BRASÍLIA (Reuters) – O candidato apoiado pelo governo, Arthur Lira (PP-AL), foi eleito com larga vantagem em primeiro turno para a presidência da Câmara, dando fôlego ao governo para tocar sua pauta prioritária e ainda alguma garantia diante dos cerca de 60 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.
Ao assumir, Lira defendeu uma pauta emergencial, atenção à responsabilidade fiscal e à questão social.
“Irei propor ao novo presidente do Senado uma ideia geral que chamo de ‘Pauta Emergencial’, para encaminharmos os temas urgentes que exigem decisões imediatas”, disse, assim que foi eleito, de pé, ao lado da cadeira já vazia do presidente da Câmara.
“O que fará parte dessa pauta? Não serei eu que irei dizer. Seremos nós, todos nós, todas as instâncias desta Casa, o Colégio de Líderes, as bancadas, respeitando a proporcionalidade. E iremos travar esse debate com os demais Poderes, de forma transparente e coletiva”, disse, procurando passar um tom conciliador.
Ao prometer união, agradeceu seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), mas em seguida destituiu o bloco que havia dado sustentação ao emedebista, alegando que seu registro ocorreu após o prazo limite predeterminado, atitude que pegou de surpresa boa parte do plenário e pode acirrar os ânimos na Casa.
Com a decisão de Lira, a votação para os demais cargos da Mesa Diretora foi desconsiderada e será realizada nova sessão na terça-feira para a definição com o novo cálculo de proporcionalidade.
Lira foi eleito com 302 votos, enquanto seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), candidato patrocinado pelo então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), obteve 145 votos.
O governo, que creditava parte dos problemas do país à condução de Rodrigo Maia, trabalhou pesado pela eleição de Lira, mas a vitória custará a liberação de recursos para emendas parlamentares —ativos extremamente desejados em ano pré-eleitoral— e também cargos no Executivo.
“Precisamos urgentemente amparar os brasileiros que estão em estado de desespero econômico por causa da Covid-19 e temos de examinar como fortalecer nossa rede de proteção social. Temos de vacinar, vacinar, vacinar o nosso povo. Temos de buscar o equilíbrio de nossas contas públicas, de dialogar com a sociedade e o mercado de forma transparente para que haja uma compreensão do que é possível e não é possível fazer e daquilo que, de forma previsível, pode ser pactuado ou não”, discursou.
PROMESSA DE INDEPENDÊNCIA
Líder do PP e também do chamado centrão, o deputado construiu sua candidatura desde o ano passado em conversas com cada setor e bancada da Câmara.
A despeito da preferência do Planalto, Lira promete atuação independente e decisões coletivas, a partir de reuniões do colégio de líderes. Também prometeu atuação em consonância com os demais Poderes.
“Mais do que nunca é preciso que os Poderes da República atuem com harmonia e responsabilidade, sem abrir mão de sua independência, pois a democracia é um mosaico em que os contrastes produzem ao final um resultado multifacetado, como é a nossa sociedade.”
Sobre um eventual impeachment de Bolsonaro, Lira tem dito que a crise trazida pela pandemia de Covid-19 não deve ser politizada e não pode servir de motivo para eventual impedimento do presidente. Fontes apontam, no entanto, que a eleição de Lira não implica em uma blindagem permanente do presidente Jair Bolsonaro.
O parlamentar admite, por outro lado, que poderá haver a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a gestão da saúde no enfrentamento à pandemia, desde que preencha as exigências mínimas.
Empresário, advogado e pecuarista, Lira tem 51 anos e está no terceiro mandato como deputado federal.