Por Thomaz Nogueira |
“Wishful thinking é uma expressão idiomática inglesa, às vezes traduzida como pensamento ilusório ou pensamento desejoso, usada na língua portuguesa, que certas pessoas pensam ser de difícil tradução. Significa tomar os desejos por realidade e tomar decisões ou seguir raciocínios baseados nesses desejos, em vez de em fatos ou na racionalidade”. (Wikipedia)
MANAUS – “Me engana que eu gosto” é a tradução livre das ruas, das feiras, do WhastApp, do Instagram. E parece ser o mote de alguns brasileiros nessa eleição. Um sujeito postou no Facebook: “Tem candidato que os eleitores dele pedem para não acreditar em nada do que ele fala!!!!”. Surreal.
“Não, a homofobia dele é da boca pra fora” segundo a Regina Duarte. Regina, me faz um favor, pergunta aos que foram agredidos, e sobreviveram, o que significa essa verbalização. Pergunta aos que foram agredidos e sobreviveram, porque outros não podem mais dar esse testemunho.
A intolerância política, repetida pela enésima vez no ato da Paulista, também é da boca pra fora? Pergunta a Mestre Moa. Ah, putz, não vai dar.
O preconceito contra Nordestino, também? A misoginia, a defesa de que mulheres ganhem menos, também? A ideia de que as crianças tenham acesso a armas, também? A apologia à Tortura, também?
Olha, o uso do dinheiro ilegal em que ele usou o partido para lavar, não foi da boca pra fora. Foi real! O uso indevido do auxilio-moradia também!
Vamos deixar claro. A abordagem que fazemos de alguns questionamentos econômicos não esquece e não supera esses questionamentos primais. Não, #EleNão é civilizado. O fato de #Elenão ser preparado é outro ponto.
Mas esse WISHFUL THINKING, esse ENGANA QUE EU GOSTO transcende para outras áreas e pessoas, que deveriam, por ofício, ser pragmáticas. Mesmo atingindo a parte mais sensível do corpo humano: O Bolso.
As propostas econômicas foram explicitadas. Repito que não se pode acusar Paulo Guedes de esconder, ele as defende abertamente.
A única contestação pública ao que escrevi, nega meus argumentos baseando-se em 2 fatos, sucintamente:
- Ele é PhD pela Universidade de Chicago e; (preciso transcrever)
- “possui vasta experiência no campo concreto de uma formação social, visto que trabalhou como assessor do Governo Chileno levado pelo grande economista Milton Friedman” (Só levado a concordar com o Lucas que a liberação da maconha, como fizeram Uruguai, Canadá e alguns estados americanos, acabaria com consumo de produtos estragados, só isso explica!)
Aos que não tem a obrigação de conhecer o tema: É exatamente por ser oriundo de Chicago, ninho maior do Ultraliberalismo Econômico, que estamos a correr riscos. O ponto fundamental da doutrina liberal é a total desregulação da economia, é a abertura dos mercados à importação, é a privatização ampla, geral e irrestrita. Há pontos importantes na Doutrina Liberal, inclusive como marcos civilizatórios. Mas sua aplicação como receita de bolo, se mostrou danosa as sociedades emergentes, como o Brasil.
O último exemplo é a Argentina. Macri chegou a ser saudado como o maior Presidente Latino Americano, pela aplicação do receituário de Chicago. A Argentina está afundada em mais outra crise e bateu de novo as portas do FMI. Se Paulo Guedes não aplicar a receita, é capaz de lhes pedirem o diploma de volta. Muita gente também, por modismo intelectual, defende a aplicação da cartilha, mesmo contra sua sobrevivência, sem avaliar caso a caso.
Então. Vamos ao caso concreto da experiência chilena na citada “formação social”. Ela atende pelo nome de “Reforma da Previdência”, levada a cabo no governo Pinochet. Oi, como é? Parece que estou ouvindo o Jânio Quadros no debate com Franco Montoro: “Está dispensada a citação, está dispensada, porque Vossa Excelência está a citar as Escrituras, valendo-se de Asmodeu ou Satanás”.
A Reforma da Previdência Chilena feita pelo Pinochet, foi apresentada ao mundo pelos neoliberais como “modelar”. Mas, na hora da onça beber água, na hora de pagar aposentadorias e pensões viu-se o que é esse “modelar”: Hoje, 91% dos benefícios pagos, ATENÇÃO REPETINDO, 91% de aposentadorias e pensões pagas pela Previdência Chilena são abaixo de R$ 800,00. Não acredita, clica aqui. A Crise está instalada, é a paz dos cemitérios. O Jaime Barreto quando narrava os jogos pela Rio-Mar tinha um bordão: “Ei, você ai, pare e escute.” Vai se fingir de surdo? É a sua aposentadoria.
Há uma série de personagens que agem assim, apoiam e participam da campanha do Capitão, trabalhando na surdina, na esperança de impor ou ver atendidas suas agendas, suas visões de mundo. Algumas das propostas desses personagens não tem guarida, nem apoio, mas eles consideram isso um detalhe. Alguém está enganando alguém. Isso não vai levar a coisa boa, não.
