MANAUS – O deputado federal José Ricardo (PT) avalia que, com a saída de Sergio Moro, o governo de Jair Bolsonaro consolida seu “desmoronamento”.
Ex-juiz dos casos da operação Lava Jato, Moro anunciou que pediu demissão do cargo de Ministro da Justiça no fim da manhã desta sexta-feira (24). Ele acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal (PF) e, assim, ter acesso a investigações e relatórios da inteligência.
“O que está acontecendo é que o governo do Bolsonaro está desmoronando, está derretendo. Já saíram outros ministros. Os militares estão tomando conta. Saiu o Mandetta, que defendia isolamento social contra o coronavírus e agora sai o Moro”, disse o petista ao ESTADO POLÍTICO.
“O Moro ele estava como ministro como um prêmio por ter impedido o Lula de ser candidato, e com isso ajudou Bolsonaro a ser eleito (em 2018)”, afirmou, em referência ao fato do juiz ter sido o responsável, em primeira instância, por ter condenado o ex-presidente à prisão, meses antes das eleições presidenciais.
“Ele pouco entendia de segurança pública e pouco realizou realmente para melhorar a segurança no Brasil e aqui no Estado do Amazonas. Ele não investigou esse caso em relação às fake news (notícias falsas), os esquemas da família do Bolsonaro, do (Fabrício) Queiroz, o caso Marielle (Franco) não foi concluído, e também o ministro que ficou calado quando a democracia foi atacada, e as instituições como o STF e o Congresso Nacional”, ressaltou.
“Aqui no Amazonas e na Amazônia também não teve uma atuação para coibir as invasões de Terras Indígenas e os desmatamentos ilegais”, acrescentou.
“E agora tá saindo do governo quando deveria, na verdade, permanecer e lutar contra pandemia, mas, está pulando fora”, disse.
Demissão
Ao anunciar que pediu demissão do cargo, Moro disse que o estopim para a decisão foi a insistência de Bolsonaro em trocar do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, sem uma justificativa aceitável. Valeixo atuou em casos da operação Lava Jato na época em que Moro era o juiz responsável pelo caso.
Segundo o ex-juiz, Bolsonaro queria alguém no comando da PF para quem pudesse telefonar para saber as informações privilegiadas.
“Falei ao presidente que a saída (de Maurício Valeixo) seria uma interferência política. (…) o presidente tem a preferência por alguns nomes. Mas a questão é porquê trocar? O presidente me disse mais uma vez que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele. Esse não é o papel da Polícia Federal (fornecer informações de relatórios de inteligência). (…) eu sinto que tenho o dever de proteger a Polícia Federal”, declarou.
Segundo Moro, Bolsonaro queria trocar o comando da PF em Pernambuco e no Rio de Janeiro, principal reduto eleitoral do clã Bolsonaro e onde há investigações federais em curso contra dois filhos do mandatário da Presidência da República.
Sobre a exoneração de Valeixo, que levou sua assinatura no Diário Oficial da União (DOU), Moro disse não assinou o decreto e que a retirada não foi a pedido.
Moro declarou que não tinha como permanecer no MJ “sem condições de trabalho” e que a atitude do presidente em querer trocar na marra a direção da PF foi uma violação da promessa que ele recebeu para aceitar o cargo: que teria carta branca para agir.
“Não tenho como seguir sem preservar a autonomia da Polícia Federal”, disse.
O ex-juiz da Lava Jato lembrou que deixou para trás duas décadas de magistratura sabendo que isso poderia acontecer e que agora vai descansar um pouco, mas disse que “sempre estará à disposição do país”.
“Eu abandonei 22 anos de magistratura e infelizmente esse é um caminho sem volta. Vou descansar um pouco”, disse.