MANAUS – Dez meses após deixar o cargo, a ex-secretária de Comunicação do Amazonas Daniela Assayag publicou um desabafo nas redes sociais nesta segunda-feira (3) após a Polícia Federal concluir, em seu relatório sobre a compra de respiradores alvo da operação Sangria, que não há elementos atribuir envolvimento ou culpa à jornalista.
O caso rendeu uma denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra o governador Wilson Lima, o vice Carlos Almeida e mais 16 pessoas. O marido de Daniela, o médico Luiz Avelino, foi denunciado, mas ela, não.
“Não fui indiciada ou denunciada porque nada fiz. Este é o fato. E sigo convicta que as verdades que ainda não foram totalmente esclarecidas serão no momento certo porque eu acredito na justiça”, escreveu Daniela, ao ressaltar que a afirmação de sua inocência ficou resumida a uma nota de rodapé do relatório da PF, como observou o ESTADO POLÍTICO.
No texto no Facebook, a jornalista diz que “a indignação da inocente diante da calúnia proferida, deu lugar a calmaria de quem enfrenta os maiores desafios com a arma da verdade”.
Agora, ela afirma se sentir à vontade para voltar às redes sociais, onde diz ter sido alvo de ataques de ódio na época da operação.
Reprodução/Facebook
Confira o texto na íntegra:
Silêncio. Paciência. Tempo.
Logo eu, aquela que sempre falava tanto e não conseguia esperar por nada? Impossível!
Mas, incrivelmente, nos últimos dez meses foram essas palavras de Sêneca que me sustentaram diante das ilações e do escárnio. As vezes a vontade era gritar, mas ao contrário, preferi o silêncio. Queria sair correndo, desaparecer, mas tive paciência. E o tempo? Esse que sempre passou tão rápido, dessa vez se arrastava.
Mas a hora chegou. As lágrimas secaram. E eu estou aqui.
A indignação da inocente diante da calúnia proferida, deu lugar a calmaria de quem enfrenta os maiores desafios com a arma da verdade. O relatório da Polícia Federal foi divulgado na semana passada: não há referência a mim.
Eu que já estive nas manchetes dos noticiários fui resumida a uma nota de rodapé dizendo que “não há elementos suficientes para que se impute a participação efetiva no delito ora descrito”. Quem entende de redação jurídica sabe que “suficiente” e “efetivo” são adjetivos normalmente usados pelos operadores do Direito.
Não fui indiciada ou denunciada porque nada fiz. Este é o fato. E sigo convicta que as verdades que ainda não foram totalmente esclarecidas serão no momento certo porque eu acredito na justiça.
Para quem gosta de mim de forma anônima, para aqueles que me deram pelo menos o benefício da dúvida e, principalmente, àquelas pessoas que nunca soltaram minha mão, o meu mais sincero obrigada.
As mensagens que recebi, via os mais diversos meios, me ajudaram muito a não esmorecer e seguir em frente: li como nunca, fiz todos os cursos online possíveis, comecei uma nova faculdade. Quem sabe tantos pensamentos anotados não virem livro, né? Quem sabe…
Para quem mentiu ou mandou mensagens de ódio, quero dizer que está tudo bem. Nas minhas inúmeras leituras sobre comportamento humano entendi que esse tipo de atitude tem razões ancestrais (desde quando vivíamos em bandos, nas árvores), ou seja, está em nós, seres humanos, desde que o mundo existe.
E hoje, com as redes digitais a exposição é mais cruel. Esse é o mundo que temos para viver, não há como fugir dele. Fui julgada, condenada e executada em praça pública. Depois inocentada, mas agora reservadamente, em um documento oficial, sem alardes e nem manchetes.
Minha última postagem por aqui foi há 10 meses, quando anunciei que deixava o cargo de secretária de comunicação do Estado. Desde então me recolhi.
Volto, agora, a esta “convivência digital” para seguir minha vida. Renovada. Leve.