso e dependendo da internet e de alguns análises técnico ainda não disponíveis”, respondeu Leland ao deputado.
“Eles estão ansiosos que seja resolvido. Vai dar certo, pra quando chegar amanhã esteja tudo ok”, reagiu Átila.
Na noite do mesmo dia, Átila volta a cobrar Leland. “E aí Leland deu ora (pra) reabrir alguma coisa em Manacapuru”, indaga.
Após quase 24 horas sem Leland responder, Átila volta a cobrá-lo. Ele manda nova mensagem. “Alguma novidade Leland?”, pergunta.
“Leland To indo a Manacapuru. Alguma notícia?”, insiste o deputado, horas depois. “O que vou dizer dizer lá”, pergunta.
No dia seguinte, Átila envia mais uma mensagem. “O que houve Leland? Não me deu mais notícias”.
Leland responde no dia 24 com uma espécie de “relatório” sobre suas atividades e indicando que havia se esforçado para atender a demanda do deputado.
“Bom dia deputado, fiquei fora de Manaus sem internet. Sexta feira fiz o desbloqueio de duas industrias. Estou trabalhando firme para concluir. No entanto, tem algumas em situação complicada. Votos de un bom natal, lhe manterei informado”, escreveu.
Átila Lins, registra O Globo, não foi denunciado à Justiça. Segundo o MPF, o fato de pessoas citadas nas investigações ainda não terem sido denunciadas não significa que o caso em relação a elas tenha sido arquivado e ainda há a possibilidade de os procuradores fazerem aditamentos à denúncia em curso.
O jornal informou que tentou contato com o deputado, mas ele não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens de texto enviadas.
Saiba mais
A operação Arquimedes foi deflagrada entre 2017 e 2019 no Amazonas. Policiais e procuradores desmantelaram um esquema envolvendo empresários e agentes públicos para “esquentar” madeira extraída de áreas irregulares e vendê-la no mercado interno e externo como se fosse produto legal a partir da adulteração dos documentos de origem florestal (DOFs). Ao todo, 61 empresas são investigadas e pelo menos 22 pessoas já foram denunciadas.
José Leland é apontado pelo MPF como um dos principais participantes do esquema, encarregado de proteger empresários que vendiam madeira clandestina. Ele é alvo de duas denúncias por crimes como peculato, embaraço a investigação envolvendo organização criminosa, posse ilegal de arma de fogo e lavagem de dinheiro.