MANAUS – Para o vice-governador Carlos Almeida Filho, o alinhamento do governador Wilson Lima com o presidente Jair Bolsonaro na gestão da pandemia transformou Manaus em um laboratório gerador da nova variante do vírus da Covid-19. A avaliação foi feita pelo defensor público em entrevista à coluna Painel, da Folha de S. Paulo.
Na entrevista, entre outras coisas, ele culpa Wilson (com quem está rompido há um ano) pela crise do oxigênio durante a segunda onda da pandemia em Manaus, em janeiro. Segundo o vice-governador, a empresa White Martins avisou com antecedência sobre o risco de desabastecimento do insumo para tratar pacientes.
Investigado pela operação Sangria sobre a importação de respiradores, Carlos Almeida disse que, após a entrada na Polícia Federal no caso, a postura do governo estadual foi de se aproximar das teses bolsonaristas em relação à pandemia, o que, na avaliação dele, incentivou a criação da nova cepa que viria a matar milhares de pessoas em 2021.
“Essa responsabilidade (pela crise da Covid-19 no Estado) é muito clara, é do próprio governo do Amazonas. Quando houve envolvimento do governador na operação em junho, com muita contundência, com pedido de prisão, a estratégia dele explícita foi mostrar alinhamento com as políticas de combate à pandemia do governo federal”, disse.
“E pra isso, contrariamente às medidas sanitárias que deveriam ser aplicadas, o Amazonas deixou de tomar as medidas e deixou a P1 ser gerada. Quem diz isso são os especialistas, a P1 foi gestada entre outubro de novembro, quando se cobrava do governador medidas de contenção”, acrescentou Almeida.
“Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho. O que acabou acontecendo foi um laboratório, a P1 encontrou ambiente adequado. Porque as políticas de saúde naquele momento poderiam implicar em enfrentamento às políticas do governo federal, poderia enfraquecer o governador mediante a exposição criminal”, declarou.
“Isso ficou explícito na presença constante dele em Brasília nesse meio tempo, tentando buscar socorro ou no mínimo uma simpatia política no caso de algo mais grave”, completou o vice.
Almeida disse que quando o então ministro Eduardo Pazuello esteve em Manaus, em janeiro deste ano, para resolver o problema, “ele já estava criado”. “Mas que problema é esse? A política de contaminação para ter imunidade de rebanho. Se dizia no Amazonas que o convívio e contaminação geraria isso. Essa era política anunciada pelo próprio governo federal. Mas nesse ponto, o que se mostra é que o tiro saiu pela culatra, ocorreu a gestão de uma cepa mais contundente. Isso é por inação do governo estadual, mas também por causa de uma política do governo federal”, disse.
Denúncia
Sobre a denúncia enviada pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Carlos Almeida ressaltou que não foi indiciado pela PF por falta de provas, ainda assim foi denunciado por organização criminosa.
Ele disse que nos autos não há provas que sustentem a acusação feita pela PGR. “A PF, em 448 páginas, analisa minha conduta, esquadrinha minha vida, fez isso através até de busca e apreensão, e concluiu que eu não sou responsável pelos atos que foram praticados”, afirma.
Na sequência, Almeida lembra do rompimento com Wilson. Disse que rompeu porque “não concordava com pessoas estranhas dentro da administração”.
O outro lado
Ao ESTADO POLÍTICO, o governo informou em nota que o vice-governador faz “politicagem” e que suas declarações não têm fundamento.
Segundo a nota, as ações do governo estadual no combate à pandemia sempre foram guiadas pela ciência.
Leia a nota abaixo:
O Governo do Amazonas informa que as afirmações feitas pelo vice-governador Carlos Almeida Filho não tem qualquer fundamento. A prova disso são dezenas de decretos governamentais com medidas de restrições e de distanciamento social adotadas ao longo de mais de um ano de pandemia.
Além disso, em poucos meses, o Amazonas se tornou um dos Estados que mais vacina a sua população. Também em curto período de tempo, dada a emergência do caso, o governo do Estado ampliou em 331% a quantidade de leitos na Capital e em 340% no interior do estado.
Esses fatos, por si só, já demonstram o quanto são falsas as alegações de que o governo adotou posicōes contrárias ao que recomenda a ciência e as instituições de saúde.
Como já é de conhecimento público, a crise com a pandemia de Covid-19 no Amazonas foi agravada por uma nova cepa do novo coronavírus, que chegou de maneira imprevisível e muito mais mortal, ampliando exponencialmente a demanda por oxigênio na rede de saúde pública e privada, em janeiro deste ano. Essa mesma cepa, posteriormente, fez outras milhares de vítimas em todo o Brasil.
Não é hora de politicagem. É hora de trabalhar duro para evitar a perda de vidas humanas e recuperar a economia do estado do Amazonas, como o governo vem fazendo desde o inicio dessa crise.
Leia a entrevista na íntegra: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2021/05/vice-do-amazonas-diz-que-politica-de-imunidade-de-rebanho-apoiada-por-bolsonaro-levou-manaus-ao-colapso.shtml
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