MANAUS – Coordenador executivo nacional da Rede Sustentabilidade e porta-voz do partido no Amazonas, Tácius Fernandes afirma em entrevista ao ESTADO POLÍTICO que a prioridade “número 1” da legenda em 2022 será eleger Luiz Castro para a Câmara dos Deputados. Para Tácius, o amazonense dará uma grande contribuição ao Brasil elegendo Castro deputado-federal.
O dirigente partidário diz que, além da estratégia local, a eleição de Castro para a Câmara e não para o Senado será importante nacionalmente para ajudar a Rede ultrapassar a cláusula de barreira eleitoral (que assegura tempo de televisão e fundo eleitoral).
Ele também revela que, para a disputa da Assembleia Legislativa (ALE-AM), o partido conversa com dois vereadores da capital e também aposta na candidatura de um líder indígena.
Na entrevista, Tácius fala sobre eventuais alianças para o Governo do Estado e faz uma análise sobre o cenário para a disputa pelo Palácio do Planalto.
Confira a entrevista na íntegra:
ESTADO POLÍTICO – Queria que você fizesse um panorama breve do partido após 2018, quando passou a integrar o Governo do Estado com a eleição de Wilson Lima e depois saiu. Até então, o partido era muito ativo, com uma marca e presença fortes. A gente sabia os passos. Mas depois pouco se ouviu falar sobre os rumos da Rede no Amazonas…
TÁCIUS FERNANDES – Primeiro que a eleição do Wilson naquele momento foi importante. Porque o grupo do Amazonino já estava no poder há quase 40 anos. Então, naquele momento acreditávamos que o Wilson poderia ser algo diferente. Inclusive, ajudamos com o plano de governo, entregamos carta de compromisso, com teses da causa do meio ambiente. E nós também tínhamos na chapa do Wilson o candidato a senador, o Luiz Castro, que é um grande quadro e que quase foi eleito. Então, naquele momento estávamos acompanhando o governo. Durou dois, três meses, mas aí o governo começou a desviar o foco, culminando com a saída do Luiz Castro da Seduc, em agosto.
Ele (Luiz Castro) ficou muito pouco tempo na Seduc e conseguiu provar que tudo aquilo que acusaram ele era mentira. O Luiz tá muito bem hoje. Ele, lógico, se ausentou um pouco do processo da política, por isso talvez a Rede não tenha ganhado tanta visibilidade no Estado. E ele tenta se resguardar. Em 2020, ele não participa das eleições, a Rede tem uma chapa muito frágil em 2020, até porque, com a saída do governo, isso debilitou a Rede. Mas, agora em 2022, o partido está se preparando para eleger o Luiz Castro deputado federal.
EP – Então, esse é o projeto do partido no Amazonas para o ano que vem?
TF – Isso. A prioridade número 1 é eleger o Luiz Castro deputado federal, tanto a nível da direção estadual do partido quanto a nível federal. Ele é um quadro nacional do partido e vamos fazer todos os esforços para elegê-lo. Ele na Câmara dos Deputados vai ser muito importante, não só para o Amazonas, mas para o Brasil. Imagina o Luiz debatendo a Amazônia no cenário que nós estamos? A gente percebe que temos poucos – apesar das divergências temos o Marcelo Ramos (PL), que é um bom deputado na Câmara, o único que sobressai, os outros você não sabe nem quem são. E, justiça seja feita, tem também o José Ricardo (PT), que tem bandeiras importantes, mas não tem tanta visibilidade quanto o Marcelo.
EP – Você acha que esse recall das eleições de 2018, quando o Luiz Castro bateu na trave e quase foi eleito senador, vai ser suficiente para garantir esse cadeira na Câmara ou vai precisar de um trabalho muito intenso de partido?
TF – O Luiz Castro já foi prefeito de Envira e tem cinco mandatos de deputado estadual. Então, não é só o recall do “quase” em 2018. Ele tem muita trajetória no parlamento do Amazonas, um recall de mais de 20 anos de trabalho. A eleição de 2018 foi muito importante porque ele ganha, junto com o Plínio, em Manaus, mais de 500 mil votos só na capital. Eu acho que esse recall tem uma memória afetiva do “quase”, para fazer justiça porque não foi eleito. O atual senador, Eduardo Braga (MDB), ganhou no interior, mas ficou muito aquém na capital.
