MANAUS – Estudos conduzidos pela Fiocruz Amazônia indicam a nova variante do vírus causador da Covid-19 encontrada em pacientes japoneses tem origem no Amazonas. As mutações achadas no SARS-CoV-2, até então inéditas, criaram o que será uma provável nova linhagem brasileira. As informações foram publicadas em reportagem do site UOL.
Os pesquisadores alertam que ainda é cedo para ter certeza, mas as mutações encontradas podem significar que essa nova linhagem tem maior poder de transmissão.
Os dados preliminares da Fiocruz apontam que a linhagem B.1.1.28, que está presente em todo o país e que é a mais frequente no Amazonas, sofreu uma série de mudanças.
Preocupante
Segundo o pesquisador Felipe Naveca, que coordena as pesquisas na Fiocruz, o sequenciamento do vírus feito no Japão foi comparado com as amostras existentes no banco de dados do Amazonas coletadas entre abril e novembro do ano passado. Amostras de dezembro ainda estão em fase final de análise no Estado, e vão ajudar a entender melhor a atuação das mudanças do vírus na nova onda de casos.
“Um grupo de pesquisadores da USP-Oxford me procurou para mostrar os resultados das análises deles a partir de material enviado por um laboratório privado do Amazonas. Essas análises também observaram sequências com mutações semelhantes às japonesas. São dois laboratórios completamente independentes, que chegaram à mesma conclusão simultaneamente, sem se comunicarem. O fato de o grupo ter nos mostrado esse resultado foi uma atitude louvável”, explica ele ao UOL.
Naveca disse que uma “coincidência” reforçou ainda mais a convicção de que o vírus passou por mutações preocupantes no Amazonas.
As mutações
Felipe Naveca disse ao UOL que a linhagem B.1.1.28 é a mais presente no Estado (está em 47% das amostras colhidas entre abril e novembro) e uma das que mais circulam no Brasil. Entretanto, as amostras colhidas no Japão e pelo laboratório privado mostraram mutações significativas.
“Esses vírus são o B.1.1.28 com mutações na proteína Spike, e duas delas são importantíssimas. Mutações similares já foram associadas com a maior transmissão do SARS-CoV-2. É um vírus que passou por um processo evolutivo, que nos faz pensar em, talvez, uma nova variante brasileira”, detalhou.
O cientista disse que as mudanças criaram uma variante diferente, mas que têm semelhanças com aquelas achadas na Inglaterra e África do Sul.
Ainda segundo Felipe Naveca, a Fiocruz Amazônia está em fase final de sequenciamento de amostras colhidas de pacientes no Amazonas no mês de dezembro.
A classificação e nomeação de uma nova linhagem não é feita no Brasil. “A decisão se as mutações vão ser classificadas em uma nova linhagem, após mais estudos, passa por uma curadoria internacional”, explica.
Natural
“É importante explicar às pessoas que as mutações ocorrem de forma natural nos vírus, e algumas poucas dão vantagens a ele. É uma evolução natural do vírus. A gente sempre alertava que, quanto mais um vírus infecta as pessoas, mais vai evoluir. Mas isso não quer dizer que cause doença mais grave, talvez que ele seja melhor transmitido”, finalizou o cientista.
Confira aqui a reportagem do UOL na íntegra.