MANAUS – O superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Saraiva, ao comentar reação de Ricardo Salles a uma operação da PF contra o desmatamento, declarou à Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (5) que é a primeira vez que vê um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação que visa proteger a floresta amazônica.
Salles foi na quarta-feira (31) ao Pará, onde fez uma verificação da operação. O ministro aponta falhas na ação e tem dito que há elementos para achar que as empresas investigadas estão com a razão.
“É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”, afirma Alexandre Saraiva.
Sobre a apuração sob o seu comando, ele conta desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira fruto de ação criminosa foram apreendidos. As empresas responsáveis pela madeira irregular, segundo Saraiva, até agora não apresentaram documentos requisitados pela PF.
Na entrevista, ao mesmo tempo em que diz ver o governo Bolsonaro comprometido com a proteção do meio ambiente, diz que na PF do Amazonas “não vai passar boiada”, em referência a uma fala de Salles de abril de 2020, quando em reunião ministerial sugeriu “passar a boiada” para flexibilizar as regras ambientais.
“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, declarou Salles à época.
Confira outros trechos da entrevista de Saraiva:
“Estou há dez anos na Amazônia. Na minha opinião, a exploração, nesses moldes, inviabiliza a exploração legal da madeira, sufocada por uma organização criminosa. É por isso que a madeira brasileira de alta qualidade está sendo vendida nos EUA a um preço de compensado, de pinus, e, na Europa, a preço de eucalipto. O ministro disse que eu recuei sobre a questão da responsabilidade dos países europeus [no desmatamento]. Jamais. Nunca recuei. Não significa dizer com isso que o Brasil não tem responsabilidade sobre a preservação da Amazônia. De forma alguma. Mas é claro que o consumo incentiva o crime”.
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“Vejo esse governo comprometido com a proteção do meio ambiente. Acho que vamos terminar o ano com índice bem baixo de desmatamento. Há uma estratégia correta, atacando o problema onde ele tem que ser atacado, que é dentro do processo administrativo”.
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“Não vou e não posso fazer qualquer comentário sobre manifestação do ministro do Meio Ambiente em situação que não envolva a superintendência da PF no Amazonas. Mas aqui na Polícia Federal não vai passar boiada”.
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