O Luiz Castro sempre foi um deputado de mandato exemplar, com forte defesa do meio ambiente e infância e juventude. Acho que é dever do amazonense eleger o Luiz Castro. Nós precisamos de um deputado que tenha pauta amazônica e que realmente nos traga orgulho de ser amazonense, porque, fazendo justiça aos deputados Marcelo Ramos e José Ricardo, nós precisamos de mais.
EP – E como está a relação dele com o partido? Teve algum momento de afastamento?
TF – O Luiz Castro continua na direção estadual do partido. Inclusive, em abril nós tivemos o congresso e ele foi eleito na direção nacional. E tem sinalizado que está conosco. Ele tá construindo um plano de chapa, um plano de debate.
Lógico que ele é um cara que teve quase 600 mil votos. É impossível ele não receber convite de outros partidos. Todo mundo quer o Luiz Castro no seu partido. Mas ele continua conosco e a Rede vai fazer de tudo para elegê-lo em 2022.
EP – Ele externou essa intenção de disputar a Câmara?
TF – Sim. Tem o debate da questão do Senado, que é uma vontade dele e da sociedade, das pessoas com quem ele conversa. Mas, nesse momento é apenas uma vaga, o que torna a disputa muito mais difícil. O debate está colocado. A Rede precisa eleger deputado federal para ultrapassar a cláusula de barreira. Nosso fundo eleitoral vai ser destinado a eleger federal, porque o Senado é importante, porém a gente não consegue ultrapassar a cláusula de barreira elegendo senador.
EP – É também uma estratégia nacional…
TF – Exatamente. Se fosse uma eleição sem cláusula de barreira, o Luiz seria candidato ao que ele quisesse. Na verdade, ele é candidato ao que quiser, mas se a Rede puder apontar um caminho vai ser para deputado federal e ele está muito bem com isso. Ele quer também, está disponível para os dois lugares.
Castro, Marina Silva e Tácius. Foto: reprodução
EP – Além do Luiz Castro para federal, vocês têm trabalhado nomes viáveis para a Assembleia Legislativa?
TF – Estamos conversando com dois vereadores da capital. Com um a conversa já está muito avançada, com o outro estamos começando.
EP – Já poderia dizer quem são?
TF – Ainda não, para não atrapalhar e deixar eles à vontade para conversar com seus atuais partidos. Mas vai ser uma chapa boa para deputado federal e para estadual estamos levantando nomes. Um deles, inclusive, é o Marivelton Baré, presidente da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), que tem um grande trabalho no Rio Negro e está preparadíssimo. Acho que faz falta a um estado que tem a maior proporção de população indígena ter um indígena representando no Legislativo. Nunca tivemos na Assembleia.
EP – E qual será o efeito do fim das coligações para a Rede?
TF – Acho que o fim das coligações é uma faca de dois gumes. Para alguns partidos era interessante porque ser preparavam para fazer chapa e iam sempre coligando. E isso é ruim para a cabeça do brasileiro às vezes, porque a gente vota em um e acaba elegendo outro da coligação.
Hoje o partido é obrigado a se organizar, a ter ideologia e mostrar a sua lista para a sociedade. Nesse ponto, acho importante não ter coligação, porque o partido é obrigado a trabalhar, se organizar como chapa e mostrar seu leque à sociedade. E aí você escolhe ideologicamente, dentro daquele grupo.
Hoje tem o debate da federação – o veto foi derrubado nessa semana. Um debate que está se construindo. A Rede não tem posição definida e está buscando o debate.
A Rede vinha se preparando para a legislação atual, para fazer chapa.
A Rede, você sabe, não passou pela cláusula de barreira de 2018. Só tem uma deputada-federal, mesmo elegendo cinco senadores à época, um case de sucesso.
EP – Tendo a candidatura de Luiz Castro à Câmara como prioridade, eu suponho que a Rede não entrará na disputa majoritária pelo governo e se tiver uma participação ela será mais simbólica. Eu queria saber como é que o partido vai se comportar em relação à disputa pelo Executivo.
