Por Janaína Andrade |
A advogada Meg Rocha lançou o livro “Flor Bela”, uma obra infantil que aborda de forma sensível e delicada a violência sexual contra crianças e adolescentes. O lançamento ocorreu na terça-feira, 18, no Centro de Formação Maromba, localizado na Rua Maromba, no bairro Chapada, Zona Centro-Sul de Manaus. A obra, de autoria própria, surge como um alerta ao público infantojuvenil sobre os perigos dos toques inadequados, os sinais da criança e adolescente vítimas de violência sexual, o perfil da pessoa que pratica o abuso, e busca ser uma ferramenta de sensibilização e prevenção.
A ideia do livro nasceu da experiência de Meg Rocha como integrante da Rede de Proteção ao Direito das Crianças e dos Adolescentes no Amazonas, onde atua há anos no enfrentamento à violência sexual. A advogada da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, por meio do Projeto Içá – Ação e Proteção, explicou que a motivação para escrever “Flor Bela” veio da vivência com casos de abuso sexual que acompanhou ao longo de sua carreira.
“A vivência com os casos que acompanhamos como rede, a dor e destruição familiar que o abuso sexual causa às crianças e aos adolescentes. A violação no corpo e na alma, na identidade dessas pessoas, foi uma das motivações para pensar em escrever um livro sobre a temática”, afirmou Meg.
Ela destacou que a obra foi inspirada por uma situação de constrangimento vivida pela Rede de Proteção em um órgão público, quando foram convidados a sair de uma sala. “Naquele dia, cheguei em casa exausta e escrevi um enredo. Li para o meu filho, Antoine, que foi meu primeiro ouvinte, e depois para outras pessoas. A proposta de publicar uma obra infantil já estava em mente”, contou.
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A história de “Flor Bela” gira em torno de uma flor que vive em um jardim e é abordada por um jardineiro, a pessoa que deveria cuidar, com “toques diferentes e estranhos”. A autora optou por não dar um rosto ao personagem que representa o abusador, para romper com o estereótipo de “lobo mal”, porque pode ser homem ou mulher, de qualquer classe social ou idade. Esta uma decisão discutida com a ilustradora Martha Bernardo, que captou a essência da proposta desde o início. A obra também incorpora elementos regionais da Amazônia, como termos do vocabulário local, como “jururu”, “amuada” e “jacinta”, além de flores típicas da região.
Meg Rocha enfatizou que o livro não apenas expõe a realidade da violência sexual, mas também busca oferecer esperança e ressignificação para as vítimas. “A ideia é que Flor Bela seja utilizado como instrumento para abordar esse tema tão triste em nossa sociedade, incentivando a cultura do cuidado entre famílias, escolas, comunidades e outros espaços”, explicou. A linguagem delicada da obra aborda as nuances psicológicas e emocionais do abuso, além de traçar o perfil do agressor, mas sempre com um vislumbre de cura e superação.
A autora ressaltou a importância de discutir o tema de forma aberta e sensível. “A ideia é que o livro Flor Bela seja utilizado como instrumento para abordar esse tema tão triste na nossa sociedade como uma ferramenta para incentivar a cultura do cuidado entre as famílias, nas escolas, nas comunidades, nas igrejas, nos clubes de leituras, nos conselhos de direito, nos conselhos tutelares, considerando que a linguagem do livro é delicada, pintando todo o cenário da violação, as nuances psicológicas, emocionais, o perfil da pessoa que pratica o abuso, mas com um vislumbre de esperança, de cura, ressignificação”, disse Meg ao site Estado Político.
Com ilustrações que mesclam delicadeza e regionalismo, “Flor Bela” é um chamado à conscientização e à ação em prol da proteção dos direitos das crianças e adolescentes.