MANAUS – Desde a última terça-feira (19), o interior do Amazonas registra mais casos de Covid-19 que a capital. Apesar disso, o número de óbitos pela doença é menos da metade do registrado em Manaus, o que leva a uma taxa de letalidade de 9,07% na capital e de 4,17% na soma dos demais municípios.
Até esta quarta-feira (20), a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) contabilizava 23.704 casos confirmados no Amazonas, sendo 11.643 em Manaus (49,12%) e 12.061 no interior do estado (50,88%).
Já em relação aos óbitos, Manaus concentra 1.057 contra 504 espalhados por 46 municípios, numa proporção de 67,7% na capital contra 32,3% no interior.
Na avaliação da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), os dados mostram que o comportamento do vírus no interior tende a ter um desfecho melhor que na capital. Para a Susam, a resposta para isso pode estar na boa cobertura de atenção básica.
Enquanto no interior a cobertura da atenção básica alcança cerca de 90% da população, na capital a cobertura é de 51,5%, conforme dados da plataforma e-Gestor de Informação e Gestão da Atenção Básica, do Ministério da Saúde (MS).
A atenção básica é a porta de entrada do sistema de saúde. Ela tem papel preventivo e também de acompanhamento e controle de doenças que podem agravar casos de Covid-19 e, consequentemente, levar à morte.
Em nota à imprensa, o secretário de Atenção Especializada do Interior, da Susam, Cassio Roberto Espírito Santo, ressaltou que “com boa cobertura de atenção básica, os municípios conseguem controlar melhor, investigar mais e notificar mais os casos e, assim, ter um melhor resultado no acompanhamento da população”.
A alta cobertura da atenção primária no interior, segundo a Susam, resulta na baixa ocupação de leitos.
Dos 2.441 leitos totais disponíveis nos municípios, apenas 489 estavam ocupados até esta quinta-feira (21), isto é, cerca de 80% estavam vazios. Dos 82 leitos de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) com respiradores, 41% estavam vazios, informou a Susam.
“Isso mostra que a atenção básica vem funcionando nos municípios e vem atuando de maneira que há uma menor hospitalização”, afirma Cássio Espírito Santo.
O interior, no entanto, carece de atendimento especializado e não tem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Quando um paciente tem o quadro agravado, ele precisa ser transportado para Manaus. A maioria vem em UTI aérea do Governo do Estado.
O prefeito de Envira, Ivon Rates, uma das duas únicas cidades que ainda não têm nenhum caso confirmado de Covid-19, afirma que ter uma atenção primária fortalecida tem feito toda a diferença neste momento de pandemia.
“Até o início do ano, nós éramos o único município no Norte do país onde o cidadão que procurava um serviço de atenção básica não tinha que fazer agendamento. Ele chega e é prontamente atendido”, observa.
“Aqui, o cara para se consultar, ele se consulta. Ele chega para fazer o exame e ele faz. O índice de vacinação aqui é bom. Feijó, Itamaracá e Eirunepé que nos cercam têm dengue e malária. Nós não temos dengue nem malária aqui porque temos uma barreira sanitária. Já tem muito tempo que nós conseguimos acabar com a malária. O índice de hepatite diminuiu muito também”, ressalta.
Rates reconhece que a estrutura de saúde de média complexidade é precária e a de alta é praticamente inexistente. “As especialidades são buscadas fora, na grande maioria. Mas, o básico, graças a Deus, a gente dá isso à população”, completa.
“Nesta hora (de pandemia), se você for olhar nosso hospital e nossos postos não são lotados, não têm fila. Quando tem uma necessidade de uma especialidade, a gente encaminha para Rio Branco (AC) ou para Manaus”, informou.
A secretária municipal de Saúde de Ipixuna, Alcliene Lopes, corrobora essa avaliação da relação direta entre a atenção básica fortalecida e o menor índice de mortalidade. Ipixuna é outro município onde não há casos confirmados de Covid-19.
“As pessoas são atendidas nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) e o médico já vê os sintomas e, se tiver alguma situação que precise ser encaminhada para o hospital, ele já faz logo isso. A nossa farmácia sempre está abastecida também. Os tratamentos são feitos precocemente”, afirma a secretária.
“Eu acredito que, aqui em Ipixuna, uma das coisas que ajudou muito também foi a questão da educação em saúde. Todas as equipes de saúde da família trabalham com orientação”, acrescenta.
+Comentadas 1