TF – Eu acho que não é nem simbólica. Nós devemos fazer um debate ainda. Não temos ainda um panorama, não conseguimos ver quem de fato vai ser candidato ao governo, mas de toda forma a nossa prioridade será eleger o Luiz Castro. Vamos fazer uma chapa para isso. Lógico que contra o bolsonarismo. Isso está na mesa. Nós não faremos aliança com nenhum grupo bolsonarista. E com grupos pró-democracia, progressistas, nós vamos debatendo.
EP – E em relação ao governo?
TF – A Rede não lançará candidato e pretende estudar quem vai disputar. A gente espera que tenha bons candidatos.
EP – Então, não pretende deixar de apoiar uma candidatura?
TF – De forma alguma. Desde 2014, a Rede tem apontado candidatos, ainda que fragilmente. Em 2014 foi o Marcelo Ramos, na aliança com o PSB. Em 2018, o Wilson, que se apresentava como novidade. Agora nós vamos ver para conversar. É importante para o Amazonas nós darmos a nossa posição.
EP- Na sua fala inicial, você traçou um limite claro quanto a aliados: a Rede não vai fazer alianças com bolsonaristas. Eu queria saber se há também um grupo local – Braga, Amazonino, Omar – com o qual vocês rejeitam se aliançar.
TF – Tem a questão dos bolsonaristas, que é questão sine qua non para a gente, que é sobre a democracia. E localmente não dá para coligar com Eduardo Braga, Amazonino, esse grupo que está no poder desde Gilberto Mestrinho e que vem se perpetuando. A Rede nasceu aqui para combatê-los, estivemos, estamos e estaremos ao lado oposto a esse grupo.
EP – E Wilson Lima nunca mais, também?
TF – A gente tem respeito pelo governador Wilson, mas acha muito difícil, ainda mais agora com ele virando réu. O governador teve um posição muito ruim em relação à Covid. Então, a gente não pode se aliançar com quem despreza a saúde. Wilson desprezou a saúde em um momento e agora ele está tentando dar a volta por cima pela vacinação. Mas a vacinação é imperativa, está se impondo no debate. Não é que ele queria. Se ele não fizer, fica pior para ele.
Mas, coligar com réu fica muito difícil, não tem condições. A gente já saiu do governo. A gente não volta para onde saiu.
EP – Qual sua avaliação do cenário pré-eleitoral para a presidência?
TF – Primeiro, acima de tudo, dizer que a polarização num país tão diverso é uma pobreza. A gente ficar novamente entre o lulismo e o bolsonarismo é uma pobreza para um país tão diverso e rico. A gente ficar fadado a escolher entre esses dois é muito ruim.
A Rede está construindo, tá tentando dialogar com os partidos que defendem a democracia, mas que estejam próximos desse espectro democrático.
A gente sabe o quanto o Lula foi importante, porém teve a questão da corrupção que demarcou muito a sua gestão.
E o bolsonarismo a gente nem conversa, nem tem o que conversar.
Eu acho que a Rede tem a obrigação de apontar uma terceira via para o país. Foi assim. A gente nasceu com esse aspecto, com a nossa candidata Marina Silva, em 2014, quando foi vítima de fake news do próprio PT, pelo João Santana (marqueteiro da campanha de Dilma Rousseff à época, hoje de Ciro Gomes). Em 2018, tentamos de novo pela diversidade, mas o país caiu de novo na polarização e infelizmente a gente tá nisso hoje, com a democracia sendo ameaçada a todo momento pelo presidente, uma economia de caos com as pessoas morrendo de fome literalmente na fila do osso.
Então, não tem como ficar nessa pobreza da polarização. A gente tem que debater o novo. Pode ser o Ciro, pode ser outra candidatura. Mas é preciso dizer que existe vida fora desses dois espectros.
Poxa, até uma figura geométrica tem mais de dois lados, por que o Brasil fica nessa pobreza? Temos que mudar. Agora, no segundo turno é o segundo turno e eu espero que o Bolsonaro não vá para o segundo turno. Vai ser melhor para a democracia.
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