MANAUS – Reportagem da Folha de São Paulo publicada na tarde desta sexta-feira, 20, mostra que o Ministério Público Militar do Amazonas (MPM-AM) abriu um procedimento interno para apurar possível crime do Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus.
O caso é investigado a partir de dois ofícios produzidos pelo Governo do Amazonas que detalham a atuação do Exército em 9 de janeiro, data em que o acampamento pró-golpe foi desmontado em frente ao Comando Militar da Amazônia. Nos ofícios, o Estado diz que no dia da operação, o CMA guardou pertences dos golpistas e chegou a negociar, individualmente, dentro no Comando Militar, com lideranças do movimento.
O MP Militar, de acordo com o procurador da Justiça Militar do Amazonas, José Luiz Pereira Fato, foi informado do episódio pelo Ministério Público Federal na segunda-feira, 16, o que originou a investigação.
“O procedimento aberto é preliminar de investigação, denominado Notícia de Fato, no qual serão apurados, rigorosamente, todos os fatos relacionados na documentação enviada pela Procuradoria da República no Amazonas, no que concerne a crimes militares”, afirmou Gomes.
Após 70 dias, o acampamento bolsonarista pró-golpe militar foi desmobilizado pela Secretaria de Segurança do Estado do Amazonas da frente do Comando Militar da Amazônia no dia 9 deste mês.
O desmonte do acampamento, que por mais de 2 meses afetou negativamente a vida de quem mora e de quem precisa passar por aquela região da zona Oeste de Manaus, só ocorreu após uma decisão judicial do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Na decisão emitida na noite de domingo (8), o ministro deu 24 horas para que os estados desmobilizassem esses acampamentos.
No Amazonas, o local escolhido pelos eleitores que não aceitaram o resultado das urnas para pedir intervenção militar no país foi o CMA.
A goda d’água para a tomada de decisão do ministro do STF foi a invasão de criminosos bolsonaristas as sedes do Três Poderes em Brasília.
Ofícios
De acordo com a reportagem da Folha de São Paulo, no primeiro ofício, o titular da SSP-AM, general Carlos Alberto Mansur, afirma que o Exército “disponibilizou, para quem solicitou, espaço para guarda temporária de material usado no manifesto” e “realizou negociação de forma individual e, dentro do quartel, diferente do tratado em reunião, quando seria em conjunto com a Polícia Militar”.
No segundo ofício, o comandante-geral da PM do Amazonas, Marcus Vinícius Oliveira, afirma que o CMA não disponibilizou soldados para o cumprimento da operação, embora tenha integrado o gabinete de crise criado pelo Governo do Amazonas após os ataques golpistas em Brasília (DF).
Na reportagem, o jornal diz que o CMA, em nota, confirmou que guardou, por 48 horas, materiais de bolsonaristas. “(O armazenamento dos pertences) ocorreu como parte das negociações, para que os manifestantes não mais retornassem ao acampamento, medida tomada em auxílio à SSP-AM para o efetivo cumprimento da medida judicial”.
Já a negociação dentro do quartel, segundo o Comando Militar, aconteceu após pedido dos golpistas acampados para falar com o comandante do CMA, general Achilles Furlan Neto.
“A fim de que as tratativas chegassem ao resultado buscado (desocupação do local sem o emprego de força e com o mínimo de dano colateral), o oficial negociador do CMA conduziu integrantes da manifestação à sala de Relações Públicas para tratar do assunto”, disse o Exército.