Por Lúcio Pinheiro |
Em seu primeiro discurso como procuradora-geral do Ministério Público de Contas (MPC) do Amazonas, Fernanda Cantanhede fez um convite às mulheres para a luta contra o sexismo e, aos colegas de MPC, ao combate à corrupção.
Única mulher a ocupar o cargo máximo do MPC no Amazonas, Cantanhede iniciou sua fala, na cerimônia de posse, nesta terça-feira (21), chamando a atenção para a marcante presença masculina na mesa das autoridades no evento.
“Ao olhar para essa digna, competente e seleta mesa, é impossível deixar de mencionar que o sexismo ainda está muito presente entre nós, sendo os cargos mais relevantes da sociedade ocupados, em sua grande maioria, ainda por homens”, declarou a procuradora.
Cantanhede falou que, como marca desta sociedade, assim como ocorre com outras mulheres, experimentou episódios de discriminação, que foram superados na sua carreira profissional com estudo e trabalho.
“E quanto orgulho tenho de ser mulher. Lidei com algumas discriminações veladas, sim. Mas nunca sofri preconceito nas minhas batalhas profissionais, pois sempre respondi com trabalho, dedicação, para merecer o respeito necessário para impor o reconhecimento que hoje venho colhendo”, afirmou a procuradora.
“Sim, mulheres, estamos aqui para ajudar na transformação, para fazer o verdadeiro plot twist da história”, completou Cantanhede.
Corrupção
A procuradora-geral do MPC lamentou que a corrupção ainda seja a razão de muitas mazelas do país. E afirmou que sua gestão focará em ações preventivas e corretivas para “reduzir a sangria dos maus gestores”.
“Lutaremos para fazer valer o nosso mister, e entendo que é possível reduzir a sangria dos maus gestores em desperdiçar o dinheiro público com ações preventivas e corretivas, como já vinha sendo feito na excelente gestão do nobre colega Dr. João Barroso”, disse Cantanhede.
“Ao tomar posse no cargo de procuradora-geral do MPC, tenho a absoluta certeza da grande responsabilidade que assumo pela segunda vez em minha carreira no parquet, e o faço por uma grande e premente vontade de contribuir ainda mais, de servir, de executar. Porque acredito que o mundo perfeito não pode ficar no multiverso. Cabe a nós promover uma realidade justa e proba para a nossa existência neste universo terreno”, completou a procuradora.
Projetos
Cantanhede anunciou no seu discurso de posse algumas medidas que pretende tomar na sua gestão. Uma delas é criar uma espécie de levantamento do montante de verbas públicas desviadas nos municípios, fruto de corrupção.
“Queremos, pretendemos, instituir índices avaliatórios, como de corrupção municipal, que avaliará anualmente o montante de verba desviada em cada cidade do estado do Amazonas, em cotejo com os investimentos efetuados para a melhoria da qualidade de vida da respectiva população. Assim como de acessibilidade, que mostrará como anda a infraestrutura dos municípios amazonenses”, declarou a procuradora.
“Não vamos tolerar retrocessos sociais que dificultem ou inviabilizem as conquistas que já foram alcançadas em prol da coletividade, porque o que queremos é ver o dinheiro dos impostos dos cidadãos ser efetivamente aplicado em seu benefício e naquilo que mais seja necessário para uma vida digna. Nesse passo, nossa gestão será pautada pela transparência, lealdade institucional, independência funcional e, acima de tudo, pelo respeito entre membros do Ministério Público de Contas, conselheiros da Corte (do Tribunal de Contas do Estado), auditores e servidores, para que haja o alinhamento necessário para inviabilizar a malversação do dinheiro público”, completou.
Perfil
Eleita para o biênio 2022-2024, Fernanda Cantanhede Veiga Mendonça é procuradora do MPC há 23 anos.
No órgão, atuou em áreas como a coordenadoria de Infraestrutura e Acessibilidade, cargo que ocupava até o momento.
A nova procuradora-geral assume na vaga deixada pelo procurador João Barroso, que esteve à frente do MPC nos últimos quatro anos, tempo máximo permitido em lei para o cargo.
A nomeação para o cargo de procurador-geral do MPC é feita pelo governador do Estado.
O nome de Cantanhede foi escolhido por Wilson Lima (UB) de uma lista onde constavam outros 8 membros do MPC.
Cantanhede é formada em direito e pós-graduada em Direito Civil pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). É casada com o presidente da OAB-AM, Jean Cleuter Mendonça, e mãe de dois filhos.
Essa é a segunda vez que Cantanhede assume a chefia do MPC.