MANAUS – Ao confirmar sua candidatura a prefeito de Manaus, nesta quarta-feira (16), Amazonino Mendes (Podemos) fez críticas diretas e indiretas aos atuais gestores da prefeitura e do governo.
Ele também elogiou o senador Eduardo Braga (MDB), seu pupilo e hoje maior cabo eleitoral, com quem já travou várias disputas pela cadeira de governador.
E criticou um antigo aliado, que chamou de “asa negra”, a quem responsabilizou pelas fake news sobre seu estado de saúde e morte.
As declarações foram dadas à tarde, durante a convenção do Podemos, quando o deputado estadual Wilker Barreto foi confirmado como candidato a vice-prefeito e a chapa formada.
Wilson Lima
Em sua fala, sem citar nomes, Amazonino iniciou criticando o atual governador, Wilson Lima (PSC), para quem perdeu as eleições para o governo em 2018. Reafirmou o discurso que vem trabalhando desde a pré-candidatura do “eu avisei”, sobre “a nova política”, e fez um mea culpa sobre a “velha política”.
“Estamos vivendo tempos muito estranhos”, disse ele, que foi apoiador de Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas eleições gerais. “Mas, a análise que eu faço é que a nossa velha geração também não foi correta com o país, nem com o Estado, nem com as cidades. A nossa vida social, econômica deteriorou. Houve uma involução, houve um grande distanciamento, quase que irreversível, no processo educacional. Isso é brutal. Saúde pública virou desastre. Isso mexeu com a nossa cabeça. É natural”, asseverou.
“Aí, o povo resolveu dar um recado. O povo pensou ‘vamo derrubar todo mundo, tirar todo mundo’. E com essa emoção dura, dolorosa e irracional, o povo elegeu o governador do Rio de Janeiro e outros estados, e o nosso. Qual foi meu papel? Foi aceitar a vontade soberana. A mim não importou o fato de eu saber que era um dos maiores erros da nossa história (a eleição de Wilson Lima), dada a minha experiência, eu sabia. Fui confortado pelo fato de eu ter denunciado na campanha, onde era o momento. Eu informei reiterada vezes, falei que aquele absurdo de tentar eleger uma pessoa fora das nossas raízes, sem nenhuma vivência administrativa, a mínima que fosse, e vendo a entourage (grupo de pessoas) que estava ciceroneando (andando ao redor) desse candidato à época, eu não tive dúvida, eu digo: vão assaltar o Estado”, declarou Amazonino.
O ex-governador também criticou o Poder Legislativo, ao se dizer escandalizado com uma Assembleia Legislativa (ALE-AM) subserviente. “Nunca vi em nenhum momento da nossa história tanta subserviência. E nunca vi tanta relação de negócios espúrios nos membros daquele parlamento com o governo”, disse.
Para Amazonino, o atual governador, que é apresentador de TV, foi eleito com “uma simples apresentação hilariante, cômica, histriônica, que se fazia na televisão, junto com um pobre coitado de baixa estatura, um anão que foi usado como fósforo queimado, como bagaço de laranja”. “Deu no que deu”, concluiu.
“Mas, se nós quisermos enfrentar a realidade nós temos que fazer autocrítica, porque quem fez isso não foi ninguém, fomos nós, o povo soberano e querido povo”, prosseguiu, ao dizer que os mais pobres foram prejudicados com os últimos resultados eleitorais.
Segundo Amazonino, o amazonense “jogou fora a única arma que nós damos a ele, que é essa arma do voto”. “A história existe para nós aprendermos e evitarmos erros no futuro. É para isso que a gente estuda história. É para ajustar a nossa caminhada. Aí, meus amigos, isso nós temos que aprender, que está cheio de aproveitadores, de oportunista para embaralhar a tua cabeça e das pessoas, com falsos slogans. Eu me lembro quando eu acusava e advertia, eles diziam textualmente, com cara limpa, ‘é fake news’. E assim foram levando. O povo, cegamente, sem parar para analisar, deu essa confiança”, disse.
