MANAUS – Até esta quinta-feira (29), apenas três médicos dos 188 aprovados no novo edital do Mais Médicos para o Amazonas se apresentaram nos seus respectivos postos de trabalho. Os três em Manaus. O número representa 0,9% das 322 vagas disponíveis pelo programa para o estado. As informações são do presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems), Januário Neto, obtidas junto ao Ministério da Saúde.
A adesão de 188 médicos ao programa para as vagas no Amazonas representa uma cobertura de 58,38% do total de vagas (322). O interesse dos médicos por muitos municípios tem sido pouco. Em cinco cidades, ainda não há sequer uma inscrição. Sãos os casos de Atalaia do Norte (que tem 3 vagas), Japurá (3 vagas), Juruá (3 vagas), Jutaí (6 vagas) e Tapauá (3 vagas).
Desinteresse por áreas indígenas
O desinteresse para atuar nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) também é alto. Dos sete DSEIs existentes no estado, apenas o de Manaus preencheu as dez vagas disponíveis. O distritos do médio Purus e do médio Solimões não despertaram o interesse de nenhum médico brasileiro. O primeiro tem 7 vagas, e o segundo 12. Dos 92 postos de emprego disponíveis nos DSEIs, apenas 20 foram preenchidos até aqui. Uma cobertura de 21,7%.
Januário, que é secretário de saúde de Manaquiri, diz que muitos médicos que já atuam nos municípios têm se interessado pelas vagas do programa, mas a incompatibilidade de carga horária acaba impedindo. “A questão do vínculo [com outras USBs] realmente será impedimento para muitos médicos nesta etapa”, comenta o secretário.
Coberta curta
Estudo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) divulgado pelo portal G1 nesta quinta-feira (29) mostra que aproximadamente 40% dos profissionais aceitos no novo edital do Mais Médicos já atuavam na chamada “Estratégia de Saúde da Família” do SUS.
A constatação, segundo o presidente do Conasems, Mauro Junqueira, é a de que os médicos apenas estão migrando de uma UBS para outra, com a população permanecendo desassistida. “Em vez de somar profissionais, esse novo edital está trocando o problema de lugar. Se o médico sai de um serviço do SUS para atender em outro, o município de origem fica desassistido, principalmente no Norte e Nordeste”, disse o presidente do Conasems ao G1.
Segundo o estudo, no Amazonas, das 188 vagas preenchidas, 95 são por profissionais que já atuavam na saúde pública.
De acordo com Januário, no Amazonas, outro problema é que muitos dos 188 médicos que já aderiram às vagas, que são de outros estados, só querem se apresentar nos locais de trabalho após o Natal. “Muitos médicos de fora do estado [estão] contatando gestores para se apresentar após o Natal”, disse o presidente do Cosems ao ESTADO POLÍTICO. A apresentação dos profissionais tem de ser feita até o dia 14 de dezembro, de acordo com o edital do Ministério da Saúde.
Efeito Bolsonaro
O governo cubano desistiu da parceria que mantinha com Brasil no Mais Médicos depois de declarações depreciativas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sobre o regime cubano e a qualificação profissional dos médicos.
A inscrição no programa vai até o dia 7 de dezembro. Veja abaixo a lista de municípios do Amazonas e a quantidade de médicos que se interessaram até aqui pelo posto de trabalho no estado.
Balanço nacional
Segundo o Ministério da Saúde, até ás 17h desta quinta-feira, foram registrados 33.542 inscritos com registro (CRM) no Brasil. Desse total, 8.366 profissionais já estão alocados no município para atuação imediata. Ou seja, mais de 98% das vagas já foram preenchidas. De acordo com o informado pelos municípios, 1.644 profissionais já se apresentaram ou iniciaram as atividades.
O Ministério da Saúde informa que o edital do programa Mais Médicos é uma seleção para a ocupação de vagas de médicos nos municípios. Assim, como todo processo seletivo, os participantes possuem autonomia em assumir ou não a vaga selecionada. O órgão diz que, em caso de necessidade, irá realizar novas chamadas até que complete o quadro de vagas do programa.
Programa
O Programa Mais Médicos ampliou à assistência na Atenção Básica e conta com 18.240 vagas em mais de 4 mil municípios e 34 DSEIs, levando assistência para cerca de 63 milhões de brasileiros.
Os profissionais recebem bolsa-formação (atualmente no valor de R$ 11,8 mil) e uma ajuda de custo inicial entre R$ 10 e R$ 30 mil para deslocamento para o município de atuação. Além disso, todos têm a moradia e a alimentação custeadas pelas prefeituras.