MANAUS – Convocado a prestar esclarecimentos ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM) por causa de mortes ocorridas no âmbito do estudo CloroCovid-19, o médico infectologista e pesquisador Marcus Lacerda publicou um longo desabafo no Instagram na noite desta quarta-feira (24).
“Faço um apelo a todos: leiam primeiro. Eu sou apenas um médico pesquisador, que quis estudar opções de tratamento de uma doença nova e grave. Eu não matei pessoas, eu não sou assassino”, começa ele.
O cientista observa que um dos achados do estudo é de que a cloroquina não mata o vírus da Covid-19 (SARS-CoV-2) nas pessoas. “Resistindo a isso, espalharam a notícia de que matamos pacientes com doses altas de cloroquina, de propósito, porque éramos do PT. Eu não sou do PT!”, escreveu. Outro achado é que, pelo contrário, ela pode agravar os quadros de pacientes.
A descoberta contrariou entusiastas do medicamento, que chegaram a ameaçar de morte Lacerda e outros pesquisadores envolvidos no estudo nas redes sociais.
Conforme foi divulgado inicialmente, a pesquisa foi realizada com 81 pacientes graves de Covid-19 internados no Hospital Delphina Aziz. Onze dos pacientes morreram. Após essa informação vir a público, seguiu-se uma nova onda de ataques aos pesquisadores na internet. A acusação, sem fundamentação científica, era de que o estudo foi o causador das mortes por superdosagem.
“Testamos doses diferentes sim, mas nada que fosse obviamente letal. Tivemos todos os cuidados de segurança”, ressaltou Lacerda no post do Instragram. “Depois disso, minha vida passou por calúnias, difamações, ameaças, perseguições políticas”, prosseguiu.
Além do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) aberto pelo promotor de Justiça Edinaldo Medeiros, do Amazonas, Lacerda teve que responder a questionamentos do Ministério Público Federal, em diferentes procuradorias regionais: Manaus, Bento Gonçalves (RS) e Goiânia (GO). “Já respondi a CONEP, Ministério Público Federal de Manaus, Bento Gonçalves, Goiânia, Conselho Federal de Medicina, ouvidorias, e-mails, jornalistas, revistas científicas”, lembrou.
“É como se me destruir fizesse a cloroquina funcionar. Ela não funciona!”, escreveu.
“Ontem recebemos mais perguntas do Ministério Público Estadual do Amazonas. Responderemos, como fizemos com os demais. Todos têm o direito de apurar a verdade”, completou o cientista.
“Aos jornalistas e internautas que pretendem requentar notícias e abastecer com mais desinformação um país já tão abatido, peço que exerçam sua cidadania de outra maneira”, defendeu.
“Não é bom para a imagem de um estado e de um país ter um ‘pesquisador assassino’. Se eu fosse essa pessoa, certamente seríamos um Brasil ainda menor”, destacou.
“Acordem hoje e pensem melhor no que estão fazendo com a ciência, com a nossa esperança. A criança da foto não entendia a perversidade do homem. Quem não consegue dar um passo adiante não está preparado para ter aprendido algo com essa pandemia, e acreditem, ela modificou a todos”, concluiu.
O desabafo do cientista foi lido na íntegra pelo deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) na sessão virtual desta quinta-feira (25) da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM).
“O médico Marcus Lacerda vem sendo vítima de muitas fake news, que é a doença mental da nossa época. Essas pessoas agridem as outras sem ao menos conhecê-las e sem conhecer o seu trabalho. Marcus é alguém que dedicou a sua vida para salvar vidas. A conclusão da pesquisa é que a cloroquina não mata o vírus da Covid-19 e, por interesses políticos, ele foi vítima de uma milícia digital”, comentou Serafim.
Para o deputado, há interesse de grupos políticos para a proliferação mentirosa de que a cloroquina é capaz de matar o vírus da Covid-19.
“Esse grupo quer fazer com que o mundo acredite que a cloroquina mata o vírus, e não mata. Marcus é um médico, um pesquisador. Não é um político. Nós políticos já temos o couro curtido. As agressões vêm e voltam e você rebate, discute. Todos nós somos ‘vacinados’ para esse tipo de agressão, mas ele não. Registro a minha solidariedade e o meio apoio ao doutor Marcus Larcerda”, disse.
Além de Lacerda, que é coordenador do estudo CloroCovid-19, o promotor Edinaldo Medeiros deu 10 dias para que a Fundação de Medicina Tropical (FMT), a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), que aprovou a iniciativa, e o Hospital Delphina Aziz, onde o estudo foi conduzido, entreguem documentos e explicações referentes à pesquisa.