MANAUS – Castigada severamente logo no início da pandemia do novo coronavírus, a capital amazonense pode ser a primeira entre as grandes cidades brasileiras a superar essa condição. A conclusão consta na 10º edição do Boletim Especial Covid-19, do projeto Atlas ODS do Amazonas, publicado nesta quinta-feira (11).
Intitulado “De epicentro à redenção: Por que Manaus será a primeira cidade brasileira a vencer a pandemia de COVID-19” (confira na íntegra), o boletim observa que, após a redução do índice de mortalidade por casos registrada em maio, na próxima fase da epidemia na capital, que deve iniciar em breve, deverá ocorrer redução lenta do número de mortes, isso porque a transmissão deverá finalmente perder velocidade.
A publicação observa que, até o final do mês de abril, as variações da curva de óbitos seguiam as da curva de exposição social, não apenas em termos cronológicos, mas também em termos absolutos.
“Ou seja, até aquele período as acelerações ou reduções da velocidade de óbitos pareciam ser determinadas exclusivamente pela maior ou menor exposição dos indivíduos suscetíveis”, destaca trecho do boletim, assinado pelos pesquisadores Henrique dos Santos Pereira, Danilo Egle Santos Barbosa e Bruno Cordeiro Lorenzi, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
No entanto, no início do mês houve o primeiro passo da reabertura gradual dos serviços não essenciais, que impactou nos índices de isolamento, que diminuíram, inflando a aceleração da exposição das pessoas. “A aceleração observada nos últimos dias não indica uma trajetória ascendente que venha a resultar em novo pico da pandemia em Manaus”, observam.
“Trata-se de uma inflexão da curva serrilhada que mesmo em trajetória descendente ainda é influenciada pela maior exposição social que se seguiu após a retomada das atividades de comércio e serviços não essenciais no município em 1 de junho. Vale ressaltar que, apesar da retomada de muitas dessas atividades, a população de Manaus ainda apresenta níveis de exposição inferiores a períodos anteriores à pandemia, o que, certamente, seguem contribuindo para a diminuição da velocidade de casos e de óbitos” destacam.
O boletim diz que a melhora das respostas do sistema de saúde poderia explicar a redução na velocidade de óbitos mesmo com pontuais aumentos da exposição.
“Essas melhorias decorreriam de vários fatores como, por exemplo, a ampliação na oferta de leitos de UTI e também o aperfeiçoamento das condutas médicas no tratamento dos casos graves. No entanto, isso seria de fato algo significativo se não tivesse ocorrido, ao mesmo tempo, uma redução no número de internações, como de fato observado. Ou seja, essas melhorias teriam tido um grande impacto da curva de óbitos se tal redução não fosse em grande parte causada pela diminuição do número de internações diárias, ou seja, dos casos graves da doença. Essa redução de casos graves ocorre desde a segunda quinzena de abril quando a cidade já apresentava uma sequência longa de dias com altos índices de isolamento social”, frisam.
Pelo fato da cidade ter sofrido as maiores taxas de letalidade e mortalidade do País, a velocidade de óbitos ocorreu antes e mais rapidamente que a de casos em Manaus. “Esse fenômeno dever ser atribuído aos trade-off coevolutivos decorrentes dessa interação massiva da população hospedeira com a do parasita”.
“Na última fase da pandemia que parece estar por acontecer em breve em Manaus, deverá ocorrer uma redução lenta da morbidade após essa a redução drástica da mortalidade, isso porque a transmissão da doença deverá finalmente perder velocidade até que novas estirpes do vírus surjam ou haja o aumento de suscetíveis caso a imunidade seja temporária”, afirmam os pesquisadores no boletim.
Apesar disso, eles rejeitam a hipótese da “imunidade de rebanho”.
Assista às explicações dos cientistas: