By Alberto Alerigi Jr., Lisandra Paraguassu |
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) – Um homem negro foi morto ao ser espancado por seguranças de uma loja do Carrefour Brasil em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, véspera do feriado da Consciência Negra em várias cidades do país, em mais um caso de violência ocorrido nas dependências do grupo no país.
João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, teria discutido com uma caixa do supermercado, que chamou a segurança da loja.
Um vídeo do momento do espancamento mostra Freitas sendo agredido por dois homens, identificados como Magno Braz Borges, segurança do Carrefour Passo D’Areia, e Giovani Gaspar da Silva, policial militar temporário. De acordo com testemunhas, Silva estaria fazendo compras quando participou do espancamento.
No vídeo, Freitas aparece sendo agarrado por um dos homens enquanto o outro dá socos em sua cabeça. Depois, um dos homens coloca o joelho nas costas do homem enquanto o outro continua batendo. Uma mulher, identificada depois como também funcionária do Carrefour, de acordo com a mídia local, filma a agressão de perto.
A polícia foi chamada depois que Freitas já estava imóvel. Uma ambulância também foi chamada, mas o homem agredido já estava morto.
Os dois agressores foram presos em flagrante e autuados por homicídio triplamente qualificado.
Em nota, a Brigada Militar –como é chamada a Polícia Militar do Rio Grande do Sul– informou que Silva não é policial efetivo, não estava em serviço policial e tem atribuições restritas a atividades administrativas e videomonitoramento. Segundo a BM, a conduta de Silva fora do horário de trabalho será “avaliada com todos os rigores da lei”.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao lado da chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, e do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Rodrigo Mohr, afirmou que as imagens causam indignação e que todas as circunstâncias estão sendo apuradas para que os responsáveis sejam punidos.
“Todo o esforço do Estado estará na apuração para que os responsáveis por esse crime enfrentem a Justiça, tendo a sua oportunidade de defesa. Mas as cenas são incontestes de que houve excessos que deverão ser apurados”, disse o governador.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Mohr afirmou que será aberto um Processo Administrativo Disciplinar e que o PM temporário deve ser expulso da corporação, além de responder a processo criminal na Justiça.
“Como é temporário, pode ser demitido a qualquer momento, apesar de ter a ampla defesa. O crime em si já nos habilita para tomar as medidas de exclusão”, disse o coronel.
Mohr disse ainda que Freitas já estava fora do supermercado e a situação estava sob controle e não havia razão sequer para imobilização, muito menos para agressão.
Em nota divulgada através de suas redes sociais, o Carrefour Brasil afirmou que “lamenta profundamente” e classificou a morte como “brutal”.
“Iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente”, diz o texto. “Estamos profundamente consternados com tudo o que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo o suporte para as autoridades locais”, afirmou a empresa em comunicado.
Além disso, o Carrefour afirmou que vai fechar a unidade em respeito ao homem morto e entrar em contato com sua família. A companhia também informou que vai cancelar o contrato com a empresa responsável pela segurança e que o funcionário responsável pela loja no momento do espancamento será demitido.
Em meados de agosto, um homem passou mal e morreu em uma loja do Carrefour Brasil em Recife, e o corpo foi coberto com guarda-sóis e separado do movimento de clientes por meio de caixas e barreiras improvisadas, enquanto o estabelecimento seguiu funcionando, de acordo com relatos e imagens publicados em redes sociais. Na ocasião, a empresa afirmou que a forma como tratou da ocorrência foi inadequada e pediu desculpas.
Nesse caso, o Carrefour disse que mudou orientações aos funcionários para incluir a obrigatoriedade de fechamento da loja. [nL1N2FL12S]
Em 2018, um segurança de uma das lojas da empresa no Estado de São Paulo matou um cachorro de rua que circundava o estabelecimento após golpear o animal com uma barra metálica, num caso que causou revolta em redes sociais e de organizações de defesa dos animais.