MANAUS – O Ministério da Saúde está pressionando a Prefeitura de Manaus para que medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, como cloroquina e ivermectina, sejam prescritos durante os atendimentos de possíveis casos da doença nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade, que vive uma nova onda de infecções do vírus.
A informação foi divulgada nesta terça-feira (12) pela coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo (confira aqui na íntegra).
Em ofício enviado à Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), o ministério afirma ser “inadimissível” não usar as medicações. O ofício é assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde, Mayra Pinheiro, que esteve na capital na semana passada, quando defendeu o “tratamento precoce”.
O documento pede autorização para que o ministro Eduardo Pazuello fizesse uma ronda nas UBS “para que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.
“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação”, diz o ofício.
Ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus – Reprodução
Defesa pública: ‘Não mata’
Em visita a Manaus nesta segunda-feira (11), sem citar nome de medicamentos, o ministro Eduardo Pazuello defendeu que os médicos realizem diagnóstico e prescrevam tratamento precoce para a Covid-19.
“Senhores, senhoras, não existe outra saída! Avisei ontem o Wilson (Lima, governador do Amazonas pelo PSC) que hoje eu seria mais incisivo em algumas palavras. Nós não estamos mais discutindo se esse profissional ou aquele concorda ou não concorda”, disse Pazuello.
Para justificar a defesa ao chamado tratamento precoce, o ministro citou orientações dos Conselhos Regionais de Medicina favoráveis à prescrição de medicamentos.
“Os conselhos federais e regionais (de medicina) já se posicionaram, os conselhos são a favor do tratamento precoce, do diagnóstico clínico”, emendou.
“A orientação é precoce. Então, os diretores dos hospitais devem cobrar na ponta da linha da UBS como o médico está se portando. O cara tem que sair com um diagnóstico, até porque a medicação pode e deve começar antes dos exames complementares. Caso o teste depois der negativo por alguma razão, reduz a medicação e tá ótimo, não vai matar ninguém, agora salvará no caso da Covid”, prosseguiu.
“Existe a liberdade e a necessidade do tratamento individualizado, cada paciente e médico tem um nível de conhecimento e cuidado que pode mudar o tratamento, mas o tratamento tem que ser imediato e os medicamentos têm que ser disponibilizados imediatamente. O paciente precisa se medicar e ser acompanhado pelo médico, essa dúvida não existe”, disse Pazuello.
Tratamento
O tratamento da Covid-19 é sintomático e com suporte de oxigênio, uma vez que não há nenhuma droga que comprovadamente se mostrou capaz de reduzir a replicação viral do SARS-CoV-2, o causador da Covid-19.
Apesar disso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu governo e apoiadores têm defendido o uso do antiparasitário ivermectina (usado contra piolhos) e do anti-malárico cloroquina no tratamento da doença com base em estudos feitos no início da pandemia e que já caíram em descrédito na comunidade científica internacional.
Pesquisadores e médicos dizem que a detecção precoce é importante para que os níveis do oxigênio e comprometimento dos pulmões possam ser monitorados e que o paciente possa receber suporte mais avançado caso a doença agrave.
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