MANAUS – O Amazonas pode viver uma terceira onda de contaminações da Covid-19 já em março. O alerta é do biólogo Lucas Ferrante, doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Lucas integrou um grupo de cientista que em agosto do ano passado alertou, em artigo na revista Nature Medicine, que o Amazonas poderia ter uma segunda onda da doença após a queda dos indicadores em junho e o fortalecimento do discurso de que a capital já teria desenvolvido a “imunidade de rebanho” necessária para frear uma nova onda de contaminações.
Em janeiro deste ano, Manaus, seguida de cidades do interior, viveu uma nova explosão de casos, muito maior que a registrada na primeira onda da doença (em abril e maior de 2020), com altíssima taxa de transmissão, ocupação recorde de leitos hospitalares (que foram praticamente triplicados na rede pública), falta de insumos (gás oxigênio, principalmente) e os consequentes óbitos.
Além do afrouxamento das medidas de distanciamento após a primeira onda, uma nova variante do coronavírus foi identificada no Amazonas, potencialmente mais contagiosa. Lucas Ferrante, no entanto, diz que a nova cepa não é a responsável pela segunda onda, mas é um fator crucial para a provável terceira onda.
Durante “Cessão de Tempo” na sessão plenária híbrida desta terça-feira (9) da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), o cientista explicou que a previsão da terceira onda é baseada em dados da ferramenta SEIR (Susceptible – Exposed – Infected – Removed), que é uma ferramenta básica epidemiológica para prever a situação da pandemia e tentar antecipar uma tomada de decisão.
Diante da previsão, ele recomendou um lockdown que dure pelo menos 20 dias e vacinação em massa.
“Nós sabemos que quem teve contato com a primeira linhagem não tem resistência à P1 (nova variante) e os casos de reinfecção serão extremamente grandes. Prevemos que deve ocorrer uma terceira onda a partir de março e tudo vai depender do isolamento social no Amazonas. Recomendamos um lockdown extensivo de 20 dias a um mês, com a restrição de circulação de 90% da população, concomitante com a vacinação massiva de 70% da população de Manaus”, disse.
Ferrante também alertou sobre o risco de novas mutações. “Precisamos deixar bem claro que essa variante que surgiu aqui no Amazonas tem uma taxa de transmissibilidade duas vezes maior do que a que causou a segunda onda. Então, é muito mais importante não só frearmos a ocorrência da terceira onda e impedir isso, mas frearmos, de fato, a circulação do vírus na população, para impedir que novas mutações surjam e que nós tenhamos uma variante resistente às vacinas de mercado. Por isso é extremamente necessário imediatamente um lockdown severo para Manaus, acompanhado de uma campanha massiva de vacinação de toda população do Estado”, reforçou.
O cientista disse que os alertas grupo multidisciplinar formado por pesquisadores de várias áreas e instituições, do qual faz parte, vêm sendo ignorados. “Nossos avisos têm sido negligenciados. Avisamos que essa segunda onda surgiria por uma negligência e negacionismo dos tomadores de decisão do Amazonas”, disse
A “Cessão de Tempo” foi proposta deputado Álvaro Campelo (Progressistas) e transmitida pelas redes oficiais do parlamento e pela TV Assembleia.