MANAUS – A notícia de que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), enviou vídeos pelo WhatsApp convocando para o ato marcado para o próximo dia 15 contra o Congresso Nacional causou reação de lideranças políticas de diversos campos políticos e da sociedade civil. O vídeo convoca a população a ir às ruas para defendê-lo.
A informação foi publicada no início da noite pela jornalista Vera Magalhães no site BR Político, do Estadão. Aos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de Bolsonaro, confirmou ter recebido um dos vídeos enviado pelo telefone do presidente.
Cotado como um dos possíveis sucessores de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara, o deputado amazonense Marcelo Ramos (PL-AM) sugeriu que houve quebra de institucionalidade. Ele escreveu no Twitter que Bolsonaro “precisa ser chamado a responsabilidade institucional do cargo e a Câmara e o Senado devem deixar claro que não temem esses arroubos do presidente e de sua base”.
Até o fechamento desta matéria, nenhum outro parlamentar da bancada amazonense havia se manifestado sobre a notícia nas redes sociais. O presidente Jair Bolsonaro também não se manifestou, assim como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Os líderes da oposição ao governo em ambas as Casas Legislativas se posicionaram.
O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), propôs uma reunião de emergência entre Maia, Alcolumbre e líderes dos partidos para decidir o que fazer. “Temos que parar Bolsonaro! Basta! As forças democráticas deste país têm que se unir agora”.
Na mesma linha, o líder a oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), escreveu: “Chega! As forças democráticas precisam repudiar este comportamento vil e impedir a escalada golpista”.
Outras reações
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, escreveu em post no Instagram que a atitude de Bolsonaro “é inadmissível” e que a convocação pode ser enquadrada como crime de responsabilidade, previsto no artigo 85 da Constituição. Na avaliação dele, isso atenta contra o livre exercício do Poder Legislativo.
“[…] o presidente está mais uma vez traindo o que jurou ao Congresso em sua posse, quando jurou defender a Constituição Federal. A Constituição e a democracia não podem tolerar um presidente que conspira por sua supressão”.
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff criticaram o ato em mensagens no Twitter.
Retirada do poder por um processo de Impeachment, Dilma escreveu que Bolsonaro e Heleno atentam contra a democracia e cobrou uma resposta “forte” e “urgente” das instituições “ou o País mergulhará, + uma vez, na escuridão das ditaduras”.
Lula também pediu um posicionamento “urgente” do Congresso e da sociedade em defesa da democracia. “Bolsonaro e o general Heleno estão provocando manifestações contra a democracia, a constituição e as instituições, em mais um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos os dias”.
FHC tachou o episódio como crise institucional e disse que é preciso “gritar enquanto se tem voz”. “A ser verdade, como parece, que o próprio Pr (presidente) tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto se tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo”.
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), chamou de lamentável a atitude.
Candidatos derrotados por Bolsonaro 2018 também se posicionaram.
Fernando Haddad (PT) escreveu que ao que tudo indica o presidente cometeu crime de responsabilidade “previsto na Constituição que jurou respeitar mas, certamente, nunca leu”.
Já o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) cobrou reação dos presidentes da Câmara e do Senado. “É criminoso excitar a população com mentiras contra as instituições democráticas”.
Os vídeos e a manifestação
No texto que enviou juntamente com o primeiro vídeo, divulgado no BR Político, o presidente Bolsonaro escreveu:
“- 15 de março.
– Gen Heleno/Cap Bolsonaro.
– O Brasil é nosso,
– Não dos políticos de sempre.”
O vídeo de quase dois minutos usa o Hino Nacional como trilha sonora tocada por saxofone.
“Ele [Bolsonaro] precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos sim capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível. Dia 15/03, todos nas ruas apoiando Bolsonaro”, diz o texto que aparece na tela, entremeado por imagens do presidente sendo esfaqueado, no hospital e depois em aparições públicas.
No segundo vídeo, que segundo o BR Político foi distribuído a um número maior de pessoas, toca o Hino Nacional em um solo de guitarra, e frases como: “Por que esperar pelo futuro se não tomarmos de volta o nosso Brasil?
A manifestação marcada para 15 de março é uma reação à fala do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que chamou o Congresso de “chantagista’ na semana passada.
Em áudio captado em transmissão ao vivo da Presidência pela internet no último dia 19, Heleno avaliou que o Executivo não pode aceitar “chantagens” do Parlamento o tempo todo. “Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”, disse ele, na presença de ministros.
O ato estava marcado desde o fim de janeiro, mas acabou mudando de pauta para apoio a Bolsonaro e encorpando insinuações autoritárias após Heleno atacar o Congresso Nacional.
Em um panfleto que circula pelas redes sociais, assinado apenas por “movimentos patriotas e conservadores”, fotos de Heleno, do vice-presidente, Hamilton Mourão, e de outros generais com cargos no governo aparecem numa convocação para o ato.
No texto, se diz que “os generais aguardam as ordens do povo”. E em seguida um bordão: “Fora Maia e Alcolumbre”.
Nem Heleno nem Mourão foram às redes sociais repudiar o uso de sua imagem no panfleto.
O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, repudiou o panfleto.
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