MANAUS – O ex-governador José Melo afirmou em entrevista a Ronaldo Tiradentes nesta segunda-feira (8) que planejou se suicidar e que deixaria uma carta de 110 páginas com revelações dos bastidores da política amazonense que iam causar “um estrago muito grande”, segundo suas próprias palavras.
Melo falava sobre seu calvário político e pessoal. Após ser cassado, ficou mais de três meses preso em função das suspeitas apontadas pela operação Maus Caminhos.
O ex-governador disse que seu pior momento não foi durante a prisão, mas depois dela, quando perdeu sua conta bancária por recusa do Bradesco em tê-lo como cliente e ser acusado publicamente por uma pessoa de roubar dinheiro da saúde. Foi então que decidiu se matar, mas não sem deixar em detalhes os bastidores da política registrados em uma carta.
“(Seria) Uma herança maldita para os meus filhos. Uma herança maldita para mim do ponto de vista espiritual porque eu ia para o inferno porque ia me matar. Mas, ia deixar um estrago muito grande”, disse.
O nascimento de uma sobrinha, segundo Melo, foi crucial para que ele desistisse de se matar. Melo contou que a irmã de sua esposa, Edilene Melo, teve complicações pós-parto e a criança teve que ficar na casa deles.
“A criança veio e eu tinha colocado aquilo que tinha escrito dentro de uma gaveta e lá ficou”, disse o ex-governador. “Aí me apeguei a criança. Eu fui salvo por aquela criança”, disse.
A carta teria ficado 30 dias na gaveta sem que Melo se lembrasse dela. Quando viu o texto novamente, o ex-governador disse que rasgou e queimou o documento “porque conheci Deus”. “Isso tá apagado da minha vida, eu nunca mais quero saber disso e não queira saber o que é você conhecer o inferno”.
“Você perguntou dos piores dias. Então, não foi na prisão, foi neste dia. Na minha cabeça passou os amigos, passou os inimigos, as traições. Passou tudo, né? E eu botei no papel”, declarou.
Melo disse que nunca revelou os bastidores, nem sempre republicanos, conforme frisado pelo entrevistador, do governo Braga (2003-2010) por lealdade. “Culpa do meu pai que me ensinou a ser assim”, disse José Melo. “Não faria com ele, não faria contigo (Ronaldo), não faria com o Omar (Aziz, senador)”, declarou.
O ex-governador criticou o antigo aliado a quem chamou de “Covid-19”, atribuindo a Braga culpa por sua derrocada política.
Ao ESTADO POLÍTICO, a assessoria do senador Eduardo Braga informou que ele não vai comentar as declarações.
Retorno
Melo agora quer voltar, disputar as eleições de 2022, embora esteja inelegível até lá. Disse que superou as mágoas, que teve uma boa recepção da população ao voltar a aparecer em público e que terá como pauta uma nova matriz econômica para o Estado.