MANAUS – Em nota divulgada na terça-feira (17), a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua) cobra da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) explicações sobre as circunstâncias em que o vice-reitor Jacob Cohen foi infectado pelo novo coronavírus (COVID-19).
A Adua também pede que a universidade esclareça as medidas de segurança que foram adotadas pela instituição e o pelo vice-reitor durante as atividades profissionais de Cohen desde a infecção. Para a associação, a nota divulgada pela Ufam, também na terça-feira, não foi suficiente para esclarecer “protocolos de cuidados e de monitoramento que foram adotados diante deste caso”.
Procurada, a assessoria da Ufam reiterou o conteúdo da nota do dia 17.
O diagnóstico positivo para Covid-19 de Jacob Cohen veio a público de forma extra-oficial, por meio de veículos de imprensa que informaram ter entrevistado o professor, que lhes teria confirmado a informação e informado sobre as circunstâncias da infecção.
Na terça-feira à tarde, autoridades de saúde do Amazonas, em coletiva, informaram que o resultado do exame do vice-reitor da Ufam só pode ser considerado oficial quando for refeito pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), que é o único credenciado pelo Ministério da Saúde para investigação de casos de Covid-19 no Amazonas. O resultado deve sair nesta quarta-feira (18).
Abaixo, a nota da Adua e da Ufam, respectivamente:
Nota (Adua)
Recebemos com surpresa o anúncio de que o vice-reitor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), professor Jacob Cohen, foi contaminado pelo novo coronavírus (COVID-19). Folgamos em saber que ele se encontra em recuperação e desejamos que o restabelecimento de sua saúde seja o mais rápido possível.
Todavia, a Direção da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA) pontua a insuficiência da nota oficial da Universidade, divulgada hoje (17 de março), sobre o teste positivo para o coronavírus no professor Cohen.
Consideramos que é necessário explicar à comunidade acadêmica e aos cidadãos de Parintins – onde o vice-reitor esteve recentemente – sobre os protocolos de cuidados e de monitoramento que foram adotados diante deste caso. Os moradores do município têm compartilhado notícias de blogs locais que dão conta de uma Jornada de Oftalmologia, da qual participou o professor Cohen, que não teria atentado aos procedimentos recomendados pela OMS para a contenção da proliferação do COVID-19. Em tempos de fake news, é preciso que isto seja prontamente esclarecido.
Além disso, convém observar que gestores públicos, equipes de chefes de Estado, turistas e outros segmentos que percorrem o planeta de um ponto ao outro são vetores de transmissão do coronavírus. Diante disso, faz-se necessário que seja melhor detalhado o monitoramento do caso envolvendo o vice-reitor, posto que, na condição de administrador da Universidade, ele pode ter mantido contato com servidores de diversas instâncias administrativas.
Esclarecer esse elemento é fundamental para garantia de uma política de saúde que considere que um conjunto significativo de docentes e técnicos-administrativos de nossa instituição compõe os grupos de riscos definidos pela OMS.
Face ao exposto, solicitamos ao magnífico reitor, Sylvio Puga, a publicação de uma nota mais detalhada, que explique as medidas de controle e monitoramento envolvendo o caso em questão e que atenderá, assim, aos termos da Nota Técnica 001/2020, que versa sobre as proposições para o enfrentamento da epidemia na UFAM, publicada hoje pelo Comitê Interno de Enfrentamento da Epidemia.
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas
17 de março de 2020
Nota (Ufam)
A Universidade Federal do Amazonas informa que seu vice-reitor, professor Jacob Cohen, testou positivo para coronavírus no dia 16 de março, estando ausente de Manaus nas últimas 2 semanas, retornando de uma viagem a São Paulo, com os sintomas leves da síndrome.Ele apresenta quadro brando da doença, estando de quarentena domiciliar, devidamente orientado pelos especialistas que lhe atenderam e evoluindo bem. A Ufam reitera o compromisso com a sociedade, preocupando-se com toda sua comunidade e colaborando para que possamos enfrentar juntos essa situação.
O caso
O que se sabe até o momento é que os exames do vice-reitor e de mais outra pessoa que não teve o nome divulgado foram feitos no laboratório da Fiocruz, em Manaus, em circunstâncias não esclarecidas ainda pelos dois pacientes.
Na coletiva, a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) Rosemary Costa Pinto informou que as pessoas são livres para fazerem exames em outros laboratórios, inclusive particulares. No entanto, o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde exige que os resultados sejam confirmados pelo Lacen-AM, o que não havia ocorrido quando sites e a Ufam divulgaram o diagnóstico do vice-reitor.
Segundo Rosemary, somente na terça-feira o laboratório da Fiocruz informou o diagnóstico positivo de duas pessoas que tiveram amostras processadas pela instituição, uma delas Jacob Cohen. A partir daí que a FVS-AM iniciou a investigação oficial dos casos.
Rosemary disse ainda que paciente que deu entrevista dizendo que seu caso era de conhecimento da FVS-AM vai ter que provar o que disse.
“Nós ouvimos ainda pelas mídias sociais que um dos pacientes informou que a FVS-AM foi notificada em tempo hábil: essa é uma inverdade. Nós não recebemos essa notificação e nós queremos que a população acredite no que nós fazemos, acredite que nós estamos aqui procurando dar o nosso melhor, trabalhando incansavelmente, inclusive sábados, domingos, feriados”, disse Rosemary.
Abaixo, trechos do que disse a diretora-presidente da FVS-AM sobre o caso:
“Na verdade, nós temos aqui uma situação que precisa ser abordada com vocês, que diz respeito a um caso noticiado intensamente nas mídias sociais hoje, sobre dois casos positivos diagnosticados pelo laboratório da Fiocruz. Temos a dizer que nós não tínhamos conhecimento desses casos, os pacientes procuraram por iniciativa própria o laboratório da Fiocruz, procederam a análise das suas amostras, e, no momento em que a Fiocruz identificou os casos positivos, hoje de manhã (terça, 17), a Fiocruz entrou em contato conosco informando da positividade dos casos. A partir daí, nós desencadeamos todas as medidas preconizadas de vigilância, que são: fazer a investigação do caso, identificar todos os contatos e todas as pessoas que esse caso teve contato e buscar coletar novas amostras para poder comprovar ou descartar os casos notificados como positivos. Ambos eram profissionais da área de saúde que, por iniciativa própria, resolveram não seguir o fluxo do diagnóstico oficial pelo Laboratório Central de Saúde Pública. O Lacen-AM é o único laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde para fazer esse tipo de diagnóstico aqui. Digno de nota que as pessoas podem sim ter a liberdade de buscar outros laboratórios para fazer seus exames, porém, todos os casos positivos – necessária e obrigatoriamente – têm que ser referenciados para a FVS-AM, para que o Lacen-AM possa proceder a reanálise desse material e confirmar ou descartar o diagnóstico inicial”.
Em uma rede social, na terça-feira (17), o filho do vice-reitor, Marcos Jacob Cohen criticou como o assunto foi tratado pela imprensa. Ele assegurou que o contágio do pai ocorreu em São Paulo, e que Jacob Cohen não entrou em contato com pacientes após a infecção.