O candidato disse que, em 2018, poderia ter contestado o resultado da eleição “porque fizeram muita molecagem”. “Mas o que foi que eu fiz? Na entrevista que eu dei, logo a seguir, ‘não tem terceiro turno, não tem tapetão, vamos respeitar a soberania do povo, que é meu patrão’. É minha obrigação baixar a cabeça. Acabou. Porque eu também sabia que essa adversidade, essa decepção ia ser o professor e a gente precisa de professor”, encerrou essa parte do discurso, para falar sobre sua preocupação com o futuro.
Apesar do discurso, Amazonino segue, sim, contestando o resultado das eleições de 2018, na Justiça Eleitoral, onde acusa Wilson e compra de votos. O caso ainda não foi julgado.
Futuro
Amazonino disse que em janeiro, por causa da crise econômica e social agravada pela pandemia, vai ter gente “morrendo de fome”, com o fim do “generoso” Auxílio Emergencial e índices grandes de desemprego e déficit fiscal.
O candidato disse que, em 2021, o gestor público vai precisar ter “competência, coragem, determinação e criatividade para enfrentar o flagelo”. “Não vai ser moleza”, afirmou.
“A enganação tá aí. Mas a história também está. Eu tenho uma história, que começou aqui mesmo nessa cidade. O que teve de obras e muita ação social. Fui acusado durante uma época de ser populista, porque tudo que fazem hoje eu comecei a fazer lá atrás. Quem me conhece vai se lembrar do cartão Direito à Vida. Quem primeiro concedeu essa forma de ajudar as pessoas para comprar remédio, pagar passagem, essas coisas básicas, fomos nós”, rememorou.
Ele também citou a Ponta Negra, concebida como balneário público na sua primeira gestão na prefeitura e cuja revitalização iniciou no seu último mandato a frente do município. E lançou críticas aos órgãos que alertaram dos riscos e consequências de transformar a praia em permanente (à época houve muitas mortes por afogamento).
“Tudo que tem naquela Ponta Negra, do projeto ao recurso, fomos nós, desde a minha primeira prefeitura. Eu resgatei aquilo. Eu era visionário e visualizava a Ponta Negra como um local de desafogo para a população, principalmente a população pobre, para ter direito, através da passagem de ônibus, de chegar lá e tomar banho. Inventei uma praia perene, eu acho que é a única que tem na região Norte. A gente sabe do regime das cheias e das secas. O manauara tem o privilégio de ter uma praia. Me custou caro. Trabalhei muito e os meus inimigos, para tentar desmoralizar a praia, que é essa conquista do povo, inventavam que as pessoas morriam, interditaram a praia por maldade, por ação politiqueira. Essa mesma gente que assalta hoje, macomunada com órgãos oficiais, órgãos públicos que tinham a obrigação de zelar pelo povo, de proteger o povo, se tornou aliados de forma descarada”, declarou.
Arthur Neto
Ao prosseguir o discurso, sem citar nominalmente o sucessor, Arthur Neto, ele criticou a falta de continuidade de projetos inciados na sua gestão, como a Carreta da Mulher. Criticou ainda a falta de entrega de grandes quantidades de ônibus novos, entre outras coisas.
“Colocamos 12 carretas. Tem muita mulher aí perdendo os seios, câncer de colo. O projeto de saúde que eu comecei sem dinheiro, eu tive que inventar, com casas geoprocessadas, para atender o povo pobre que é o que mais precisa da gente”, disse
“Onde estão os 1.200 ônibus que nós compramos com muito sacrifício?”, questionou ele, que deixou a prefeitura em 2012. “Não estou criticando e nem falando mal. Eu estou tentando ajudar meu povo”, amenizou.
Crítica a ex-aliado e motivação
“O que que um homem de 80 anos de idade, que muitos dizem que está no pé da cova…”, iniciou. “Já me mataram umas 20 vezes. Eu sei quem é que inventa isso. Me decepcionou muito. Hoje eu tenho pena dele, porque se transformou numa verdadeira asa negra para o povo amazonense. É ele quem inspira esse governo que está aí. Ele que faz as coisas. É uma usina de maldades”, disse, novamente sem citar nomes. No fim do discurso (veja abaixo), ele dá indicações sobre quem está se referindo, ao repetir o termo “asa negra”.
