MANAUS – Em uma ação corporativista, a Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) aprovou nesta quarta-feira (27) a revogação do título de Cidadão Amazonense do empresário, publicitário e analista político Durango Duarte. O título, de autoria do ex-deputado Chico Preto e subscrito pelo ex-deputado Josué Neto, foi proposto em 2014 e concedido pela ALE-AM em 2019.
Solicitada por Fausto Júnior (MDB), a revogação se deu sob a justificativa de “afronta” por declarações de Durango ao site Real Time 1. Apesar citar que recebeu o título em uma análise técnica sobre a ineficiência estrutural das Assembleias Legislativas atualmente no sistema político brasileiro, o trecho que gerou indignação nos deputados foi quando Durango disse que o impeachment do governador Wilson Lima (PSC) não foi aprovado porque deputados receberam benesses do governo.
“Olhe para um deputado, olhe bem nos olhos dele, observe os gestos dele, aí tu fazes uma conta assim e pega no papel: Quantos cargos possui no Governo? Quantas empresas de amigos ele tem no Governo? Quais são os interesses dele futuro? Quais são as emendas que ele tem no interior do Estado? Um deputado, você analisa por aqui. Aí, provavelmente, muitos deputados não teriam muitos motivos para pedir o impeachment do governador. Por que perderiam tanto? Será que vale a pena perder todos esses benefícios?”, declarou.
Em outro trecho da entrevista, Durango fez uma análise técnica da ineficiência dos parlamentos estaduais no Brasil, foi quando, de forma pontual, lembrou que recebeu o título de Cidadão Amazonense da ALE-AM.
Durango disse que os deputados estaduais saem caros para o eleitor/contribuinte e entregam pouco trabalho. “Há uma deformidade, que advém da Constituição de 88, que tirou poderes das Assembleias Legislativas”, asseverou.
“Então, como o deputado não tem muito o que fazer, ele fica dando título – até para mim já deram título de Cidadão Amazonense. É título disso, é medalha de ouro, é não sei o quê”, afirmou.
Para a Fausto Júnior, Durango “afrontou gravemente a Assembleia Legislativa como instituição, aos seus membros e desprezando violentamente o Título de Cidadão do Amazonas, concedido a sua pessoa, como forma de homenagem por esta casa”.
Fausto Júnior afirma que é “perceptível que a fala do então homenageado é pronunciada com desprezo, deboche e a absoluta falta de respeito” aos deputados e da ALE-AM, como instituição democrática.
O autor da revogação disse que a fala expressada por Durango Duarte “não se enquadra na mera utilização do direito a liberdade de expressão”. O deputado disse que “sua ‘mera opinião’ ultrapassou todos limites aceitáveis” e que a fala foi interpretada como uma ofensa.
Na mesma linha, o presidente da ALE-AM, Roberto Cidade (PV), se manifestou. Em nota de repúdio, disse: “A Assembleia Legislativa lamenta o posicionamento do publicitário, que foi tão bem recebido e acolhido em nossa terra, tendo, inclusive recebido o título de Cidadão do Amazonas, e que, mesmo assim, desdenha do trabalho sério e comprometido que esta Casa desenvolve, na representatividade do povo amazonense”.
Outra ‘punição’
Além da revogação do título, Fausto Júnior também quer que Durango seja considerado persona no grata por ter feito “graves declarações, afrontando a Assembleia Legislativa como instituição, aos seus respectivos membros e desprezando violentamente o Título de Cidadão do Amazonas, concedido a sua pessoa, como forma de homenagem por esta casa”.
O site tentou contato com Durango, sem sucesso. Ele ainda não se manifestou nas redes sociais.
Ao responder crítica de Josué Neto, hoje conselheiro do TCE-AM, no Twitter, no último dia 19, Durango pediu desculpas. “Caro amigo, conselheiro Josué Neto. Houve uma distorção do meu pensamento em relação ao respeito que tenho por vossa excelência. Tenho muito orgulho de ter recebido o título de Cidadão do Amazonas de suas mãos, projeto que tem como coautor o amigo Chico Preto”, escreveu.
“(…) sou muito grato a todos os deputados estaduais que aprovaram o requerimento. Minha intenção não foi jamais desdenhar da honraria que recebi”, prosseguiu.
“Minha crítica se fez sobre o excesso de títulos que são concedidos a pessoas que pouco ou nada fizeram pelo Amazonas e muitas vezes sequer conhecem nosso Estado. Essa foi a abordagem da resposta que dei na entrevista a um site local”, afirmou.
“Peço-lhe as mais sinceras desculpas pelo mal-entendido e reitero minha profunda estima por você”, concluiu.
A entrevista
Abaixo, confira a íntegra da entrevista ao Real Time 1: