MANAUS – Com a possibilidade de ser mais transmissível, a nova variante do vírus causador da Covid-19 identificada no Amazonas está relacionada à explosão de casos da doença entre o fim de 2020 e o início deste ano no Estado. A avaliação é da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM).
O diretor-presidente em exercício do órgão, Cristiano Fernandes, observa que metade dos casos monitorados em dezembro eram da nova linhagem viral do Sars-CoV-2. Em janeiro, o índice passou para 91%.
“Tivemos um aumento muito expressivo na segunda quinzena de dezembro e em janeiro e fevereiro. Nesse intervalo de rapidez da taxa de transmissão está associado ao surgimento da variante P.1. Em dezembro, tínhamos menos de 50% de presença da variante nos genomas das amostras que acompanhamos e em janeiro aumentou para 91%. Isso mostra a predominância”, declarou.
Cristiano explica que a variante é um dos fatores para o cenário epidemiológico registrado entre o final de dezembro e janeiro. Mas não é o único. Ele citou como outros “potencializadores” o comportamento das pessoas com a ausência de uso da máscara e higienização das mãos, festas clandestinas e aglomeração de pessoas.
Com o surgimento da variante, o número de novas internações mais que dobrou nesta segunda onda da doença viral. No dia 14 de janeiro deste ano, o Estado registrou o segundo pior índice desde o início da pandemia, com 258 novas internações. Desse total, 254 foram de novos pacientes internados nos hospitais da capital e quatro de unidades do interior do estado, segundo boletim epidemiológico da FVS-AM.
Em Manaus, o recorde de novos pacientes internados em único dia era de 105, nos dias 22 de abril e 4 de maio de 2020. No primeiro pico da Covid-19, o recorde de novas internações diárias no estado foi de 168, no dia 4 de maio. Em abril, o número de novos pacientes internados chegou a 106, no dia 22.
Após o pico de novas internações em 2021, o indicador está caindo e chegou a 45 novas entradas na rede hospitalar, das quais 45 foram na capital, no dia 8 deste mês.
Mutação
Identificada como P.1 e B.1.1.28, a nova variante foi confirmada com origem no estado após pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia). A mutação, detectada em viajantes japoneses que tinham passado pela região amazônica, provavelmente ocorreu entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, conforme nota técnica da Fiocruz.
O virologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca, responsável pelo sequenciamento genético do novo coronavírus, explicou que as novas variantes do Sars-CoV-2 abrigam um número maior de mutações na proteína chamada Spike usada pelo vírus para hospedar-se na célula.
O cientistas disse que a possibilidade da nova cepa ser mais transmissível deve-se às semelhanças da variante amazônica com as cepas do Reino Unido e da África do Sul. O que diferencia as novas linhagens é o fato de não conter todas as mutações em comum.
“Ainda não temos certeza se é mais transmissível que as outras linhagens. Mas, baseado nos resultados que existem para as linhagens do Reino Unido e África do Sul, que compartilham algumas mutações em comum e o aumento da detecção de 0% em novembro, 51% em dezembro e mais de 91% em janeiro, sugerem sim que a variante é mais transmissível, mas precisamos fazer outros estudos para ter 100% de certeza”, disse.
Naveca afirmou que a mutação genética já era esperada e que a variante P.1 possui mutações que não ainda tinham sido constatadas nas outras cepas.
Transmissão
A taxa de transmissibilidade do novo coronavírus (RT) no Amazonas apresentou desaceleração, nas últimas semanas, passando de 1.30 para 1.06. Cada 100 pessoas infectadas pela doença viral transmitem para 106 e não mais para 130, conforme o diretor-presidente em exercício da FVS-AM.
A desaceleração fez com que o Amazonas deixasse a liderança do ranking brasileiro no que diz respeito à taxa de transmissibilidade e hoje ocupa a quinta colocação entre as unidades da federação. O cenário é fruto da combinação de fatores que inclui a restrição de circulação de pessoas no Estado, a suspensão temporária do comércio não essencial e o aumento dos índices de isolamento social.
Contudo, o pesquisador alerta que a RT acima de um representa uma alta taxa de transmissão e que as medidas de prevenção à Covid-19 devem ser mantidas pela população.
“Sempre temos que olhar esse indicador de maneira cautelosa para que as pessoas não fiquem com a falsa impressão de que tudo está ficando bem. Temos uma desaceleração com as medidas restritivas adotadas em todos os segmentos, iniciativas na rede hospitalar e a própria campanha de vacinação como fator de proteção vai nos ajudar muito evitando formas graves e óbitos nessa faixa da população prioritária”, alertou.
Multifatorial
Naveca citou o inverno amazônico, período de novembro a maio com maior proliferação de síndromes gripais, e o descumprimento do distanciamento social, com festas e confraternizações de final de ano como contribuintes para disseminação do novo coronavírus. “Todas essas variáveis somando a nova variante foram responsáveis por esse aumento”, finalizou o pesquisador.