Ele tem apoio da maioria dos militares. Os militares brasileiros tem uma postura contraditória entre a teoria e prática. Conceitualmente anti-comunistas, fizeram a propriedade do Estado (as Estatais) representar mais de 70% do PIB Nacional durante o período dos Generais Presidentes. Ai, “esquecem” de Paulo Guedes, o Chicago Boy, privatista convicto, inclui na sua lista Petrobrás, Banco do Brasil e outros ativos vistos pelos militares como estratégicos. Será que isso vai levar a coisa boa?
Setores empresariais da indústria integraram-se a campanha do Capitão e carregam a mesma contradição. Cresceram a sombra da proteção estatal e contam com ela para seguir com seus negócios. A equipe econômica propõe incrementar a importação e cortar subsídios. A imprensa fala em uma lista inicial de 57 produtos. A Indústria nacional não vai gostar. Isso não vai levar a coisa boa, não.
Os ruralistas apoiam o Capitão, mas não abrem mão do crédito rural onde brigam para reduzir para o que pagam ao Banco do Brasil ou Caixa Econômica, mas já vimos que os bancos públicos estão na lista de privatização de Paulo Guedes. Ciro Gomes alerta que sem essa alternativa os ruralistas vão pagar muitas vezes mais nos bancos privados. Não deixe de assistir o didático bate-boca de Ciro Gomes com o Presidente da Federação da Agricultura do RS. Clique aqui. Será que isso vai levar a coisa boa?
Há ainda, entre os apoiadores, os defensores de uma agenda moral. Defendem a família tradicional, valores religiosos cristãos e um ambiente saudável de educação das crianças. O Capitão teve múltiplos relacionamentos, uma de suas ex-esposas saiu do país, comprovadamente por se sentir ameaçada. O Capitão prometeu fazer de um ator pornô ministro da Cultura e o elegeu Deputado Federal, ofendeu líderes religiosos, e incentiva e estimula e ensina a crianças a usar armas. Alguém está enganando alguém. Isso não vai levar a coisa boa, não.
Tem apoiadores também entre os que querem uma renovação da política, querem pessoas comuns, não políticos carreiristas. O Capitão é politico há 30 anos e todos os seus filhos adultos são políticos de carreira. Nada há de relevante no seu desempenho parlamentar. Tem gente se auto enganando. Isso não é coisa boa, não.
Tem gente que apoia o Capitão na esperança que ele imite Fujimori, a quem já declarou admirar, e dê um auto-golpe. O Capitão namora a ideia. Pode ser a primeira vitima. Mas em ambas as hipóteses, isso não é coisa boa, não.
Esse ME ENGANA QUE EU GOSTO também se dá quanto ao Polo Industrial de Manaus -PIM. As críticas que recebi não tocaram no mérito. Ninguém negou a proposta de abertura de importações, ninguém negou que ela fere de morte o PIM. Ninguém negou que ele se referiu pejorativamente à Zona Franca, chamando de Capitalismo de Quadrilha e depois a citando como exemplo de manobra escusa que afeta o Orçamento da União. Ficaram ali, como que escondidos na esperança de que ele não lembre da gente. “Talvez a aversão dele à Manaus, seja da boca pra fora”. Vamos à mesa branca perguntar a Mestre Moa.
O PIM é positivo para o Brasil. Arrecada até mais impostos que todos os Estados Amazônicos somados. Mais que isso, fica com menos de 30% do que arrecada, contribuindo com o desenvolvimento dos outros Estados e Regiões do País. Contribui, sim para a Balança Comercial brasileira, importando insumos, ao invés de produtos acabados, o que significaria mais reservas gastas na importação. Criou sim, clusters produtivos, onde o sempre citado Polo de 2 Rodas é o melhor exemplo. São umas 15 fábricas de motocicletas e bicicletas, e mais de 70 de partes e peças. Da fundição do motor à eletrônica embarcada.
Ah, e mais importante, oferece emprego formal que alivia a pressão sobre a floresta, conforme afirmam os estudos sérios.
Me recuso a ficar calado, esperando abrir o cadafalso ou torcendo para que o carrasco se esqueça de mim.
Alguém ai pode dizer que as perspectivas, via Capitão, são bem otimistas para Manaus? Friamente, diga.
Poderão ser, se fizermos a escolha certa, nessa hora. Se é verdade que desse lado pairam ameaças, do lado de Haddad temos iniciativas que trazem esperanças. Desse lado fizeram duas prorrogações fundamentais. Em 2003, por 10 anos e depois em 2013 por mais 60 anos. Alguém prorroga algo que não gosta?
Portanto, tenho como fazer a coisa certa pelo país e pela aldeia dos barés. Voto Haddad.
Pelo compromisso com a educação, com a inclusão social, com os princípios democráticos.
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Thomaz Nogueira – Especialista em direito tributário, já foi Secretário Executivo da Receita na SEFAZ-AM, Superintendente da Suframa e Secretário de Planejamento do AM.