MANAUS – O deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) equiparou o desfile militar realizado nesta terça-feira (10) em Brasília ao movimento promovido pela Ditadura Militar para constranger o Congresso Nacional e evitar a realização de eleições diretas em 1985.
Em pronunciamento na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), Serafim lembrou que na ocasião “o Congresso se ajoelhou e não aprovou as Diretas Já”. No entanto, o parlamentar disse ter confiança de que agora a Câmara dos Deputados vai sepultar de vez a PEC do voto impresso, apesar da defesa do presidente Jair Bolsonaro.
Parlamentares independentes e da oposição ao governo federal avaliam que o desfile realizado nesta manhã teve por objetivo intimidar os deputados para aprovação do voto impresso, já derrubado em Comissão Especial da Câmara.
“Em 1984, creio que no mês de abril, foi a voto, na Câmara dos Deputados, a emenda chamada Dante de Oliveira para fazer retornar as Eleições Diretas em todos os dígitos. Naquela altura, os inspetores da ditadura, o presidente João Figueiredo, o comandante militar do Planalto era Nilton Cruz, foram decretadas as medidas de emergência. Os tanques vieram para as ruas, em Brasília, e o general Nilton Cruz, montado em um cavalo branco, fazendo um espetáculo de exibicionismo para constranger o Congresso. O Congresso se ajoelhou e não aprovou as Diretas Já, mas ali abriu caminho para a eleição indireta com Tancredo Neves e José Sarney no colégio eleitoral, o que traria a constituinte e de volta a redemocratização de hoje, de 1988 até os nossos dias – 33 anos de regime democrático mais longos da nossa história”, discursou Serafim.
“Para nossa tristeza, no dia em que o Senado vai votar o fim da Lei de Segurança Nacional, um dos resquícios do período ditatorial, e que a Câmara dos Deputados vai sepultar de vez essa história do voto impresso, assistimos à reedição daquele abril de 1984 e o próprio presidente da República para dar uma demonstração de intimidação”, afirmou.
Serafim disse que “não cola” o argumento de que trata-se de uma “trágica coincidência”, como defendeu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “(…) na verdade o que houve foi uma intimidação clara”, completou.
Na avaliação de Serafim, a aprovação do voto impresso é uma tentativa de tumultuar a eleição. Para ele, os deputados federais vão arquivar a proposta.
“Na nossa vida, existem momentos que nós devemos saber se estamos falando para aquele momento ou para a história. E este momento não é de falar só para agora, ele fala para a história, é saber o que queremos que a história vai dizer de cada um de nós. Digo e reafirmo aqui a minha manifestação de desconforto, de sentimento de agressão à democracia que vivemos em decorrência dessa desnecessária e absurda manifestação que o presidente da República provocou envolvendo as Forças Armadas que são aparelho de estado e nunca aparelho de governo”, disse o deputado.
“Quero deixar aqui a minha renovação de fé na democracia, minha renovação de confiança no Congresso Nacional. Minha confiança no STF, no TSE para que tenhamos respeito à vontade popular. A urna eletrônica começa em Manaus há 40 anos, na Utam. Fim do voto impresso. Vamos derrubar com larga margem de voto hoje a PEC e repudiar a agressão do presidente Bolsonaro ao Congresso Nacional e aos poderes legitimamente constituídos”, encerrou.
O desfile
O desfile dos veículos militares, que durou cerca de 10 minutos, provocou reação por ocorrer em um momento de tensão institucional, além de ser a data prevista para que a Câmara dos Deputados vote a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso. A sessão está marcada para começar às 15h. Bolsonaro já assume a possibilidade de derrota.
Parlamentares independentes e da oposição interpretaram o desfile atípico como uma tentativa de intimidação em prol do voto impresso, defendido por Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Até aliados criticaram o desfile.
Nesta manhã, a Marinha passou com blindados e outros veículos militares em frente ao Palácio do Planalto para entregar um convite ao presidente Jair Bolsonaro assistir a um exercício militar que ocorre todos os anos na cidade goiana de Formosa, no Entorno de Brasília. Participam da chamada operação “Formosa” veículos que saem do Rio de Janeiro.
Apesar de o evento ser anual (realizado desde 1988) e o presidente da República da vez ser sempre convidado, não é comum que seja organizado um desfile para fazer o convite.
Bolsonaro recebeu o convite no alto da rampa do palácio, das mãos de um militar. O presidente estava acompanhado de ministros do governo e dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica.