MANAUS – Enfraquecida pelo vazamento das mensagens na série de reportagens conhecida como “Vaza Jato”, a força-tarefa da Lava Jato no Paraná foi dissolvida, conforme anúncio do Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira (3).
“Desde 1º de fevereiro, a Lava Jato no Paraná passou a integrar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal (MPF). A força-tarefa paranaense deixa de existir, porém alguns de seus integrantes passam a atuar no Gaeco, com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos”, informou a Procuradoria da República no Paraná em nota.
Criado em 2014, o grupo de procuradores coordenado por Deltan Dallagnol atuou na maior parte da operação Lava Jato e foi responsável pela prisão de nomes como o ex-presidente Lula, o ex-deputado cassado Eduardo Cunha e o empresário Marcelo Odebrecht.
A operação, cujo braço paranaense era o principal, vinham se enfraquecendo desde 2019, com a série “Vaza Jato”, do site jornalístico The Intercept Brasil. O conteúdo das mensagens apresentadas pelo site, confirmadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), apontam que os investigadores atuaram em conjunto com o então juiz federal Sergio Moro, e tinham objetivos políticos com a operação – inclusive o de retirar Lula das eleições de 2018.
A Lava Jato também é alvo de pressão da classe política contra seu funcionamento – pressão intensificada com o presidente Jair Bolsonaro e por seu procurador-geral da República, Augusto Aras.
O MPF não se manifestou se outros braços estaduais da Lava Jato, como no Rio de Janeiro e São Paulo, devem ser mantidos.
Confira a nota aqui na íntegra.
Balanço
Segundo o MPF, a força-tarefa esteve por trás de 79 fases da operação, 1.450 mandados de busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 132 mandados de prisão preventiva e 163 de prisão temporária. 130 denúncias contra 533 acusados foram feitas com provas colhidas durante a operação, gerando 278 condenações de 174 pessoas, em um total de 2.611 anos de pena.
A equipe promoveu 735 pedidos de cooperação internacional – o que ajudou a aumentar o escopo da operação e permitir que outros países também promovessem investigações, como o caso do Peru.Os 209 acordos de cooperação resultaram, segundo o órgão, a devolver R$ 4,3 bilhões aos cofres públicos.
“O legado da Força-Tarefa Lava Jato é inegável e louvável considerando os avanços que tivemos em discutir temas tão importantes e caros à sociedade brasileira. Porém, ainda há muito trabalho que, nos sendo permitido, oportunizará que a luta de combate à corrupção seja efetivamente revertida em prol da sociedade, seja pela punição de criminosos, pelo retorno de dinheiro público desviado ou pelo compartilhamento de informações que permitem que outros órgãos colaborem nesse descortinamento dos esquemas ilícitos que assolam nosso país há tanto tempo”, afirmou em nota Alessandro José de Oliveira, coordenador do núcleo da Lava Jato no Gaeco.
Histórico da Lava Jato
A maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro do Brasil teve início em 17 de março de 2014, quando a operação investigou crimes financeiros praticados por quatro organizações criminosas lideradas por doleiros.
Os primeiros fatos que deram origem às investigações da Lava Jato estão relacionados às apurações de um esquema de lavagem de dinheiro, envolvendo o ex-deputado federal José Mohamed Janene, duas empresas sediadas em Londrina, no Norte do Paraná, (CSA Project Financeira e Dunel Indústria e Comércio), o doleiro Carlos Habib Chater e pessoas físicas e jurídicas a ele vinculadas. Como a lavagem do dinheiro ocorria no Paraná, a investigação foi ancorada na Vara Especializada em Lavagem de Dinheiro do Estado. Durante o tempo, foi constatada a prática de delitos relacionados à organização criminosa, evasão de divisas, falsidade ideológica, corrupção de funcionários públicos, tráfico de drogas, peculato e lavagem de capitais.
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