MANAUS – O tradicional Grito dos Excluídos, protesto anual organizado por setores da Igreja Católica e apoiado por movimentos sociais, saíra às ruas de Manaus para sua 27ª edição nesta terça-feira (7), Dia da Independência.
Enquanto movimentos bolsonaristas saem às ruas pedindo golpe contra a democracia, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem como tema “Vida em primeiro lugar”, que acompanha o protesto desde 1995. O lema deste ano será “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!”.
Em Manaus, segundo o VaticanNews, o grito está sendo organizado pelas Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus e a Caritas Arquidiocesana de Manaus. No último dia 2, o grito foi apresentado em coletiva de imprensa, com a presença da mídia local.
O ato central será realizado no Largo do Mestre Chico, com a concentração a partir das 15h.
Entrevista coletiva: resumo
“Nos últimos anos, temos visto a importância de termos dentro da nossa sociedade uma manifestação para que as pessoas excluídas tenham de novo vez”, afirmou dom Leonardo Steiner na apresentação do Grito dos Excluídos e Excluídas.
Segundo o arcebispo de Manaus, ao falar de excluídos é pensar na exclusão da educação, do emprego, “lembrando que o Brasil está hoje com 14 milhões de desempregados, junto com aqueles que tem um emprego informal, algo muito presente em Manaus, onde é grande o número de pessoas vendendo água ou café na rua”.
Dom Leonardo também se referiu à exclusão da democracia, exclusão política, o que demanda “uma participação maior da sociedade nas decisões políticas”. Nesse ponto criticou as decisões do Congresso Nacional “que não pensa no povo”, demandando a necessidade de voltarmos a discutir política.
O arcebispo falou dos excluídos economicamente, algo que vai além do desemprego, denunciando que “com a venda das estatais vamos percebendo cada vez mais o quanto nós estamos sendo delapidados”, afirmando que “as estatais existem para as políticas públicas”.
O arcebispo colocou entre os excluídos “os nossos irmãos indígenas”, criticando como está se acabando com sua cultura, além de suas terras, e afirmando que “estão sendo excluídos desde o início do que se chama Brasil”. Junto com os indígenas, dom Leonardo Steiner falou de outros grupos excluídos, como os ribeirinhos, os quilombolas, as pessoas que não tem vez dentro da nossa sociedade, relatando que está crescendo o número de pessoas que vivem na rua. Ele lembrou as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que falava deles como “aqueles que o Estado e a sociedade não querem”.
Lembrando as palavras da Laudato si e da Querida Amazônia, dom Leonardo definiu a devastação da Amazônia como outra forma de exclusão. De fato, “a destruição da natureza faz com que tenhamos cada vez mais excluídos”, segundo o arcebispo.
Ele destacou que outras questões que mostram a exclusão são a falta de saneamento básico, de acesso à cultura, de falta de saúde, denunciando o desmonte do SUS, da falta de acesso à educação, apontando a tentativa do governo brasileiro de excluir do sistema educativo a pessoas com deficiências. Também lembrou a exclusão que acontece em torno à moradia, uma realidade muito presente em Manaus.
Tudo isso, ressaltou o líder religioso, mostra a necessidade de um grito, de fazer ecoar a necessidade do cuidado com a vida na sua totalidade, segundo o arcebispo de Manaus. Lembrando os sonhos do Papa Francisco em Querida Amazônia, dom Leonardo Steiner vê isso como “um grito para que a nossa humanidade acorde e possa viver uma vida mais digna, mais justa, mais fraterna, mais irmã”.
Dom Leonardo Steiner insistiu em que “é muito importante nos movimentarmos em busca de um Brasil melhor, em busca de um Brasil justo, em busca de um Brasil onde todos e todas possam se sentir à vontade”. O arcebispo insistiu em “termos uma sociedade mais equânime, mais equilibrada, mais fraterna, mais justa”, denunciando a difícil situação que vive o país em relação ao emprego, aos povos indígenas, ao meio ambiente. O objetivo é ajudar a sociedade a perceber que “nós, todos juntos, podemos oferecer uma outra situação ao Brasil”, enfatizando que “sem a participação da sociedade, as coisas não mudarão”.
Em representação dos povos indígenas, Marcivana Sateré denunciou “os projetos de morte que afetam os povos indígenas”, o que provoca um genocídio dos povos e um ecocídio do Planeta, segundo a liderança indígena. Ela lembrou a luta dos povos indígenas em Brasília contra o Marco Temporal, “um projeto de morte que fere a democracia e a Constituição”.
Marcivana disse que trata-se de uma luta pela vida das gerações futuras, denunciando que a Amazônia não suporta mais tanto projeto predatório. Destacando o importância do território na vida dos povos originários, a liderança disse que “nunca teremos vida em abundância enquanto nossos territórios forem atacados”.
A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) no Amazonas, Rayane Garcia, destacou a importância do Grito dos Excluídos como um dia que pertence ao povo brasileiro, a todos os que lutam por democracia. A jovem denunciou a realidade social vivida no Brasil, o aumento do desemprego e do preço da cesta básica, algo que atinge os jovens e os mais pobres.
O programa do Grito dos Excluídos e Excluídas foi apresentado pelo padre Alcimar Araujo, vice-presidente da Caritas Arquidiocesana de Manaus, que vai se realizar na parte da tarde do dia 7 de setembro.
Segundo o vice-presidente da Caritas, a Amazônia está sendo vilipendiada, sendo objeto de exploração. Diante disso, a missa do próximo domingo quer ser um momento de resistência, diante de uma realidade que provoca indignação. Segundo ele, existem poucos motivos de esperança diante da realidade social que o Brasil vive hoje, o que torna urgente uma sociedade organizada como modo de reverter a realidade atual. Não podemos esquecer, insistiu o padre Alcimar, que no Brasil, todas as conquistas foram fruto da luta organizada.
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