MANAUS – Ministro dos Transportes por mais de cinco anos entre 2004 e 2011, o hoje candidato a prefeito de Manaus Alfredo Nascimento (PL) pretende durante a campanha eleitoral deste ano “reestabelecer a verdadeira história” sobre a recuperação da rodovia BR-319. Ele faz questão de tocar no assunto sempre que possível.
Alfredo diz torcer para que o trabalho avance sob a gestão Bolsonaro, mas afirma que será muito difícil por conta dos entraves ambientais que envolvem o Trecho do Meio e que há interesses econômicos internacionais que brecam o andamento das obras, que ele garante ter feito mais da metade enquanto foi ministro de Lula e Dilma Rousseff.
“Todo mundo já prometeu e o único que fez alguma coisa na BR-319 fui eu. Nos últimos 16 anos, não tem ninguém, nenhum político aqui do Estado, da região, que tenha colocado um centavo na BR-319”, declara.
Em entrevista ao ESTADO POLÍTICO, o ex-ministro contou “os bastidores que as pessoas não conhecem”. Confira na íntegra:
Quando eu fui ser ministro, e isso me deixou muito triste com o Lula depois, eu fui ser ministro com o compromisso de que o presidente da República faria a BR-319.
Os órgãos ambientais são da responsabilidade do governo federal. Quando assumi o ministério, eu percebi a má vontade dos órgãos ambientais em relação à construção da BR-319.
O que é que está por trás disso? Interesse do mundo inteiro, interesse contra as indústrias da Zona Franca de Manaus. Tem grandes empresas de fora daqui que não querem que essas empresas tenham competitividade, porque, tendo a BR-319, o custo do transporte – é um dos principais custos dos nossos produtos – ele vai reduzir e o produto daqui vai ganhar competitividade.
Então, assim, explicando a BR 319, são 877 quilômetros (de extensão). Faltam 400. O restante foi construído por mim como ministro, porque quando eu entendi esse imbróglio do meião na rodovia, eu fiquei brigando com os órgãos de Meio Ambiente. Contratei estudo de impacto ambiental, contratei estudo de fauna e flora, não exigiam, eu fiquei fazendo. Mas aí eu aproveitei e fui fazer os extremos (da rodovia).
Se você visitar Humaitá, em 220 quilômetros de Humaitá para Porto Velho tem 14 pontes construídas ao longo desse trecho. Tem uma ponte sobre o rio Madeira totalmente asfaltada. Ligue para alguém de Humaitá e pergunte “e a BR-319 aí, como é que tá?” para explicar eu estou falando. É um trecho que não tem que ainda não interrupção e que não estragou, porque tem trechos do lado de cá que já estragou.
O que está sendo anunciado pelo governo, e tem político daqui metido no meio dizendo que vai sair… Está sendo anunciado um trecho de 52 quilômetros num local que não exige licenciamento ambiental, que foi executado por mim, trecho que já estragou porque foi feito 16 anos atrás e que está sendo anunciado como solução, “agora a BR sai”.
Todo período eleitoral é isso, né? Eu não tomei o cuidado necessário para corrigir a informação da BR-319. Disseram “o Alfredo não fez a 319”. A verdade sobre a BR-319 é que eu fiz mais da metade dela, o que era possível ser feito. Saí do ministério há mais de nove anos, não colocaram um metro de asfalto no meião.
Além do mais, essa rodovia estava interditada, não tinha tráfego. Como ministro, eu recuperei o meio, sem asfalto, mas melhorei bastante e hoje tem linha de ônibus de Manaus para Porto Velho, de Manaus para Humaitá, para Lábrea, de Manaus para Apuí.
Então, o sul do Amazonas está servido e a parte do meio continua sem licenciamento e vou dar mais uma informação para vocês: essa parte de 400 quilômetros, só para vocês terem uma ideia de tempo, esses 400 quilômetros do meio da rodovia, em função das nossas chuvas, de você trabalhar com movimentação de terra que não pode estar molhado, tem que estar sequinho, senão você faz a obra e ela desmorona. Essa obra ela vai levar, esses 400 quilômetros, para serem executados são de 4 a 5 anos.
Eu vou repetir, se fizerem em menos me cobra depois, de 4 a 5 anos, porque cada trecho desse é dividido em trecho de 100 quilômetros. Posso fazer entre 25 quilômetros… outra coisa primeiro tem que ter a licença, depois tem que ter os projetos, depois tem que licitar a obra, mas nada disso está pronto.
Além disso, essa obra, pelo o que ela representa, pela dificuldade que ela representa essa obra vai custar, grave o número aí, no mínimo um bilhão e meio de reais. E acho com os números atuais, pelo que precisa ser feito lá, perto de dois bilhões de reais. É muito dinheiro. Vão botar dois bilhões nessa rodovia tão controversa?
Todo mundo já prometeu e o único que fez alguma coisa na BR-319 fui eu. Nos últimos 16 anos, não tem ninguém, nenhum político aqui do Estado, da região, que tenha colocado um centavo na BR-319.
Então, a verdade sobre a BR-319, eu fiz mais da metade dela. A parte que eu não fiz é porque não tem licenciamento ambiental e continua sem licenciamento ambiental.
Eu estou torcendo, pedindo a Deus que a gente consiga resolver isso porque eu sei a importância disso para minha cidade de Manaus, para a Zona Franca de Manaus. Essa rodovia tem uma importância muito maior. As pessoas não conseguiram compreender isso. Eu fiz a BR-174, que você sai daqui e vai pra Venezuela, sai daqui para Presidente Figueiredo e veja o trabalho que eu fiz lá. Eu fiz a 319 sem interrupção até Porto Velho, de lá você pega a 364, a 317 você vai ao Pacífico.
Esses 400 quilômetros da BR-319 ligam o Atlântico ao Pacífico. Os interesses são internacionais nisso. Isso tem que ser interrompido. A única coisa que está no meio atrapalhando isso são esses 400 quilômetros.
Os produtos da Zona Franca de Manaus ganhariam competitividade internacional, porque se eles saírem de Manaus pela BR-319 eles entram na 364 lá em Rondônia, na 317 em Assis Brasil e vão para Transoceânica, eles vão sair no Pacífico. Imagina o que vai se economizar nos produtos daqui, de capacidade de competição ganhariam internacionalmente.
Bolsonaro, por favor, ministro, briguem aí! Não adianta ficar dizendo “vamos pôr o povo para rua”. O povo está sendo levado não sabe direito que está acontecendo. Tem interesse internacional nisso, não querem que se conclua BR-319, tanto que tão dizendo “Alfredo não fez”.
Se fizerem os 400 quilômetros, a nossa realidade muda. Mas as forças são poderosíssimas. Nisso entram pessoas de outros países, de indústrias que negociam as informações. Isso tudo acaba acontecendo e a gente trata da 319 como se fosse uma coisa simples.
Aí, politicamente, os caras dizem assim “o Alfredo não fez a 319”. Fala verdade. Eu fiz mais da metade dela. O que eu não fiz é porque não teve licença e não tem ainda. E nós já vamos para 10 anos (desde que deixou o ministério) e não fizeram.
Então, assim, eu torço para que dê certo, porque eu sei a importância disso para Manaus, para o Amazonas e para o Brasil.