“O que faz um homem de 80 anos de idade se expor? O que que eu quero? O que que eu preciso? Eu não quero mais nada. Não estou mais atrás de honraria. Já fui governador quatro vezes. Não tô atrás de dinheiro. Se eu fosse apaixonado pelo dinheiro, fissurado pelo dinheiro, eu seria milionário, já estava milionário. É tão fácil raciocinar. É meio fácil entender”, disse e na sequência dirigiu críticas ao segundo colocado nas pesquisas, David Almeida (Avante).
Wilker Barreto
Ao anunciar Wilker como candidato a vice, Amazonino disse que mais que lealdade, o companheiro, caso a chapa seja eleita, será suas pernas e olhos na periferia.
“Vocês hão de convir, que eu vou precisar de um parceiro na prefeitura, que não é só lealdade não, quero que esse parceiro muitas vezes seja as minhas pernas, meus braços, meus olhos, sobretudo, que vá lá no buraco, como eu ia na minha juventude. Eu, como prefeito, andei por tudo quanto foi buraco aqui em Manaus. Quero isso”, declarou, ressaltando que muitas coisas da administração pública podem ser feitas de forma remota.
“Eu não sou candidato a correr maratona. Não vou para o ringue com quem quer que seja, nem vou salvar o futebol brasileiro. Tô muito consciente do que eu estou fazendo. E quem não pode com o pote, não pega na rodilha”, brincou, em referência a críticas que outros candidatos, sobretudo David Almeida, fazem em relação à sua avançada idade e saúde frágil.
Amazonino disse que Wilker é “um dos mais valentes guerreiros” que ele já viu na vida política. “Guerreiraço. Foi para a Assembleia e não deixou se envolver. Não aceitou convites tentadores para enriquecer”, disse sobre o deputado, que faz oposição ao governo.
“Wilker, você vai para esta guerra, vamos trabalhar para o povo, e cumprir o nosso dever. Que Deus nos abençoe, ilumine nossa gente, nosso povo, e nos livre dessa usina de maldades, que campeia o processo político. Nós podemos, em nome de Deus e do Povo”, completou.
Eduardo Braga
Amazonino terminou o discurso sem agradecer Eduardo Braga, mas foi alertado pelos presentes na convenção e voltou ao microfone para fazer o agradecimento. Em referência indireta ao senador Omar Aziz (PSD), que teve o nome envolvido na operação Maus Caminhos, disse que Braga não gosta de “maus caminhos”.
“Eu ia cometendo uma injustiça”, admitiu. “Eu me empolguei tanto com a análise do quadro e quero me corrigir. Muito obrigado, Eduardo, por ter confiado. E você irritou, com seu comportamento, mais uma vez a casa de marimbondo”, disse.
“Vocês têm que entender, todos, que esse gesto do Eduardo, para mim é muito importante. Não estou pensando depois da eleição. É depois, quando eu estiver lá. Quem é que vai arranjar dinheiro para a prefeitura? O único que pode fazer isso – e tem feito com extremada decência, pelo que tenho sido informado, e com um montante incrível – é o senador Eduardo Braga”, disse Amazonino.
Segundo o candidato, Braga “tem salvo o interior do Amazonas com as verbas que ele arranca do Governo Federal”. Isso é depoimento de prefeito, porque o Governo do Estado não dá mais nada. Quem tá salvando e resgatando é o Eduardo. E vai me ajudar a executar grandes projetos. Eu não tenho dúvida, dada a grande competência, a qualidade, a capacidade de trabalho que ele tem. Então, eu tenho por obrigação agradecer e reconhecer”, completou.
O apoio do MDB, segundo Amazonino, envolveu apenas interesses republicanos. “Ele (Braga) não tem interesse nenhum, a nossa operação não negociata, não me pediu uma secretaria. O Eduardo não exigiu nada. A conversa dele comigo é extremamente republicana. Ele só fala como é que a gente vai ajeitar o transporte público, a saúde pública”, disse.
“O Eduardo não gosta de maus caminhos”, alfinetou. “Não tem rabo preso com esse governo, não tem a mínima culpa dessa asa negra que posou sobre o nosso estado. Eu acho que seria uma soberba imperdoável, uma falta de caráter e de respeito com o povo se eu não acolhesse, respeitasse, admirasse e agradecesse esse apoio enorme que ele tá me dando, sobretudo a segurança para o futuro”, concluiu.