MANAUS – Novo pedido de CPI na ALE-AM (Assembleia Legislativa do Amazonas) abre concorrência à CPI proposta pela oposição que está a uma assinatura para ser instalada. Proposta pelo bolsonarista deputado Delegado Péricles (PSL), a nova linha de investigação recebeu a adesão de parlamentares de centro esquerda, como Serafim Corrêa, do PSB, e Sinésio Campos, do PT.
A CPI proposta por Péricles tem como foco a crise do oxigênio, seria a “CPI da Asfixia. Serafim Corrêa e Sinésio Campos entendem que deve ser investigado o incentivo ao “tratamento precoce” com cloroquina durante a crise. E que por isso a linha de investigação apresentada pelo parlamentar do PSL seria a mais adequada.
Já a CPI proposta por Dermilson Chagas e Wiker Barreto, ambos do Podemos, tem um objeto mais amplo, defendendo investigar contratos do governo em diferentes pastas. A proposta tem sete assinaturas e precisa de oito para tramitar.
A proposta de Péricles, apresentada a nesta terça-feira (6), irritou os dois deputados de oposição. Wilker disse que a apresentação do novo pedido é uma “farsa” e que a nova CPI é “governista”. “Não vão querer que se investigue o contrato da Nilton Lins?”, disse.
Dermilson tachou o movimento como uma “manobra do governo”. E acusou Péricles de atuar como base do governo. “Wilson (Lima, governador) já ligou para todo mundo aqui”, disparou.
Péricles reagiu e se disse independente. Afirmou que não tirará sua assinatura do primeiro pedido de CPI e que só apresentou o novo porque na proposta de Dermilson não há “fato determinado” para se investigar, como prevê a lei que rege a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Wilker e Dermilson condicionaram adesão à nova CPI a um aditamento para que contratos do governo durante a pandemia sejam investigados. Eles já não acreditam que a CPI proposta por eles terá a assinatura que falta para tramitar, o que garantiria a Dermilson a presidência ou relatoria.
O que disseram os deputados
Serafim Corrêa
“O objetivo da CPI tem que ser dar uma resposta a sociedade sobre de quem foi a responsabilidade pelas mortes de milhares amazonenses. Muitos aqui perderam parentes, perderam familiares, e todos nós de alguma forma sofremos com isso”, disse Serafim.
“Aí temos uma situação, temos a CPI proposta pelo ilustre do deputado Dermilson, que é uma CPI que aborda vários pontos e temos a CPI proposta pelo ilustre deputado Péricles, que entende de apurar a questão do oxigênio. O oxigênio é um dos itens da falta de atendimento, porque quando nós precisávamos de oxigênio a Capitã Cloroquina veio aqui e disse que o que precisávamos era de tratamento precoce. Então, numa decisão em bloco, eu e o deputado Sinésio, queremos que apure isto e entendemos que isto se amolda melhor na comissão proposta pelo deputado Péricles. Entendendo que não há nenhuma dificuldade de nós instalarmos essa comissão para apurar a falta de oxigênio que está entrelaçada com essa questão aqui. Concordarmos com a linha do deputado Péricles e esperamos que outros colegas assinem para que seja atingido as oito assinaturas necessárias”, completou o líder do PSB.
Sinésio Campos
Sinésio disse que este é o momento para fazer um debate, sobretudo, da vida. “Foram mais de 13 mil pessoas que foram a óbito (no Amazonas). Uma CPI que trate especificamente da morte, da ausência de oxigênio. Dialogamos e tratamos para que fosse incluído exatamente este item nesta CPI proposta pelo Delegado Péricles. Esta CPI não é só a CPI da asfixia, é a CPI da vida, não é do proselitismo barato, nós estamos defendendo a vida. E aí todas as pessoas envolvidas no genocídio dessas 13 mil pessoas que sejam responsabilizadas”, disse.
“Estamos colocando a nossa assinatura para que seja tratado especificamente dos responsáveis pelas mortes na ausência de oxigênio para o povo do Amazonas. CPI tem que ter um fato gerador específico, a partir do momento que uma CPI trata de pontos genéricos é que não quer chegar a lugar nenhum, quer discutir tudo e não chegar a lugar nenhum. A sociedade quer respostas e quem sentiu na pele é quem perdeu um familiar, um parente, um irmão. Eu analisei muito friamente e de forma cristalina, não vou colocar meu nome em CPI que quer fazer proselitismo político, vamos fazer um debate de alto nível”, completou o líder do PT.
Wilker Barreto
Wilker disse : “O que querem criar hoje aqui na Assembleia não terá a minha assinatura. Uma CPI que entra agora às 10 horas da manhã para investigar apenas um dos itens, o colapso que passou o Amazonas, que foi o oxigênio”. “É uma CPI governista, uma CPI que não vai adentrar nos contratos, que não vai adentrar no abandono dos contratos do interior, uma CPI que o deputado Péricles, é coautor junto comigo e Dermilson da primeira, e aí que está”, completou.
“A proposta minha, do deputado Dermilson e do deputado Péricles (primeiro pedido apresentado) apura a pandemia, que é um exercício de 12 meses. O contrato do aluguel do hospital Nilton Lins ninguém quer investigar, não? Omissão e negligência administrativa na abertura de novos leitos, ninguém quer investigar, não? Isso aqui não é fato concreto, deputado Péricles? Falta de transparência aos órgãos de controle e a sociedade sobre as medidas de enfrentamento à pandemia, isso não é fato concreto? Gastos com publicidade em detrimento à saúde não é fato concreto?”, questionou.
“Aí, a CPI do Péricles quer investigar só aquilo que o Brasil e o Amazonas já sabem. A crise do oxigênio já está bastante adiantada no Senado. A CPI do Senado já está apurando a questão da crise do oxigênio. O vosso pedido não entra em nenhum contrato. Um pedido que entra às 10 horas da manhã, eu não assino. Não assino uma CPI que tira da relatoria o Podemos. Uma CPI que esta Casa falta com o respeito com o povo em não apurar os milhões que pertencem aos contribuintes fazer uma CPI para apurar apenas um dos itens para a crise instalada no Amazonas. Isso é faltar com o respeito com o povo. É uma CPI governista. Eu preciso alertar o povo do Amazonas”, disparou.
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