MANAUS – A falta de medicamentos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Manaus foi obstáculo para a equipe do Ministério da Saúde que veio à capital do Amazonas, em janeiro deste ano, promover o uso de remédios para a Covid-19 que não têm comprovação científica para o tratamento da doença. É o que mostram documentos em posse da CPI da Pandemia, que foram divulgados na quarta-feira (21) pela Globonews.
Em um dos documentos, um dos técnicos do Ministério da Saúde afirma que havia UBS em Manaus que não tinha sequer dipirona. “Por fim, mesmo que os colegas locais aceitem o tratamento precoce, as UBS não disponibilizam as medicações. Algumas não têm nem Dipirona”, diz um trecho do relatório da equipe do ministério.
A incursão da equipe do Ministério da Saúde, composta por médicos voluntário e defensores do “Kit Covid” ocorreu nos primeiros dias de janeiro, quanto a equipe do atual prefeito, David Almeida (Avante), tinha acabado de assumir.
Relatório de transição confirmou cenário
O relatório da comissão de transição de governo da Prefeitura de Manaus confirma o cenário no setor de saúde da atenção primária da capital em janeiro deste ano.
A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, em depoimento na CPI da Pandemia do Senado, no último dia 25 de maio, descreveu a situação nas unidades da prefeitura de “cenário de caos”.
De acordo com o relatório, a gestão de David recebeu o setor de saúde com estoque baixo ou zerado de medicamentos e de produtos para saúde, “incluindo os utilizados no atendimento de pacientes com Covid-19”.
Trecho do documento descreve a situação como crítica, principalmente diante do cenário de crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus.
“Vimos que em relação à crise sanitária, estabelecida pela COVID-19, há um problema crítico, que é o baixo estoque de medicamentos e de produtos para saúde, inclusive EPIs”, aponta a comissão de transição.
“Verificou-se que os Produtos para Saúde-PPS e medicamentos da Atenção Básica estavam com diversos itens em estoque zero, a maioria em processo licitatório, revelando demora para aquisição e eventual retenção no atendimento da assistência farmacêutica”, segue o relatório.
“Observou-se que dos medicamentos para COVID-19 continham itens em estoque zero, ou críticos, a maioria em processo licitatório, revelando demora para aquisição e eventual retenção no atendimento da assistência farmacêutica”, informa a comissão de transição no relatório.
O relatório foi assinado e enviado ao Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) no dia 29 de janeiro. Assinam o documento os procuradores Rafael Albuquerque, coordenador da equipe de transição da gestão de Arthur Neto, e Tadeu de Souza, coordenador da equipe de transição de David Almeida.
Médico sugeriu que enfermeiros prescrevessem tratamento
Os documentos obtidos pela Globonews mostram que médicos enviados pelo Ministério da Saúde a Manaus, em janeiro, sugeriram dar autonomia a enfermeiros para prescreverem remédios sem eficácia para Covid-19. Isso acontecia justamente quando o Amazonas estava no auge da crise de saúde pública por conta da pandemia.
As sugestões foram feitas e enviada para a Mayra Pinheiro.
Um dos trechos da sugestão de um médico voluntário diz o seguinte: “Sugiro que a estratégia seja a criação de ‘tendas de tratamento precoce’, onde atuariam profissionais que aderem esta modalidade terapêutica. Para não haver discordâncias entre as prescrições, sugiro a criação de um ‘kit'”.
Em outro trecho, um médico escreve: “Assim sendo, daríamos a opção dos doentes escolheres e não dos profissionais. Visto que atualmente, os doentes têm que ter a ‘sorte’ de ser atendido por um médico prescritor do tratamento precoce. Com as tendas, a decisão fica a cargo dos pacientes. Por fim, mesmo que os colegas locais aceitem o tratamento precoce, as UBS não disponibilizam as medicações. Algumas não têm nem Dipirona”.